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Teatro

- Publicada em 24 de Novembro de 2022 às 18:47

Festejando 35 anos de dança

Antonio Hohlfeldt
O simples fato de uma companhia de dança alcançar 35 anos de existência é um acontecimento. Quando isso ocorre no Brasil, e muito especialmente em Porto Alegre, é ainda mais significativo. Pois foi esta a festividade justamente proposta pela Transforma Cia. de Dança, que, no palco da Sala Álvaro Moreira, mostrou uma releitura de Ecos, um de seus mais antigos trabalhos (lembrando que a companhia foi criada em 1987, por Suzana d´Ávila, e esta obra é de 1993, ou seja, cerca de seis anos depois da existência do grupo). Se houve coragem no grupo para sobreviver, ainda que certamente mudando seus integrantes, não lhe faltou igualmente coragem para programar três récitas do espetáculo, o que colocava em risco o trabalho, por eventual público dissolvido nas três noites.
O simples fato de uma companhia de dança alcançar 35 anos de existência é um acontecimento. Quando isso ocorre no Brasil, e muito especialmente em Porto Alegre, é ainda mais significativo. Pois foi esta a festividade justamente proposta pela Transforma Cia. de Dança, que, no palco da Sala Álvaro Moreira, mostrou uma releitura de Ecos, um de seus mais antigos trabalhos (lembrando que a companhia foi criada em 1987, por Suzana d´Ávila, e esta obra é de 1993, ou seja, cerca de seis anos depois da existência do grupo). Se houve coragem no grupo para sobreviver, ainda que certamente mudando seus integrantes, não lhe faltou igualmente coragem para programar três récitas do espetáculo, o que colocava em risco o trabalho, por eventual público dissolvido nas três noites.
Não foi isso, contudo, que ocorreu. Fui logo na estreia do espetáculo, e encontrei uma plateia praticamente lotada, e com gente muito entusiasmada quanto ao resultado. Pode-se supor que na estreia houvesse sobretudo convidados, em especial parentes e membros familiares dos bailarinos. Ainda assim, o espetáculo, de cerca de hora e meia de duração, embora se inicie com um ritmo lento e certa indefinição de foco no desenvolvimento da coreografia, a partir da segunda meia hora encontra seu caminho e prende a atenção e provoca a emoção do público até o seu final, onde, novamente, parece dispersar-se, com um discurso verbal que me parece totalmente dispensável, diante do impacto e da efetividade que a concepção coreográfica provocara na plateia até aquele momento. De todo modo, com acertos ou com equívocos, fica evidente que a concepção coreográfica de Suzana d´Ávila e de Pamela Agostini está bem desenhada e consciente na cabeça de suas autoras, já a partir da figura da deusa corporificada pela própria Pamela Agostini, creio eu, e cuja função dramática se afirma fortemente ao longo do espetáculo.
Ecos faz referência, evidentemente, à ecologia, termo usado pela primeira vez em 1866 e que tem a ver com o estudo da interação dos seres vivos entre si e destes com o seu meio ambiente. O tema, portanto, continua absolutamente oportuno, sobretudo quando, ao longo dos últimos quatro anos, sofremos fortemente a devastação da Floresta Amazônica, cujas reflexos não se limitam ao país, mas interferem no equilíbrio ecológico de todo o planeta. Esta releitura, assim, aponta, em primeiro lugar, para uma sensibilidade de certo modo pioneira que o grupo evidenciou lá em 1993 e que, infelizmente, perdura como necessidade de debate em 2022. De outro lado, evidencia, também, a preocupação com um balanço, uma autoanálise do grupo e de suas criadoras, no sentido de repensar o que foi feito ao longo deste tempo e o sentido que o grupo tenha, sua função social e sua repercussão estética.
É evidente que um lapso temporal de quase 30 anos deve ter mudado bastante a linguagem coreográfica, as concepções de espetáculo, os próprios bailarinos (cuja vida artística em geral é relativamente curta) e, sobretudo, as ideias em torno de determinados temas, sobretudo, este, tão significativo para a sociedade humana e a saúde planetária. É importante, assim que, ao optar por "reler" um espetáculo, o trabalho escolhido seja aquele que, dos mais antigos, evidencia-se atual em sua proposta temática, ao mesmo tempo em que permite uma revisão de linguagem.
O resultado final foi impactante. Como disse, depois de uma primeira meia hora em que não se tem ainda nenhuma definição mais evidente do que está sendo proposto, a coreografia começa a se encaminhar para um desenho mais objetivo, o tema passa a se definir e ao final o resultado é altamente feliz e eficiente.
No elenco, formado pelos atuais membros do grupo e por bailarinos convidados (certamente alguns antigos integrantes do conjunto), observamos uma harmonia e um equilíbrio de desempenho que evidenciam um bom tempo de ensaios para alcançar tal unidade. Merecem registros os figurinos de Ballare e Zerle7y de Araújo e, sobretudo, a iluminação de Karrah. Ecos, enfim, alcançou vários objetivos, como reunir diferentes gerações de bailarinos, valorizar a própria história do grupo, retomar tema contextualizado com atualidade e, enfim, mostrar que a companhia continua pujante e dinâmica, apontando para a possibilidade de continuidade de seus trabalhos, que não se limitam aos espetáculos, mas sobretudo apontam para a formação de novos bailarinos, já que a Transforma Cia. de Dança é, antes de mais nada, uma escola de dança.
 
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