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Teatro

- Publicada em 17 de Novembro de 2022 às 19:02

Exitoso, mas cansativo

Antonio Hohlfeldt
Uma edição recente da revista IstoÉ Dinheiro trazia interessante artigo assinado por Kristina Reymann-Schneider e Augusto Valente, intitulado Alguém precisa de ópera em pleno século 21?. No artigo, ficamos sabendo que a Alemanha possui 83 teatros especializados em ópera, em pleno século XXI, e que a temporada de 2019, a última antes da Covid-19, rendera 3,8 milhões de espectadores. Bem se pode calcular o dinheiro posto em circulação, desde os diferentes aspectos das produções, até a rentabilidade nas bilheterias.
Uma edição recente da revista IstoÉ Dinheiro trazia interessante artigo assinado por Kristina Reymann-Schneider e Augusto Valente, intitulado Alguém precisa de ópera em pleno século 21?. No artigo, ficamos sabendo que a Alemanha possui 83 teatros especializados em ópera, em pleno século XXI, e que a temporada de 2019, a última antes da Covid-19, rendera 3,8 milhões de espectadores. Bem se pode calcular o dinheiro posto em circulação, desde os diferentes aspectos das produções, até a rentabilidade nas bilheterias.
Este gênero originou-se, na Itália, em torno de 1600, quando as primeiras óperas, como Dafne e Euridice, a que se segue L'orfeo, foram apresentadas nos salões de côrte. Nos Estados Unidos, uns nouveaux riches, querendo desafiar a tradição, fazem construir, em fins do século XIX, o Metropolitan, que anda hoje apresenta admiráveis temporadas.
No final do século XIX aparece uma variante do gênero, ainda na Itália, a opereta, literalmente, uma ópera pequena: leve, de ritmo mais ligeiro, deveria ter finais felizes (as óperas, pela proximidade com a tragédia, sempre terminam em mortes). O novo gênero se populariza nos vaudevilles franceses ou, quando surge o cinema falado, nos grandes musicais da Broadway, especialmente ao longo da II Grande Guerra.
Consta que o Theatro São Pedro, construído entre 1850 e 1858, estaria destinado a receber temporadas operísticas. Ao longo de seus 164 anos de vida, certamente cumpriu este que se tornou apenas um de seus objetivos. E assim tivemos a oportunidade, recentemente, de assistirmos a uma atualizada e criativa versão de O morcego, a maior criação de Johann Strauss Filho, iniciativa do maestro Evandro Maté, para a nossa Ospa. Mantiveram-se os três atos, mas o réveillon original foi inteligentemente transformado num baile festivo à passagem dos 250 anos da cidade de Porto Alegre. Todo o texto, em sua adaptação, tem a responsabilidade de Flávio Leite, naquilo de meritório e naquilo de equivocado que tenha acontecido. Seja como for, a experiência e o saldo são importantes e evidenciam que, sim, ainda há espaço, lugar e interesse para a ópera e seus derivados em pleno século XXI. As três sessões de O morcego tiveram o teatro totalmente lotado e, embora tenha havido consenso quanto a alguns equívocos de concepção, de modo geral, a equipe de produção acertou em cheio.
A atualização proposta por Flávio Leite aproximou, sem dúvida, o roteiro, inclusive nas suas liberdades de expressões de referências imediatas para o público, de modo que o final do primeiro ato, com quase uma hora de duração, foi quase apoteótico. O segundo ato, que em geral é o principal momento da encenação, procurou manter a criatividade, mesclando a tradição operística europeia com valores musicais locais, trazendo nomes consagrados como Renato Borghetti, Isabela Fogaça e Hique Gomez, em passagens solo. O público gostou, os músicos convidados mostraram porque são queridos, e a encenação continuou.
No terceiro ato ocorreram equívocos, menos de concepção do que se duração. Em geral, o último ato é curto, mas aqui, a cena da prisão, ao invés de durar dez, ocupou cerca de trinta minutos. Embora Henrique Cambraia seja um criador excepcional de tipo, ele tem dois problemas a resolver: o perigo de ficar preso a um único tipo e não saber controlar o tempo. Neste caso, a culpa foi menos dele do que de Flavio Leite, diretor de cena. Seja como for, a encenação perdeu o ritmo, o público cansou e o entusiasmo diminuiu.
Em resumo: Evandro Maté tem evidenciado coragem e disposição para inovar e rejuvenescer o gênero operístico, e isso, desde aquelas encenações justamente das pioneiras óperas de câmara italiana que ele realizou. Agora, explora a opereta: entendeu bem que é um gênero popular e buscou aproximá-la ainda mais do público. Numa próxima vez, e espero que haja, precisa apenas controlar mais o tempo.
Uma última palavra de extremo entusiasmo ao elenco: Thayana Roverso, como a empregada Adele, foi estupenda; Daniel Germano, como Eisenstein, me surpreendeu positivamente; Lazlo Bonilla, como Alfredo, é brilhante. Todos os intérpretes evidenciaram qualidades musicais, o que seria de se esperar, mas sobretudo imensas qualidades histriônicas e dramáticas, o que em parte deve ser creditado ao diretor de cena, Flávio Leite. Em resumo, apesar de alguns equívocos, a iniciativa só pode merecer aplausos e devemos torcer para que outras nos sejam oportunizadas.
 
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