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Teatro

- Publicada em 13 de Outubro de 2022 às 18:09

O pulsar de Cadica Costa e sua companhia

Antonio Hohlfeldt
A companhia de dança de Cadica Costa foi criada em 1993. Ela agrega ainda atividades pedagógicas variadas. Em 2020, o então novo espetáculo Pulsar, que iniciava sua turnê, foi interrompido por causa da Covid-19 e só retomado recentemente. Eu nunca havia assistido a um trabalho da companhia e tive um enorme impacto: surpresa e admiração.
A companhia de dança de Cadica Costa foi criada em 1993. Ela agrega ainda atividades pedagógicas variadas. Em 2020, o então novo espetáculo Pulsar, que iniciava sua turnê, foi interrompido por causa da Covid-19 e só retomado recentemente. Eu nunca havia assistido a um trabalho da companhia e tive um enorme impacto: surpresa e admiração.
Pulsar é uma proposta muito objetiva e renovadora: mescla as danças gauchescas com o ritmo flamenco. Para mim, Cadica era sinônimo do flamenco, e daí a primeira surpresa. A segunda veio da renovação de ponta apresentada pelo espetáculo: modernizar, talvez seja melhor dizer atualizar e contemporaneizar as propostas das danças gauchescas e das danças flamencas - a última, genuinamente popular e com raízes centenárias; a outra que, fazendo parte do que se denomina de "tradições inventadas", de qualquer modo já fechou mais de 50 anos de desenvolvimento e tem um entranhamento universal que surpreende. Mas Cadica e, agora, a filha Emily Borghetti, que assina a concepção do espetáculo, as coreografias e faz parte do elenco, querem mais do que propor encontros e assimilações/mestiçagens. Elas propõem uma releitura que amplie as possibilidades de cada uma das experiências tradicionais. O resultado é estupendo.
Por fim, registre-se que é emocionante, significativo - e deve ser profundamente valorizado - o fato de que Cadica, com este trabalho, passa o bastão de comando da companhia de dança à filha que, por sua vez, filha também do invejável Renato Borghetti consolida e evidencia a pujança desta herança. A cultura gaúcha original de Cadica e Renato abriu-se para a experiência flamenca de Cadica que, neste novo momento, propõe um reencontro e uma releitura: a simbiose de ambos os ritmos e tradições culturais, num resultado final que, me contava, entusiasmada, uma produtora cultural local que assistia comigo à encenação, deveria viajar não apenas o Brasil quanto todo o continente e o mundo, porque Pulsar, se tinha raízes regionais variadas, agora se tornou um trabalho de amplitude verdadeiramente universal.
A companhia é ritmicamente perfeita. Como não conheço o grupo, tive a impressão de que pelo menos dois bailarinos gaúchos foram incorporados ao grupo para viabilizar o espetáculo, mas possuem origem diversa. Se eu estiver certo, a alternativa buscada por Cadica e Emily mostra estarem certas; se errei nesta presunção, fica também a evidência de que bailarinos com eventual formação de dança clássica ou de coreografias regionais podem conviver com intérpretes de outras formações e experiências. Seja lá o que ocorreu, de fato, o resultado é unitário: o grupo é tão bom com as castanholas quanto com as bombachas e os vestidos rodados de chita.
No quesito da releitura e modernização, destaque-se, ainda, a proposta de quebrar convenções que dizem que o homem dança deste modo e a mulher daquele outro. Em algum momento, os pares se formam com intérpretes do mesmo sexo, assim como um bailarino é capaz de perambular em cena - aliás, excelente passagem, pela dignidade e cadência do movimento - vestido como uma autêntica flamenca.
Por fim, registre-se o mérito da trilha sonora, não apenas na escolha das composições, quanto em seus arranjos, que revigoraram e revelaram outras potencialidades daquelas composições, inclusive abrindo caminho para outras experimentações.
Valorizando o espetáculo, a ambientação cênica foi tão simples quanto eficiente: no pano de fundo, algumas fitas caídas sobre as quais se projetam imagens de um vídeo. Talvez aqui um reparo: a coluna de spotlights do fundo poderia avançar um pouco mais para o centro do palco, afim de permitir melhor visibilidade e valorização das imagens projetadas. Assim, inclusive, a cena de abertura, em que a mãe aparece com as crianças, multiplica-se quando Cadica dança com a filha Emily e lhe passa o bastão, simbolizado no leque, momento emocionante do espetáculo.
Quem escolheu a expressão Pulsar para batizar ao espetáculo foi muito feliz. O espetáculo tem ritmo, evidencia pulso (segurança) de direção mas, sobretudo, traduz, com fidelidade, a dinâmica do grupo e deste trabalho: gerações se sucedem ampliando e qualificando o trabalho artístico.
 
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