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Teatro

- Publicada em 25 de Agosto de 2022 às 18:08

As lições de Sirmar Antunes

Antonio Hohlfeldt
Nascido em 1955, na cidade interiorana de Medianeira, perto de Ajuricaba e Catuípe, Sirmar Antunes, nos anos 1970, começou a fazer teatro amador, na cidade de Canoas. Suas primeiras atuações ocorreram em espetáculos de rua. Certamente não era nem seria fácil, para um negro, encontrar ou fazer espaço na carreira artística de ator. Entre 1972 e 1975, ficou no teatro amador. Mas em 1976 ganhou uma primeira oportunidade de cachê, ao interpretar Como revisar um marido Oscar. Em 1977 houve o reconhecimento da profissão de ator e Sirmar Antunes imediatamente sindicalizou-se.
Nascido em 1955, na cidade interiorana de Medianeira, perto de Ajuricaba e Catuípe, Sirmar Antunes, nos anos 1970, começou a fazer teatro amador, na cidade de Canoas. Suas primeiras atuações ocorreram em espetáculos de rua. Certamente não era nem seria fácil, para um negro, encontrar ou fazer espaço na carreira artística de ator. Entre 1972 e 1975, ficou no teatro amador. Mas em 1976 ganhou uma primeira oportunidade de cachê, ao interpretar Como revisar um marido Oscar. Em 1977 houve o reconhecimento da profissão de ator e Sirmar Antunes imediatamente sindicalizou-se.
Falecido no último dia 6 de agosto, Sirmar Antunes decidira, naquela época, que se tornaria ator profissional. E veio para Porto Alegre, iluminado pela figura de Grande Otelo, que era seu grande referencial. Encontrou espaço no Teatro de Arena.
Sindicalizado, em 1978 integra o elenco de dois espetáculos, ambos assinados pelo diretor Luciano Alabarse, O evangelho segundo Zebedeu, de César Vieira, que ganhara um prêmio de dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro, e Os dragões do 31º dia, do jornalista Luiz Fernando Emediato. Outro espetáculo de que participou, já em 1983, foi Calabar, de Ruy Guerra e Chico Buarque, dirigido por Dilmar Messias, a quem conheceu justamente no Sindicato de Atores.
Mas Sirmar queria mais. Foi para São Paulo, e ali fez teatro, tornou-se arte-educador, descobriu a televisão, onde fez de tudo um pouco e, enfim, chegou ao cinema. Na verdade, hoje em dia, olhando-se para trás, pode-se dizer que ele é mais conhecido como ator de cinema do que de teatro. Eu próprio guardo a primeira imagem de Sirmar Antunes no filme O dia em que Lourival encarou a guarda, de José Pedro Goulart e Jorge Furtado, baseado em passagem de um romance de Tabajara Ruas. Aliás, com Tabajara Ruas ele protagonizaria vários filmes, trabalhando também com aqueles diretores mais referenciais do cinema sul-rio-grandense, como Paulo Nascimento, Henrique de Freitas Lima e o próprio Tabajara Ruas. Ganhou prêmios, teve reconhecido o seu protagonismo e manteve o vínculo que justificava suas atividades: o movimento negro. Sempre se preocupou com as questões sociais do país e, muito especialmente, com os preconceitos enfrentados pela população negra brasileira e especialmente sul-rio-grandense.
Sirmar Antunes podia encarnar um sanguinário personagem, sobretudo se devidamente maquiado. Mas, mal abria a boca, não conseguia esconder uma simpatia e uma certa tendência à malícia típicas do mitológico Saci Pererê ou o ibérico Pedro Malasartes. Sirmar Antunes poderia viver um guerreiro valente e intrépido, mas não deixava de ter uma postura de auto-crítica em relação aos personagens, de modo que ele sempre acabava sendo uma figura bastante positiva para o espectador, porque traduzia humanidade e um sentimento de compreensão para com os seus antagonistas.
Sirmar Antunes, por outro lado, e embora sempre tenha reivindicado o protagonismo do ator, negro, nunca viveu personagens que fossem apenas e simplesmente negros. Pelo contrário, eles eram negros, sim, mas a plateia os admirava para além disso, ele fazia com que suas figuras incorporassem um espírito épico que consagrava o personagem de tal modo que a negritude se tornava uma condição sem a qual o próprio personagem inexistiria. Ele não precisaria ser negro, mas sem ser negro, não alcançaria aquela grandeza humana e muito próxima de cada um de nós, que seus personagens sempre tão bem incorporaram.
Conhecido e admirado nacionalmente, não obstante, Sirmar Antunes vivia na Casa do Artista Rio-grandense, porque, nos últimos anos, não tinha como se sustentar. Foi ali que teve um ataque cardíaco fulminante. Mas foi num espaço próximo de seus companheiros, com quem certamente não apenas se identificava, quanto com quem repartia memórias, experiências e admiração. Sirmar Antunes foi um verdadeiro personagem das artes cênicas do Rio Grande do Sul. Felizmente, seus filmes aí ficam, assim como muitos vídeos de suas interpretações no palco do teatro.
Reconhecido nos últimos anos de vida, foi entrevistado por Zeca Britto, um de seus diretores, aliás, num programa de mais de uma hora de duração, no Observatório IECINE, em 2021, pouco antes de viver, talvez, sua última peça teatral, O coração de um boxeador, em 2012, texto do alemão Lutz Hübner, direção de Celso Veluza, que cumpriu temporada no Instituto Goethe. Última lição de sabedoria de palco, interpretava um personagem praticamente entrevado, mas sabia ocupar todo o espaço do palco. Inolvidável. Todos precisamos aprender com Sirmar Antunes, sobretudo agora que ele não está mais fisicamente entre nós. Suas lições e sua dedicação, contudo, permanecerão sempre, felizmente.
 
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