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Teatro

- Publicada em 28 de Julho de 2022 às 17:41

O retorno de um dramaturgo argentino

Antonio Hohlfeldt
O diretor Breno Ketzer já havia encenado, do dramaturgo argentino Daniel Veronese, em 2015, um drama intitulado Formas de falar das mães dos mineiros enquanto esperam que seus filhos saiam à superfície. Ketzer volta a visitar este dramaturgo, de obra prolífica, que se dedica igualmente a trabalhar com teatro de objetos, mostrando um texto bem diferente daquele, porque mais próximo à linha do teatro do absurdo e do non sense, que é este Teatro para pássaros, que estreou na semana passada no teatro do CHC Santa Casa. No sábado, ao menos, quando assisti ao espetáculo, casa cheia e entusiasmo para um espetáculo de mais de hora e meia de duração, com seis personagens em cena.
O diretor Breno Ketzer já havia encenado, do dramaturgo argentino Daniel Veronese, em 2015, um drama intitulado Formas de falar das mães dos mineiros enquanto esperam que seus filhos saiam à superfície. Ketzer volta a visitar este dramaturgo, de obra prolífica, que se dedica igualmente a trabalhar com teatro de objetos, mostrando um texto bem diferente daquele, porque mais próximo à linha do teatro do absurdo e do non sense, que é este Teatro para pássaros, que estreou na semana passada no teatro do CHC Santa Casa. No sábado, ao menos, quando assisti ao espetáculo, casa cheia e entusiasmo para um espetáculo de mais de hora e meia de duração, com seis personagens em cena.
Teatro para pássaros trabalha vários enredos simultaneamente. Há três casais em diferentes crises conjugais, todos reunidos no apartamento da pretendida dramaturga e atriz Teresa (Áurea Baptista) e seu companheiro Marcos (Vinicius Petry). Eles aguardam ansiosos a visita de outro casal, formado pelo produtor Toni (Evandro Soldatelli) e sua atual companheira Yasmin (Raquel Zepka), por seu lado, ex-companheira de Marcos. Por fim, o terceiro casal é formado pelo irmão da atriz e dramaturga, Rick (Dionísio Farias) e sua companheira Glória (Carla Cassapo), em vias de abandoná-lo. Enquanto Teresa quer dar um salto qualitativo, tornando-se dramaturga, mas para isso depende do produtor. Este se revela um homem medíocre, invejoso e imune a qualquer sentimento de simpatia humana, humilhando a todos que com ele convivam. Do outro lado, Rick é um fanático defensor da irmã, mas com um comportamento infantil e dependente da companheira. Os fios dramáticos vão se tecendo e complicando, enquanto, na rua, as coisas também se complicam: um segundo porteiro do prédio em que se encontram acaba de se suicidar (?), seguindo-se ao que se matara na semana anterior.
Colocado assim, o enredo apenas evidencia tramas complexas, anda que eficientemente cruzadas. Mas tudo vai depender do ritmo do espetáculo que, por seu lado, depende das decisões do diretor e da competência dos intérpretes. O enredo toca em questões muito contemporâneas quanto à desumanidade e ao egoísmo das pessoas, mas, para que isso funcione de fato, dramaticamente, precisa que a gente volte àquele conceito de "teatro bem feito" que a França criou ao final do século XIX, início do século XX. Por eu ter assistido ao segundo espetáculo da temporada, infelizmente, isso ficou bastante prejudicado. Em geral, os grupos estreiam com aquele máximo de adrenalina mas, em geral, na segunda récita, o ritmo cai um pouco, para ser retomado nas apresentações seguintes. Foi o que observei na encenação a que assisti. É evidente que cada um dos intérpretes domina muito bem seu papel e seu texto (e isso é fundamental para que o espetáculo tenha ritmo), mas também foi visível que nem sempre conseguem o necessário entrosamento, daquele tipo de fala/resposta que esse tipo de espetáculo exige, sem o qual perde o pique e se arrasta.
A encenação é simples, como há tempos não se via: uma simples sala, com saídas para o corredor do prédio ou para a área interna do apartamento. Os personagens vão entrando à medida em que o enredo se desenvolve, e depois se revezam em vários momentos, fazendo com que as intriga tenha momentos de alta e de baixa, concentrando atenções ou as diminuindo. Do ponto de vista da dramaturgia, está bem pensado. Do ponto de vista da direção e das interpretações, isso também precisa acontecer, refletindo e dinamizando o texto. Nem sempre aconteceu o tempo todo, o que significa uma retomada dos ensaios antes que o espetáculo volte à cena.
De qualquer modo, Breno Ketzer mostra uma sensibilidade muito grande para a escolha de textos. Já houve uma estreia em São Paulo deste mesmo texto, o que mostra que, gradualmente, alguns dramaturgos argentinos vão encontrando acolhida em nossos diretores. Neste sentido, Ketzer empresta uma enorme contribuição. Ele, que é também ator, certamente sabe e identifica corretamente os desafios de um espetáculo como tal. Tenho certeza que, nos próximos dias, alcançará este ponto ideal. Com o quê o público ganhará na qualidade do espetáculo, na medida em que ficarão mais evidentes as ironias e as incongruências dos personagens e das situações.
 
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