"Retira, Retira!" Com esses gritos, entoados pelo público presente, terminou a segunda audiência pública para tratar da proposta de concessão do Parque da Redenção, na noite desta quarta-feira, na Câmara Municipal. "Retira", aliás, foi a palavra mais gritada pelo público ao longo das quase três horas do encontro, num pedido para que a prefeitura não leve adiante o edital que pretende entregar a gestão do parque para a iniciativa privada por 30 anos.
“Podemos divergir do modo, mas nosso objetivo (de cuidado com o parque) é o mesmo", disse a secretária de Parcerias, Ana Pellini, após mais de 20 manifestações, todas contrárias à proposta. "Não é não" foi a reação imediata dos presentes na reunião, que lotaram o espaço do plenário Ana Terra, menor que o espaço usado para realizar as sessões parlamentares. A proximidade dos participantes entre si e com a mesa, formada por autoridades do governo, contribuiu para deixar o clima mais quente do que nas noites anteriores.
Pouco antes, a secretária afirmou que considera válida “essa manifestação toda”. Para ela, “o pior dos mundos é quem não ama” o parque. Ela tentou, mas não conseguiu falar devido aos gritos de protesto a cada nova frase sua em defesa do projeto. “Não há ambiente aqui”, disse por fim.
As respostas aos questionamentos serão publicadas junto as da consulta pública, informou a secretária, que se dispôs a comparecer a um encontro na própria Redenção. Outro momento para seguir com o debate será uma nova audiência pública no Bairro Lami, onde fica um trecho da orla do Guaíba que está no pacote da concessão atrelado ao parque. Ainda não há data definida para nenhuma das duas atividades.
Oposição endossa críticas
Assim como nas noites de quinta e sexta-feira da semana passada, quando começaram os debates públicos sobre a concessão, políticos de oposição ao governo municipal usaram a tribuna para criticar a proposta. Para Sofia Cavedon, deputada estadual pelo PT, a audiência não pode servir para “cumprir protocolo” e “as manifestações contrárias têm que ter algum valor”. Seu pedido por um plebiscito foi ecoado pelo público, que já havia levantado a ideia em outros momentos do debate.
Deputado estadual eleito, Miguel Rossetto (PT) falou diretamente a Ana Pellini quando disse que “não é feio, secretária, quando um governo reconhece seu erro, volta atrás, escuta a população”. Para Marcelo Sgarbossa (PV), vereador suplente, “a partir do momento que implementar essa ideia, que vai separar ainda mais a cidade de ‘quem pode comprar’ e ‘quem não pode’ comprar, os eleitores, inclusive do prefeito Sebastião Melo, começarão a entender os erros da prefeitura”. Não tinha parlamentares favoráveis ao projeto presente na audiência.
A proposta do governo Melo é entregar a gestão de áreas públicas para a iniciativa privada por 30 anos, no modelo de concessão por maior oferta de outorga fixa. O futuro concessionário terá autorização para a exploração comercial da área. Além da Redenção e do Lami, que formam o lote 1, há também projeto para o lote 2, formado pelo Parque Marinha e o trecho da orla do Guaíba que fica ao lado.