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Opinião Econômica

Publicada em 29 de Setembro de 2025 às 19:22

Ambipar: gigante verde mina a confiança dos investidores

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Agências
Marcos de Vasconcellos, jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado
Marcos de Vasconcellos, jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Abrir capital na Bolsa de Valores do Brasil exige uma montanha de processos e dinheiro. Ao mesmo tempo que isso afasta aventureiros, diminuindo o risco de insolvência, torna nosso mercado de ações minguado, com cerca de 400 companhias.
Isso praticamente impede a existência das penny stocks (ações de centavos), famosas no mercado dos Estados Unidos. No caso dessas companhias minúsculas, a multiplicação do preço de seus papéis por milhares de vezes, da noite para o dia, com a descoberta de uma nova tecnologia, uma mudança de fornecedor ou mesmo uma notícia, é quase corriqueira. Assim como o fechamento de portas, na mesma velocidade.
Como aqui são poucas (e graúdas) companhias, o encerramento de uma delas vira manchete de jornal. Assim também deveria ser no caso de uma hipervalorização a jato. Muitas vezes, o que vem a seguir desse tipo de movimento é um encolhimento e, posteriormente, a descoberta de fatores "pouco republicanos" a inflar os preços.
Entre junho e dezembro do ano passado, vimos o preço de um papel disparar mais de 3.000%, de uma empresa considerada "boring" (chata, em inglês) por analistas, por ser de um mercado normalmente sem muitas emoções –ao contrário de uma rede de supermercado ou de uma petroleira, sujeitas a muitas variáveis econômicas e operacionais.
A valorização a vapor se deu nas ações da Ambipar (AMBP3), gigante "verde", de soluções ambientais, como gestão de resíduos e logística reversa. Sem querer parecer arrogante, lembro que na época dos fatos, publiquei uma coluna com o título: "Ação verde subiu 3.000%, mas com cheiro azedo".
De lá para cá, o preço caiu muito, comprovando que sua alta era artificial. E a investigação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre o caso terminou em pizza, por falta de provas de que os fundos que ajudaram a inflar o preço estivessem operando de forma coordenada com os controladores da empresa. Entre os fundos, aliás, está o Trustee DTVM, investigado na operação Carbono Oculto, que identificou operações do PCC na Faria Lima.
O julgamento na CVM, aliás, foi decidido com voto de desempate do presidente do colegiado. Causou estranheza o fato de ter havido a troca da presidência no decorrer do caso. O diretor que ocupava o cargo no começo do julgamento votou pela condenação dos acusados, mas o que assumiu a posição posteriormente votou pela absolvição. E a turma teve que discutir inclusive qual deles serviria pelo desempate. Prevaleceu o argumento de que nada poderiam fazer.
Depois de a CVM dizer que nada ali deveria ser feito, a Ambipar voltou aos holofotes, na semana passada. Agora, com uma queda de 60% do preço de suas ações em um mesmo dia. O desabamento se deu com a divulgação de uma decisão liminar que permitiu à empresa se proteger contra credores que detêm títulos de dívidas no valor de US$ 550 milhões (quase R$ 3 bilhões).
Os últimos resultados divulgados mostravam mais de R$ 2,5 bilhões em caixa. Outros R$ 2 bilhões estariam em fundos que poderiam ser resgatados de 30 a 60 dias. Mas o pedido para suspender a dívida acendeu nova luz amarela sobre quão confiáveis são os números.
Diretor jurídico, diretor de relações com investidores e diretor financeiro (CFO) já pularam do barco. Sobrou o mico na mão do investidor que acreditou que a alta do fim do ano passado era real. Do pico para cá, a queda foi de quase 70%.

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