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Opinião Econômica

- Publicada em 22 de Janeiro de 2023 às 20:22

Americanas volta à mesa dos populares?

Marcos de Vasconcellos
Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado
Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado
Em apenas oito dias, as ações da Americanas (AMER3) conseguiram a proeza de sair da mesa dos queridinhos e ocupar a impopular bancada das empresas em recuperação judicial na Bolsa. Tem agora como "vizinhas" a livraria Saraiva (SLED4); a gigante do amianto, Eternit (ETER3); e a Teka (TEKA3), das roupas de cama, mesa e banho.
Entrar em recuperação judicial tem suas vantagens, mas a valorização das ações dificilmente é uma delas. O instituto serve para travar cobranças, facilitar as negociações e permitir à empresa colocar-se de volta nos trilhos, ainda que em marcha lenta. E quem gosta de marcha lenta no mercado de ações? Pergunte à Oi.
Quando a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da ex-gigante da telefonia, em 2016, as ações OIBR3 custavam coisa de R$ 1,52. Durante o período da recuperação, em meio a muita especulação, chegaram a passar de R$ 4,40. Quando saiu da maratona, há mais ou menos um mês, o preço da OIBR3 na Bolsa era de R$ 0,17. Dezessete centavos!
Agora, em janeiro, para tentar segurar um pouco o sobe-e-desce de preços (volatilidade), a Oi agrupou suas ações na proporção de 10 para 1. Ou seja, quem tinha dez papéis, passou a ter um só. O preço equivalente a eles continuou caindo.
A história não foi mais bondosa com a livraria Saraiva (SLED4). Negociadas na faixa dos R$ 1,80 quando a empresa entrou em recuperação -- em novembro de 2018 --, as ações chegaram à casa dos R$ 0,20, antes de serem agrupadas na generosa proporção de 35 para 1, no fim de 2021. Hoje, uma ação (que equivale a 35 papéis de 2018) está saindo entre R$ 1,70 e R$ 1,80.
O risco para quem compra ações de empresas em recuperação está também nas possibilidades de mudanças bruscas no direcionamento dessas empresas. É comum que os planos de recuperação, que precisam ser aprovados pelos credores e pela Justiça, sofram alterações ao longo do tempo. Com isso, o foco da empresa acaba mudando, junto com sua perspectiva de retorno.
Em outras palavras, viram "papéis de eventos". Uma notícia acaba tendo o poder de virar o preço da ação de ponta-cabeça. O que é incomum para blue chips, as queridinhas da Bolsa.
Um ponto que precisa ser analisado por quem quer tomar o risco de investir numa empresa em recuperação é o valor de liquidação da companhia. Ou seja: se ela quebrar hoje, a venda de todos os seus bens dá conta de pagar todas as suas dívidas e, ainda, seus acionistas?
Tentando ignorar os balanços da empresa, olhando apenas para os gráficos das ações da Americanas, o analista técnico Bo Williams, da casa de análise PhiCube, não hesita em dizer: "O preço da ação entrou na região em que é proibido comprar".
E isso não vale só para os papéis AMER3. Os títulos de crédito privados das Americanas, por exemplo, estão na carteira de diversos fundos de investimento, inclusive de previdência, que deveriam, por princípio, ser o mais resguardados desse tipo de impacto possível.
Até agora, com as poucas informações divulgadas pela Americanas desde que a companhia decidiu revelar o rombo em seus balanços, parece que a intenção é trabalhar para voltar a sentar à mesa com as empresas mais populares da Bolsa.
Ao contratar a ex-diretora financeira (CFO) da Oi e da Tim, Camille Loyo Faria, para cuidar dos seus balanços, a varejista sinaliza que gostou do que foi feito na empresa de telefonia durante seu processo de recuperação. Acusações contra a executiva na CVM e na operação Greenfield trazem um pouco insegurança a investidores, mas, apesar de desvalorizada e fatiada, a Oi conseguiu sair do time da recuperação judicial. Ainda longe de ser uma queridinha.
 
Marcos de Vasconcellos
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