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Opinião Econômica

- Publicada em 17 de Janeiro de 2023 às 20:14

Vale a pena investir em COEs?

Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães
Cresceram muito nos últimos anos os investimentos em COEs (Certificados de Operações Estruturadas). A rentabilidade de um COE depende da variação nos preços de uma ou mais ações. Cada um tem suas regras.
Vale a pena investir em COEs?
Idealmente, decidiríamos sobre investimentos sabendo os riscos e o rendimento médio de cada produto.
O problema é que calcular o rendimento médio de um COE é muito difícil.
Antes de mais nada, seria preciso saber as características das ações do COE: a valorização média; quanto elas oscilam em geral; e como as oscilações delas se relacionam. Tecnicamente, seria preciso estimar a média, a variância e as covariâncias das variações nos preços dessas ações.
Depois, seria preciso simular muitas trajetórias possíveis dessas ações e obter os retornos do COE em cada uma delas. Aí, tirando a média, chegaríamos ao rendimento esperado.
Claro está, para quem não estuda ou trabalha com isso, calcular o retorno esperado de um COE é como se lembrar de coisas que ninguém viu. É impossível.
Mas eu estudo e trabalho com isso.
Então, eu, Otavio Bitu e Bruno Giovannetti calculamos os retornos esperados dos COEs vendidos pela maior distribuidora do mercado para pessoas físicas nos últimos anos (bit.ly/3ZFc5xG). Foram uns 2.000 produtos.
Um primeiro resultado é que a maioria dos COEs tem rendimento esperado inferior ao de um título público no Tesouro Direto.
Há, porém, bastante heterogeneidade entre os COEs.
Podemos classificar os COEs em dois tipos.
Os COEs do primeiro tipo são mais simples: em linhas gerais, se o preço das ações do COE sobe, o investidor recebe um retorno positivo ao final do período; se as ações se desvalorizam, o investidor não ganha, mas também não perde dinheiro, ou perde só a inflação.
Esses produtos reduzem o risco de investir em ações, mas também reduzem o retorno.
Uma alternativa seria comprar um ETF com parte do dinheiro e investir o resto no Tesouro Direto. Em média, essa alternativa vai render um pouco mais. Além disso, você tem liquidez, pode vender seu investimento facilmente se precisar.
Essa alternativa, porém, não oferece principal garantido. Se isso é importante para a sua paz de espírito, um COE pode ser uma boa.
Nesse caso, um COE que te dá um rendimento atrelado a um índice de ações tende a ser melhor que um COE que te dá um rendimento atrelado a uma ação individual. Isso porque o índice de ações considera várias empresas diferentes e, portanto, dilui o risco. Em geral, algumas ações vão bem e outras vão mal.
Um segundo tipo de COE é mais complicado. Aqui vai um exemplo: se as ações da Apple, do Facebook e da Netflix se valorizam no semestre, o COE paga um belo retorno e acaba. Se pelo menos uma não se valoriza, o COE continua. Esse processo se repete a cada seis meses. Se ao final de dois anos o COE ainda continua, o dinheiro é devolvido, sem juros.
Esses COEs complicados, com vencimentos incertos, são ruins. Praticamente todos eles rendem menos que um investimento no Tesouro Direto, livre de risco. Não valem a pena.
Por que os desse tipo são tão piores que os outros? Essa é uma boa pergunta com uma resposta interessante, mas é assunto para uma outra coluna.
Essa questão tem implicações para a regulação do mercado financeiro.
Um investidor não recebe informações suficientes para uma boa decisão. Quem produz biscoitos precisa colocar na embalagem quantas calorias, gordura e sódio tem seu produto. O emissor do COE deveria ter que informar aos compradores o retorno esperado de seu produto, calculado de maneira determinada pela regulação.
Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
jc
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