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Opinião Econômica

- Publicada em 22 de Novembro de 2022 às 20:55

Na torcida para nossa seleção ser nossa

Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães
Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
A Copa do Mundo começa com o Brasil dividido em tribos políticas. Pode o Mundial amenizar essa polarização e reduzir o escopo para conflitos? A torcida pela seleção pode fazer com que nós nos vejamos um pouco mais como brasileiros e um pouco menos como membros da tribo?
Artigo acadêmico de Emilio Depetris-Chauvin (PUC-Chile), Ruben Durante (Icrea, Barcelona) e Filipe Campante (Johns Hopkins), publicado no American Economic Review, em 2020, coloca uma resposta otimista a essa pergunta.
Os autores estudam como as seleções de futebol dos países africanos afetam a identificação das pessoas com o país e a possibilidade de conflitos étnicos.
Muitos países da África abrigam múltiplas etnias, e conflitos por vezes ocorrem. Além disso, há uma edição da Copa Africana de Nações a cada dois anos. Isso faz do continente uma boa fonte de dados para análises estatísticas que buscam entender efeitos em conflito e identidade.
O artigo começa comparando respostas a questionários logo antes e logo depois de um jogo de futebol. Quando a seleção do país vence, há uma redução no número de pessoas que se sentem fortemente identificadas com o grupo étnico. Cresce a identificação das pessoas com o país.
Além disso, uma vitória da seleção nacional também leva as pessoas a reportar mais confiança em pessoas de outras etnias.
Mas será que essas respostas a questionários se traduzem em ações?
A segunda parte do artigo estuda como triunfos da seleção nacional afetam conflitos. Usando técnicas estatísticas, eles comparam países que se classificaram para a Copa Africana de Nações por pouco com países que quase se classificaram, mas ficaram de fora.
A classificação para a Copa Africana de Nações está associada a uma redução na quantidade reportada de conflitos. O número de ocorrências cai em quase 10%.
Futebol, claro, não resolve os problemas, mas o estudo indica que triunfos da seleção ajudam um pouco a unir o país.
Um exemplo frequentemente citado de influência da seleção de futebol nos conflitos e na política de um país é a qualificação da Costa do Marfim para a Copa do Mundo de 2006.
Em 2002, o país tinha chegado ao ponto de guerra civil. Os conflitos armados não duraram muito, mas as tensões persistiam. Assim estava o país em 2005, quando a seleção conseguiu uma dramática qualificação para a Copa.
No vestiário, o artilheiro e estrela do time, Didier Drogba, grande homem de movimento, fez um discurso de um minuto que entrou para a história. Ao lado dos outros jogadores, ele pedia que seus conterrâneos perdoassem uns aos outros, buscassem paz e realizassem eleições.
Claro que isso não encerrou conflitos e trouxe paz ao mundo.
Mas acredita-se que a vitória de uma seleção com integrantes dos diferentes grupos do país, junto com o apelo por paz, fez com que pessoas passassem a se identificar um pouco mais com o país e um pouco menos com seu grupo. Isso teria reduzido a disposição para conflito.
O trabalho de Depetris-Chauvin, Durante e Campante mostra que os dados corroboram essas crenças.
Os autores também mostram que os efeitos dependem de características do país e da seleção nacional. É difícil saber como será o efeito no Brasil de hoje. Mas, para mim, isso traz mais um motivo para torcer pela seleção.
Seria muito legal que, com a Copa do Mundo, a camisa da seleção canarinho voltasse a representar o país inteiro.
 
jc
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