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Opinião Econômica

- Publicada em 08 de Setembro de 2022 às 00:35

PIB melhor, inflação menor: até quando?

Solange Srour
Solange Srour
Economista-chefe de Brasil do banco Credit Suisse. É mestre em economia pela PUC-Rio.
A divulgação do PIB na semana passada mostrou que a economia continua crescendo com força, avançando 1,2% em relação ao primeiro trimestre. Os dados promoveram nova revisão das projeções para o crescimento de 2022.
As mais otimistas apontam para uma expansão perto de 3%, e as mais cautelosas, para uma alta entre 2% e 2,5%. No começo do ano, as estimativas para o aumento do PIB estavam perto de zero ou indicavam recessão.
Ao mesmo tempo, temos observado uma redução significativa da inflação esperada para 2022. A pesquisa do Focus (realizada pelo BC com participantes do mercado), que chegou a apontar uma alta de 8,9% para o IPCA deste ano, está hoje em 6,6%.
A combinação entre PIB em alta e inflação em baixa é inusitada, principalmente quando a taxa de desemprego se encontra cerca de 3 pontos percentuais abaixo da média dos últimos cinco anos.
Alguns fatores podem explicar a surpreendente recuperação da atividade econômica: liberação do FGTS, antecipação do abono salarial, queda de impostos, uso da poupança acumulada durante a fase de restrições à locomoção, renda gerada pelo boom de commodities e efeitos ainda defasados da reabertura da economia.
Já a queda das expectativas de inflação ocorreu, principalmente, em resposta ao corte de impostos (em especial à redução do ICMS sobre combustíveis e eletricidade) e à diminuição no preço da gasolina, resultante do recuo observado no mercado internacional.
Nem a atividade nem a inflação têm respondido ao aperto dos juros iniciado em março de 2021. Apesar de o juro real estar perto de 6% (nível considerado restritivo), a capacidade ociosa da economia tem ficado cada vez menor, e alguns modelos apontam que a economia já opera acima da sua capacidade produtiva.
Com as medidas de núcleo da inflação -aquelas que buscam captar a tendência dos preços desconsiderando efeitos de choques temporários- em 10% nos últimos 12 meses (o mesmo valor dos últimos 3 meses anualizados), é difícil argumentar que a inflação esteja sofrendo algum efeito de uma demanda mais fraca.
Passados os efeitos da reabertura e da transmissão da queda de algumas commodities para os preços, será muito difícil continuar com o uso de medidas ad hoc que estimulem a economia e freiem a inflação sem gerar uma crise de confiança na sustentabilidade da dívida pública.
Do ponto de vista fiscal, depois de termos sido beneficiados por surpresas positivas do lado da receita, decorrentes tanto do aumento da inflação quanto da forte alta dos preços de commodities, não há mais espaço para redução da carga tributária.
Já comprometemos o resultado primário das contas públicas do ano que vem com uma enorme renúncia de receita (especialmente do ICMS dos estados) e com a promessa de manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600.
Não só esgotamos os malabarismos para criar gastos acima do teto, mas também deixamos despesas reprimidas para 2023, como o aumento concedido para servidores públicos, cujos salários estão congelados por três anos.
Pairam dúvidas sobre a manutenção do reajuste do salário mínimo sem ganhos reais e a provável perenização de outros auxílios. Ainda temos as propostas de aumento dos pisos salariais de diversas categorias, cujo impacto pode ser substancial para estados e municípios.
Não é à toa que o cenário para 2023 é mais complexo. Os números do Focus mostram uma expectativa de crescimento do PIB perto de 0,4%, decorrente dos efeitos defasados da política monetária e da desaceleração do crescimento global. O IPCA esperado é de 5,3% -uma desinflação pequena, dada a expectativa de PIB. Aqui pesam os altos núcleos de inflação, a elevada inércia dos preços domésticos e a incerteza sobre o arcabouço fiscal.
Diante de um cenário bastante incerto, o Banco Central vem sinalizando o encerramento do ciclo de alta de juros em setembro. Será um momento extremamente desafiador: expectativas de inflação desancoradas, inexistência de sinais de redução significativa das pressões inflacionárias correntes, menor capacidade ociosa da economia e falta de visibilidade sobre o equilíbrio fiscal de médio prazo.
É claro que o quadro de hoje para o próximo ano parece pessimista, mas não há mágica na matemática: com um crescimento populacional de menos de 1%, para o Brasil crescer 3% de forma sustentável, a produtividade tem de crescer 2% -o que não ocorre há 40 anos. Crescimento sustentável com inflação baixa só será possível se tivermos controle da política fiscal e persistirmos nas reformas.
 
JC
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