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Olhar da Fé

- Publicada em 30 de Setembro de 2022 às 19:23

Um santo pisou em Porto Alegre

Dom Adilson Pedro Busin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
Dom Adilson Pedro Busin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
No final do século XIX e início do século XX milhões de italianos deixaram sua pátria e partiram rumo à América. Muitos deles aportaram em terras brasileiras. Somos milhões de descendentes destes imigrantes. Calcula-se hoje ao redor de 23 milhões aqui no Brasil. O Rio Grande do Sul foi o destino de muitos destes nossos antepassados. Aqui vieram para ‘far l’Amercia’, sonhando um dia voltar. Mas aqui ficaram. Sabemos das peripécias das viagens, do árduo começo nas colônias desta gente. Mas, como todo migrante ainda hoje, trouxeram bravura, fé, esperança e tantos valores que costuram o tecido de nossa sociedade em nossos dias. Cada cultura traz sua riqueza.
Naquele começo de vida em terras rio-grandenses, os clamores de muitos imigrantes chegaram aos ouvidos de João Batista Scalabrini, bispo de Placência, Itália. Ele mesmo vira seus conterrâneos partirem de sua diocese. Dizia que “onde está o povo que luta e sofre ali está a Igreja.” Interessou-se pela causa dos migrantes. Visitou várias cidades das Itália proferindo palestras sobre o tema. Escreveu ao parlamento, aos bispos e ao Papa de seu tempo. Viu no rosto dos que partiam, uma voz que clamava para fazer algo em seu favor. Pastor atento e zeloso, fundou os Missionários (1887) e Missionárias (1895) de São Carlos, para servir os migrantes. Organizou uma sociedade de leigos (São Rafael, 1889) para defender os migrantes nos portos de partida e de destino.
Em 1901, visitou os Estados Unidos, onde, por vários meses, encontrou-se com os migrantes de várias cidades, com autoridades, inclusive o presidente de então, Theodore Roosevelt, para falar da migração. Em 1904, de junho a dezembro, quis visitar seus conterrâneos no Brasil e na Argentina. Esteve em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e no Rio de Janeiro, além do nosso Rio Grande do Sul. Aqui esteve nos meses de setembro e outubro. Sulcou a Lagoa dos Patos, os rios Jacuí, Taquari, e dos Sinos, além das travessias do rio das Antas. Visitou e celebrou na Santa Casa de Misericórdia. Foi recebido pelo governador Borges de Medeiros. Esteve na Cúria diocesana. Visitou as comunidades de Encantado, Coronel Pilar, Garibaldi, Veranópolis, Nova Prata, Nova Bassano, Farroupilha, Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Celebrou e encontrou famílias. Crismou mais de 15 mil pessoas em tão pouco tempo. Na volta passou por São Sebastião do Caí para regressar a Porto Alegre, onde permanecerá uma semana a espera do navio que o levaria até Rio Grande e de lá para Buenos Aires, onde o aguardava um irmão há 36 anos.
Agora, no dia 09 de outubro de 2022, no Vaticano, o Papa Francisco celebrará a canonização de Scalabrini. A Igreja terá um novo santo, ‘pai e apóstolo dos migrantes’. Um profeta do mundo das migrações. Um santo de longe, mas que pisou nossas terras. Scalabrini, o bispo missionário, santo que passou pelas ruas de Porto Alegre. É um motivo de grande júbilo para a Igreja, para os migrantes e refugiados; para as Congregações Scalabrinianas, com suas igrejas, escolas, hospitais, obras sociais, casa de acolhimento e atenção aos migrantes. E é motivo de gratidão, pois Scalabrini, esteve perto dos migrantes e perto de nós. Ao chegar, contemplou Porto Alegre, “a mais bela das mais belas” diz em seus escritos. Sua santidade ecoa como voz profética tão atual para dizer “que as migrações ouvem a humanidade. Enquanto o mundo se agita deslumbrado pelo progresso, enquanto o homem se inebria de suas conquistas sobre a matéria, como senhor domina a natureza,/.../ alarga-se o conceito de pátria para além dos confins materiais, fazendo do mundo a pátria da humanidade”.
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