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Olhar da Fé

- Publicada em 29 de Julho de 2022 às 16:42

A carne humana: tráfico de pessoas!

Dom Adilson Pedro Busin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
Dom Adilson Pedro Busin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
No dia 30 de julho celebramos a jornada internacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Esta data estabelecida pela ONU entrou no calendário mundial e da Igreja em 2014. Vivemos, portanto, uma semana de preparação, marcada por várias iniciativas e eventos para um envolvimento sempre maior na busca de amenizar e curar esta chaga da humanidade, que ainda persiste em nossos dias. A Igreja está comprometida com esta causa também.
O tráfico humano tem rostos, cor, classe social e lugar, em que o drama se torna um verdadeiro flagelo. Adolescentes e mulheres são as maiores vítimas. Há poucos dias, li que existe no mundo, uma lista de lugares mais perigosos para o tráfico de pessoas. O Mar Mediterrâneo aparece em primeiro lugar. Milhares de pessoas perderam a vida na travessia da África para a Europa. Há uma tamanha gama de crueldades, que até cemitérios “reservados” às vítimas das águas mediterrâneas foram criados.
Depois vem ainda a África, nos caminhos do deserto do Saara. Pessoas que partem da África subsaariana sucumbem pela fome, sede, pelo frio e calor do deserto. A fronteira entre México e Estados Unidos é o terceiro lugar mais perigoso e usado pelos que fazem das pessoas mercadorias para o lucro e um dinheiro manchado de sofrimento, dor e sangue. Estas são algumas das rotas de tráfico, mas há tantas ao redor do mundo, como a rota dos Balcãs ou do canal da Mancha. Mas, para não ficar longe, a nossa floresta Amazônica tornou-se também uma via escura do tráfico de pessoas. Várias portas fronteiriças também se prestam a isso.
Os que praticam este crime hediondo usam as pessoas como meras mercadorias para o trabalho escravo, inclusive em domicílios; para a exploração sexual e prostituição forçada; para o tráfico de órgãos. Acompanhamos há alguns meses as notícias dos traficantes infiltrados nas levas de refugiados da Ucrânia. Se tem algo que os traficantes não têm é escrúpulo. Inclusive é bom recordar que no mundo virtual aparecem novas formas, mais sutis, de tráfico de pessoas. Namoros virtuais, contratos para o mundo da fama, casamentos por sites de Internet, são muitas vezes usados como arapucas. Então a vida que deveria estar se encaminhando para o sucesso ou um amor encontrado, torna-se um verdadeiro calvário, deixando chagas psicológicas e de reinserção familiar difíceis de curar.
O que fazer diante desta ‘ferida da humanidade’? A Igreja assume esta realidade em nível mundial, regional e local. TalitaKum é uma organização de Irmãs religiosas cujo trabalho já resgatou mais e 40 mil mulheres das mãos do tráfico nos últimos dez anos. Na América Latina e Caribe, a rede Scalabriniana, missionários e missionarias, a rede Clamor, estão envolvidas na prevenção, acolhida e acompanhamento de pessoas traficadas, sobretudo, nos caminhos de migração. No Brasil, a Igreja, através da Comissão Episcopal para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, da rede Um Grito pela Vida, entre tantas, são expressões do comprometimento de leigos, religiosas, padres e bispos, na árdua missão de enfrentamento ao tráfico humano.
É preciso falar e alertar. Um mutirão para a conscientização, para lembrar que é problema social de todos. Precisamos enfrentar. As notícias que de vez em quando vemos nos telejornais, em que a Polícia Federal prendeu tal grupo aqui e acolá, dizem apenas da ponta do iceberg da realidade do tráfico. Ele pode estar perto de nós. Ainda mais agora pela situação de pobreza e fome agravada nos últimos tempos. Nas situações vulneráveis é que o tráfico mais age.
Em Porto Alegre, na Estação Rodoviária, haverá um ato para chamar a atenção desta triste realidade. Este é um modo de, com pequenos gestos, somar-se a muitas pessoas e organizações para enfrentar o tráfico de pessoas. Também somos convidados e nos comprometer em construir políticas publicas que ajam na prevenção, no combate ao tráfico e na assistência para a reinserção social das vítimas deste crime.
Os caídos nas mãos dos traficantes são pessoas que pedem de nós uma atitude de bom samaritano. A Igreja se faz próxima e solidária para sarar os feridos à beira do caminho e tomar os cuidados necessários para reencontrarem sua dignidade humana. A fé se faz caminho e a caridade se faz atitude concreta ao “próximo” que caiu nas mãos dos salteadores.
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