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Cinema

- Publicada em 26 de Janeiro de 2023 às 17:42

O inferno revelado

Hélio Nascimento
O diretor Damien Chazelle, o realizador de Babilônia, está integrado ao grupo dos que permitem que o cinema, na época enfrentando duros adversários, tenha condições de vencer inimigos poderosos. Primeiro foi o surgimento de novas técnicas de preservação e utilização de imagens, um processo que anulou em muitos o impulso de procurar nas salas exibidoras o melhor que pode ser apresentado, em nitidez e amplidão. Depois foi a pandemia, que, de maneira compreensível, esvaziou auditórios e fechou, durante algum tempo, locais de exibição de filmes. Porém, atualmente, James Cameron derrotou as tropas inimigas com o segundo Avatar, que já se transformou em poucos dias de exibição numa das maiores bilheterias de todos os tempos. O trabalho de Cameron, um fascinado por novas tecnologias, é obra destinada a um público amplo, enquanto a obra de Chazelle é uma peça que exige do espectador, a fim de que seja devidamente apreciada, algum conhecimento sobre o período em que se desenrola a ação. Espera-se que Babilônia encontre seu público, pois é obra admirável, muito acima de produtos oferecidos ao público em telas reduzidas e inapropriadas, nas quais, salvo exceções, algumas realmente merecedoras de atenção, o que mais é difundido são filmes e seriados desprovidos de importância. E como a mediocridade não é privilégio de determinado meio de divulgação, já que se espalha por todos eles, é importante mencionar que o filme de Chazelle se destaca, também, por ser uma peça cinematográfica tão corajosa como irreverente e ao mesmo também capaz de tecer variações notáveis sobre o tema do passar do tempo.
O diretor Damien Chazelle, o realizador de Babilônia, está integrado ao grupo dos que permitem que o cinema, na época enfrentando duros adversários, tenha condições de vencer inimigos poderosos. Primeiro foi o surgimento de novas técnicas de preservação e utilização de imagens, um processo que anulou em muitos o impulso de procurar nas salas exibidoras o melhor que pode ser apresentado, em nitidez e amplidão. Depois foi a pandemia, que, de maneira compreensível, esvaziou auditórios e fechou, durante algum tempo, locais de exibição de filmes. Porém, atualmente, James Cameron derrotou as tropas inimigas com o segundo Avatar, que já se transformou em poucos dias de exibição numa das maiores bilheterias de todos os tempos. O trabalho de Cameron, um fascinado por novas tecnologias, é obra destinada a um público amplo, enquanto a obra de Chazelle é uma peça que exige do espectador, a fim de que seja devidamente apreciada, algum conhecimento sobre o período em que se desenrola a ação. Espera-se que Babilônia encontre seu público, pois é obra admirável, muito acima de produtos oferecidos ao público em telas reduzidas e inapropriadas, nas quais, salvo exceções, algumas realmente merecedoras de atenção, o que mais é difundido são filmes e seriados desprovidos de importância. E como a mediocridade não é privilégio de determinado meio de divulgação, já que se espalha por todos eles, é importante mencionar que o filme de Chazelle se destaca, também, por ser uma peça cinematográfica tão corajosa como irreverente e ao mesmo também capaz de tecer variações notáveis sobre o tema do passar do tempo.
Classificado como obra voltada, principalmente, a uma reconstituição do período em que o cinema deixava de ser silencioso e se enriquecia com a utilização do som, o filme é realmente um trabalho primoroso em tal área. São admiráveis as cenas de filmagens, principalmente aquelas relacionadas à realização de épicos, quando acontece de tudo, desde uma greve de figurantes até a morte de um dos extras utilizados em tais produções. Porém, o filme não deve ser visto apenas com voltado apenas a desmitificar os filmes feitos em tal período. Na verdade, eis um filme sobre o desespero e o sofrimento sintetizados em uma coreografia, nas cenas de festas, principalmente a primeira delas, que explicita em movimentos uma revolta marcada por um desvario composto de uma agressividade inócua e desprovida de qualquer elemento enriquecedor de uma revolta. Há uma grande atualidade em tais cenas, reforçada pela utilização de meios que, em vez de criar uma inconformidade criativa, apenas aumentam a dor e o sofrimento. Mas a cena definitiva, a que de certa forma sintetiza tudo o que é mostrado, é aquela da grande queda, uma verdadeira descida ao inferno, durante a qual dois elementos da indústria do cinema são guiados por um demente e criminoso. É um trecho dantesco, só devidamente apreciado numa tela de cinema.
Há outro momento realmente poderoso durante a ação. É aquele do diálogo entre o astro decadente e uma jornalista, uma sequência que se conclui quase em silêncio e ao mesmo tempo de forma eloquente. A máquina trituradora movida pelo passar do tempo praticamente se materializa em tal cena, na verdade a última vivida pelo ator sem espaço nos novos tempos. Qualquer filme focalizado na passagem do silencioso para o sonoro sempre deverá bastante a Cantando na chuva, o maravilhoso clássico de Stanley Donen e Gene Kelly, que recentemente ocupou o décimo lugar entre os maiores de todos os tempos, na eleição, organizada pela Sight and Sound, que recolheu votos, de cineasta, historiadores e críticos em vários países. São várias as cenas do filme de Chazelle naquele filme inspiradas. O diretor chega mesmo a utilizar cenas daquela obra, incluindo aquela que certamente é das mais amadas de todo o cinema. E para os interessados na história cultural de nossa cidade, aquele musical foi aqui lançado no dia primeiro de janeiro de 1953, no Avenida e no Colombo, que então eram os cines-Metro da capital.
 
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