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Cinema

- Publicada em 19 de Janeiro de 2023 às 19:03

Retrato de um cineasta quando jovem

Hélio Nascimento
A filmografia de Steven Spielberg é agora enriquecida com mais uma obra notável. O diretor nem sempre entrega a seus admiradores trabalhos que possam ser classificados como peças reveladoras e indispensáveis, e há momentos em sua carreira que até comprometem sua posição entre os mais importantes de nossa época. Ele merece, sem dúvida, estar entre os grandes, o que de certa forma torna inexplicável alguns filmes que realizou. E ele nem deveria ter cometido a ousadia de refilmar West side story, para citar apenas um exemplo. Mas quando acerta, como em Tubarão, E.T., Contatos Imediatos do Terceiro Grau, O resgate do soldado Ryan e principalmente em A lista de Schindler, o cineasta prova que sua contribuição ao processo que torna o cinema instrumento capaz de materializar sonhos e registrar a realidade é das mais significativas. Ele também foi capaz de provar que sua arte é insuperável no momento de cativar grandes plateias, quando realizou a série dedicada a Indiana Jones, modelo insuperável de cinema popular realizado com inteligência. Este Os Fabelmans, escrito pelo cineasta em parceria com Tony Kushner, é um novo e esplendoroso espetáculo cinematográfico, não apenas uma autobiografia e certamente também não limitado pela exaltação ao cinema, isso porque em seus desenrolar a música exerce papel importante e, principalmente, porque em vários momentos fica evidente que a arte é capaz de causar o primeiro impulso em direção a afirmação de uma personalidade.
A filmografia de Steven Spielberg é agora enriquecida com mais uma obra notável. O diretor nem sempre entrega a seus admiradores trabalhos que possam ser classificados como peças reveladoras e indispensáveis, e há momentos em sua carreira que até comprometem sua posição entre os mais importantes de nossa época. Ele merece, sem dúvida, estar entre os grandes, o que de certa forma torna inexplicável alguns filmes que realizou. E ele nem deveria ter cometido a ousadia de refilmar West side story, para citar apenas um exemplo. Mas quando acerta, como em Tubarão, E.T., Contatos Imediatos do Terceiro Grau, O resgate do soldado Ryan e principalmente em A lista de Schindler, o cineasta prova que sua contribuição ao processo que torna o cinema instrumento capaz de materializar sonhos e registrar a realidade é das mais significativas. Ele também foi capaz de provar que sua arte é insuperável no momento de cativar grandes plateias, quando realizou a série dedicada a Indiana Jones, modelo insuperável de cinema popular realizado com inteligência. Este Os Fabelmans, escrito pelo cineasta em parceria com Tony Kushner, é um novo e esplendoroso espetáculo cinematográfico, não apenas uma autobiografia e certamente também não limitado pela exaltação ao cinema, isso porque em seus desenrolar a música exerce papel importante e, principalmente, porque em vários momentos fica evidente que a arte é capaz de causar o primeiro impulso em direção a afirmação de uma personalidade.
A primeira sequência do filme expressa tudo isso com clareza. Não estamos apenas diante de um susto, diante daquilo que havia sido proposto como um divertimento. O trem é um tema ligado ao cinema, desde sua origem, pois desde a primeira sessão organizada pelos Irmãos Lumière, quando a aproximação de um deles em direção à câmera causou desconforto entre os espectadores, ele tem sido usado como elemento fundamental, seja em documentários como Night Mail, um dos mais belos momentos do documentário britânico dos anos 1930, no qual Alberto Cavalcanti, creditado como responsável pela pesquisa sonora teria na verdade atuado como orientador dos jovens Harry Watt e Basil Wright, seja em filmes de Hitchcock e Mankiewicz, para citar apenas dois mestres que também recorreram ao trem para ilustrar sequências reveladoras de alguns trabalhos, como Pacto sinistro, Intriga internacional e Dizem que é pecado. É o começo e também a constatação de que o mundo a ser depois descoberto não é apenas integrado por elementos harmônicos, pois às vezes é também marcado pelo choque, o desequilíbrio e o desastre, temas presentes na obra do futuro diretor O tema da família, por sua vez, tão caro ao cineasta, é agora desenvolvido de forma diferente dos filmes anteriores, pois é explicitamente exposto na tela, mas igualmente e forma original. Ao utilizar o cinema para esclarecer para a mãe o motivo de sua irritação, o protagonista a coloca numa espécie de pequeno cinema, um local escuro no qual imagens são projetadas. Este e um dos grandes achados do filme, mas não o único.
A instabilidade emocional da mãe, suas insatisfações e sofrimentos não são tratados de forma explicita, mas poderosamente sugeridas na cena do tornado, quase um suicídio, e nos momentos em que suas frustrações se transformam em anseios de perfeição, graças a utilização de peças de vários compositores, momentos em que Spielberg ministra verdadeiras aulas de como usar música para revelar a alma de personagens. E em todo o espaço concedido ao penoso relacionamento do jovem Sammy com alunos deformados pelo antissemitismo, outra demonstração da força do cinema, quando ao final o líder se defronta com sua fraqueza ao se ver numa tela de forma enganadora. No final de tudo, uma grande cena de encerramento, uma surpresa para o espectador, até porque não se tinha acontecimento de tal fato na vida do cineasta. Esse encontro e essa descoberta são também uma homenagem das mais notáveis até hoje filmadas. Ao cinema e a um artista que, em quase todas as suas obras, sempre mostrava um personagem voltando para a casa, à família e a um passado repleto de momentos definitivos. Talvez seja por isso que o homenageado tenha sido chamado de o Homero das pradarias, um fascinado pela figura de Odisseu.
 
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