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Cinema

- Publicada em 12 de Janeiro de 2023 às 20:37

As fontes da criação

Hélio Nascimento
A diretora Frances O'Connor, que já tinha uma carreira de atriz entre - outros papeis, ela foi a "mãe" do menino robô em Inteligência artificial, de Steven Spielberg - de certa forma promove um novo encontro do cinema com o romance O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë (1818 - 1848), livro várias vezes filmado e geralmente considerado um dos grandes títulos da literatura em língua inglesa. A versão mais famosa foi aquela realizada em 1939 pelo grande William Wyler, filme que costuma frequentar listas de melhores de todos os tempos e até encontrou adeptos entusiasmados que o colocaram no ponto mais alta de suas preferências. Há outra versão assinada por um cineasta com prestigio entre a crítica, Luís Buñuel, exibida no Brasil com o título de Escravos do rancor e realizada em 1950.
A diretora Frances O'Connor, que já tinha uma carreira de atriz entre - outros papeis, ela foi a "mãe" do menino robô em Inteligência artificial, de Steven Spielberg - de certa forma promove um novo encontro do cinema com o romance O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë (1818 - 1848), livro várias vezes filmado e geralmente considerado um dos grandes títulos da literatura em língua inglesa. A versão mais famosa foi aquela realizada em 1939 pelo grande William Wyler, filme que costuma frequentar listas de melhores de todos os tempos e até encontrou adeptos entusiasmados que o colocaram no ponto mais alta de suas preferências. Há outra versão assinada por um cineasta com prestigio entre a crítica, Luís Buñuel, exibida no Brasil com o título de Escravos do rancor e realizada em 1950.
A cineasta tenta uma aproximação com o livro, não realizando dele uma versão, mas se aproximando da vida da autora e tentando encontrar ligações de experiências pessoais com as situações por ela narradas. É algo a ser destacado, mas não é o único ponto de interesse de um filme que, tendo o título de Emily, deixa bem claro sua intenção. Trata-se de trabalho que tendo esta originalidade também se destaca por uma direção precisa e com momentos realmente excepcionais - entre eles aquele jogo de máscaras, que expõe medos e inseguranças causados por uma ausência.
A irmã de Emily, Charlotte (1816 - 1855), também se destacou como escritora e seu romance Jane Eyre é igualmente colocado entre os grandes momentos da literatura inglesa. Uma terceira irmã, Anne (1820 - 1849) também deixou um romance, Agne Grey, elogiado, mas que não obteve a mesma fama. O irmão, Branwell, se caracterizou pela rebeldia e a irreverência, mas seus escritos não saíram da obscuridade. Mesmo assim, ele é figura central no filme, que tem roteiro da própria realizadora. É através dele e seu relacionamento com Emily que a diretora coloca em cena, e o desenvolve com uma série de variações, o tema do incesto não concretizado, mas que tem seu desejo exposto em várias cenas, inclusive aquela - outro momento admirável do filme - dos lençóis, que apesar de serem referência erótica se transformam em barreira repressora. Talvez tal cena tenha origem em outro momento célebre do cinema, aquele no qual o protagonista de Cinzas e diamantes, de Andrzej Wajda, descobre a proximidade do fim, algo que, se regido pelo inconsciente, certamente dará razão a Frances ao expor o que oculto pode gerar no momento da criação artística.
O que parece ser o grande enigma é alvo de uma tentativa de resolução no filme de O'Connor. Ela procura responder como jovens criados em um ambiente isolado e sem maiores experiências conseguiram escrever obras que se destacam por observações relevantes sobre a natureza humana. No caso da protagonista do filme, a paixão frustrada por um religioso dotado de imaginação e refinamento, e vítima também de forças repressivas, reforça, segundo a cineasta, que experiências e sofrimentos encontram em uma natureza prisioneira das normas de comportamento um caminho de libertação através da fantasia. O retorno do personagem que como um Ulisses irado volta para a vingança, em O morro dos ventos uivantes, algo que Wyler em seu filme acentua por uma referência visual a Penélope, se manifesta na cruel crítica de Emily ao livro que o irmão está escrevendo depois que sua frustração amorosa se concretiza. A agressividade que surge da frustração, depois de contida, será transformada em obra aparentemente de ficção. O primeiro filme de Frances O'Connor é outro exemplo de inteligência cinematográfica. Ela inicia seu relato com a protagonista descrevendo reinos imaginários, e aos poucos vai revelando que a imaginação impulsionada por sonhos e devaneios se transfigura em obras de outra espessura e se direciona a um universo onde encontra a fantasia e o desejo de falar de um passado, no qual se acumulam dados essenciais para que sinais relevantes sejam devidamente interpretados e solucionados. E o tema da chuva, exposto por William Weightman como elemento unificador, é acentuado em várias cenas para dar universalidade aos temas desenvolvidos.
 
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