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Cinema

- Publicada em 06 de Janeiro de 2023 às 00:40

Exaltação do desnecessário

Hélio Nascimento
A respeito do gênero policial, tanto na literatura como no cinema, tudo já parece ter sido dito, principalmente que ele nada tem de menor e se encontra perfeitamente integrado ao nobre espaço das narrativas que têm algo a dizer ou a descobrir. Parece que há uma concordância entre seus admiradores e estudiosos que o gênero tem seu capítulo primeiro em Os crimes da Rua Morgue, de Edgar Alan Poe, conto publicado em 1841. E são muitos os nomes admirados e estudados em todo o mundo, com admiradores em todo o tipo de leitor. E não há quem desconheça em tal universo nomes como Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Dashiel Hammet, Raymond Chandler, G.K. Chesterton, George Simenon, Luís Alfredo Garcia Rosa e Rubem Fonseca.
A respeito do gênero policial, tanto na literatura como no cinema, tudo já parece ter sido dito, principalmente que ele nada tem de menor e se encontra perfeitamente integrado ao nobre espaço das narrativas que têm algo a dizer ou a descobrir. Parece que há uma concordância entre seus admiradores e estudiosos que o gênero tem seu capítulo primeiro em Os crimes da Rua Morgue, de Edgar Alan Poe, conto publicado em 1841. E são muitos os nomes admirados e estudados em todo o mundo, com admiradores em todo o tipo de leitor. E não há quem desconheça em tal universo nomes como Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Dashiel Hammet, Raymond Chandler, G.K. Chesterton, George Simenon, Luís Alfredo Garcia Rosa e Rubem Fonseca.
A lista, obviamente, é imperfeita e qualquer outra sempre estará aberta para novas descobertas, num processo revelador que pode ser formado por títulos do passado ainda não estudados ou novos trabalhos merecedores de atenção. E algumas observações que ampliam o espaço do gênero também merecem ser lembradas. A mais interessante delas é a que marca o início do gênero em Édipo Rei, de Sófocles, peça encenada pela primeira vez em Atenas, no ano 430 a.C., na qual a figura de quem comanda a investigação do crime é o próprio criminoso, sem saber uma verdade que aos poucos vai sendo revelada. É como se o ser humano encontrasse a verdade num espelho por ele contemplado.
Este tema foi desenvolvido pelo diretor britânico Alan Parker, no ano de 1987, quando realizou Coração satânico, baseado em um livro de William Hjjortsberg, filme no qual um detetive descobre algo inesperado ao ser manipulado por um moderno Mefistófeles. E para reforçar a nobreza do gênero é importante lembrar que muitos notam sua presença em Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievski, publicado em 1890.
No cinema, muitos mestres, além de Alfred Hitchcock, transformaram obras literárias do gênero em títulos relevantes ou então souberam transformar em filmes originais que apenas sugeriam desenvolvimentos temáticos mais aprimorados. Foram muitos os diretores e expressivo o número de filmes resultantes da abordagem policial e o gênero de filme chamado 'noir' está repleto de peças significativas, assinadas por Howard Hawks, Otto Preminger, Joseph L. Mankiewicz, John Huston, Stanley Kubrick e muitos mais.
O importante é registrar que o gênero é apenas o cenário e os personagens, não se trata de algo que impeça revelações. Descobrir um assassino e seus motivos é também revelar maquinismos geralmente ocultos, engrenagens que movimentam seres humanos em situações que o afastam das normas ditas civilizadas. Por vezes, são vozes vindas do passado que incentivam a transgressão. Revelar tudo isso não é soletrar um nome ou descobrir um motivo: é expor traços ocultos gerados por imperfeições. Esta talvez seja a característica mais importante de um romance ou de um filme policial: tornar claro o que surge antes nossos olhos como um enigma, tema igualmente presente na peça de Sófocles.
No Festival de Cannes do ano passado, o diretor coreano Park Chan-wook recebeu a Palma de melhor realizador por este Decisão de partir, em cartaz nos cinemas. Aqui temos um detetive fascinado por uma mulher suspeita. Não é algo novo, mas se trata de um tema sedutor. Ocorre que o cineasta optou por uma narrativa que pode ser definida como complexa, mas na essência é uma exibição de como usar a montagem para tornar a ação algo que parece fazer questão de se revelar "difícil", uma forma de exaltar o desnecessário.
Trata-se de uma mistura de realidade e imaginação, alpinismo com a Quinta de Mahler, adultério e separação, imigração e represálias, a clássica presença da dupla de detetives, antes de se chegar a um final que revela apenas uma grande perda e um imenso vazio. O detetive tem problemas de visão e respiração. O colírio e um aparelho não chegam a resolver e apenas amenizam o problema, algo que sintetiza a confusão vivida pelo protagonista. E o fato de o filme ter sido premiado em Cannes é a prova definitiva de que até jurados de festivais podem às vezes ser enganados. 
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