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Cinema

- Publicada em 08 de Dezembro de 2022 às 19:57

Os eleitos

Hélio Nascimento
A revista londrina Sight and Sound, uma publicação do BFI, publica, de dez em dez anos, uma lista dos cem melhores filmes da História do Cinema. No número do atual dezembro, a lista publicada é marcada por uma grande surpresa. O filme apontado como o maior de todos os tempos é Jeanne Dielman, realizado pela cineasta belga Chantal Akerman, no ano de 1975. Na lista anterior, publicada em 2012, o filme aparecia em trigésimo quinto lugar. A relação tem repercussão em todo o mundo cinematográfico por não se tratar de uma eleição feita entre os redatores da revista, e sim o resultado de uma enquete na qual uma lista dos melhores é solicitada a cineastas, críticos, historiadores e curadores de cinematecas em todo mundo. Mesmo assim, embora tal amplidão torne a relação importante, o resultado é a soma de opiniões e não algo que possa ser visto como definitivo, até porque desde que a relação foi publicada pela primeira vez, em 1952, o nome do filme vencedor já foi alterado duas vezes. Portanto, eis uma eleição cujo resultado pode ser discutido, mas sua relevância não pode ser contestada, pois reflete uma tendência que vai se modificando com o passar do tempo entre os integrantes do mundo do cinema. Como curiosidade, eis os filmes vencedores, desde a primeira eleição: Ladrões de bicicletas (1952), Cidadão Kane (1962, 1972, 1982, 1992, 2002) e Vertigo (2012). Assim, o título maior foi conferido cinco vezes ao filme de Orson Welles e uma vez a trabalhos de Vittorio de Sica e Alfred Hitchcock.
A revista londrina Sight and Sound, uma publicação do BFI, publica, de dez em dez anos, uma lista dos cem melhores filmes da História do Cinema. No número do atual dezembro, a lista publicada é marcada por uma grande surpresa. O filme apontado como o maior de todos os tempos é Jeanne Dielman, realizado pela cineasta belga Chantal Akerman, no ano de 1975. Na lista anterior, publicada em 2012, o filme aparecia em trigésimo quinto lugar. A relação tem repercussão em todo o mundo cinematográfico por não se tratar de uma eleição feita entre os redatores da revista, e sim o resultado de uma enquete na qual uma lista dos melhores é solicitada a cineastas, críticos, historiadores e curadores de cinematecas em todo mundo. Mesmo assim, embora tal amplidão torne a relação importante, o resultado é a soma de opiniões e não algo que possa ser visto como definitivo, até porque desde que a relação foi publicada pela primeira vez, em 1952, o nome do filme vencedor já foi alterado duas vezes. Portanto, eis uma eleição cujo resultado pode ser discutido, mas sua relevância não pode ser contestada, pois reflete uma tendência que vai se modificando com o passar do tempo entre os integrantes do mundo do cinema. Como curiosidade, eis os filmes vencedores, desde a primeira eleição: Ladrões de bicicletas (1952), Cidadão Kane (1962, 1972, 1982, 1992, 2002) e Vertigo (2012). Assim, o título maior foi conferido cinco vezes ao filme de Orson Welles e uma vez a trabalhos de Vittorio de Sica e Alfred Hitchcock.
A relação deste ano, que agora está sendo divulgada é a seguinte: Jeanne Dielman, de Chantal Akerman; Vertigo, de Alfred Hitchcock; Cidadão Kane, de Orson Welles; Viagem a Tóquio, de Yasujiro Ozu; Amor à flor da pele, de Won Kar Vai; 2001: uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick; Bom trabalho, de Claire Denis; Cidade dos sonhos, de David Lynch; Homem com a Câmera, de Dziga Vertov; e Cantando na chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly. Como se pode ver, discussão não deve faltar, seja pela inclusão de alguns títulos, seja pela ausência de outros. Mas vale lembrar que a revista publica uma lista de 100 filmes, pela ordem de votos alcançados, e, portanto, muita injustiça pode ser amenizada. Vale destacar também que é publicada uma lista de melhores eleitos por diretores, na qual o filme de Kubrick foi o vencedor, seguido por Cidadão Kane, O poderoso Chefão, Viagem a Tóquio, Jeanne Dielman, Vertigo, O espelho (de Andrei Tarkovsky), Persona (de Ingmar Bergman), Amor à flor da pele e Close-Up (de Abbas Kiarostami). Nada disso é definitivo, mas chama a atenção o fato de nenhum dos filmes realizados nos últimos vinte anos é mencionado tanto na lista de maior número de eleitores como na dos cineastas, o que não deixa de ser revelador.
É importante também ressaltar que o êxito do filme de Chantal Akerman, que reconstitui minuciosamente o cotidiano de uma mulher, é uma peça de resistência, já na década de 1970, a uma tendência que está culminando nos dias atuais, aquela de transformar o cinema em espaço para aventuras na maioria das vezes encenadas de forma medíocre ou pouco reveladoras. Sua colocação em primeiro lugar é uma clara evidência de que parte de uma geração não aceita facilidades geradas pela recusa em focalizar a realidade e pela tendência em transformar o cinema em instrumento destinado a moldar mentes incapazes de decifrar os enigmas apresentados pela realidade. Há dez anos, quando Vertigo foi escolhido o melhor, o então Espaço Unibanco exibiu uma cópia em DCP, o que valorizou ainda mais a obra-prima de Hitchcock. Esperamos agora que o Espaço Bourbon faça o mesmo com Jeanne Dielman. Em outras cidades, já estão sendo providenciadas exibições do filme, que tem no papel principal a atriz Delphine Seyrig, que foi a protagonista de O ano passado em Marienbad, de Alain Resnais. Listas de melhores são sempre opiniões e assim merecedoras de críticas ou aplausos, conforme quem as lê ou consulta. E são também, reveladoras de tendências de uma época. E certamente é reconfortante notar a ausência de títulos nada merecedores dos espaços atualmente colocados à sua disposição pela superficialidade e pela ausência de critérios.
 
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