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Cinema

- Publicada em 17 de Novembro de 2022 às 19:09

Clássico e atual

Hélio Nascimento
Depois da Festa do Cinema Italiano, que permitiu o conhecimento do notável documentário de Giuseppe Tornatore sobre Ennio Morricone, temos agora em cartaz em 30 cidades brasileiras, e também online para todo o Brasil, o Festival do Cinema Italiano. Para ver os filmes em casa basta acessar o site festivalcinemaitaliano.com. As visualizações são gratuitas e o festival terá prosseguimento até o próximo dia 4.
Depois da Festa do Cinema Italiano, que permitiu o conhecimento do notável documentário de Giuseppe Tornatore sobre Ennio Morricone, temos agora em cartaz em 30 cidades brasileiras, e também online para todo o Brasil, o Festival do Cinema Italiano. Para ver os filmes em casa basta acessar o site festivalcinemaitaliano.com. As visualizações são gratuitas e o festival terá prosseguimento até o próximo dia 4.
A grande maioria dos filmes em exibição é formada por produções inéditas, algo que permitirá o conhecimento de obras que não chegaram ao circuito exibidor brasileiro, atualmente dominado por fantasias dedicadas às plateias infantis. O público poderá constatar que o cinema continua vivo em outros centros exibidores, que não negam espaço para a nova geração e para os que permanecem fiéis a uma arte comprometida com a realidade de nosso tempo.
Um dos aspectos importantes do Festival é que ele está permitindo o conhecimento ou a revisão de alguns clássicos da cinematografia italiana, entre eles Roma, cidade aberta, de Roberto Rossellini, e duas obras de Luchino Visconti: Violência e paixão e O inocente. Além deles, podem ser vistos alguns filmes que alcançaram grande sucesso na época de seu lançamento, como Pão, amor e fantasia, de Luigi Comencini. Um dos filmes mais importantes que integram o Festival é O conformista, realizado por Bernardo Bertolucci (1941 - 2018) em 1970, tendo como fonte um romance escrito por Alberto Moravia.
Bertolucci é famoso por obras como O Último tango em Paris, 1900, La Luna e O último imperador. O conformista foi realizado antes do quarteto citado e não tem a fama de tais trabalhos. Mas é um filme notável, digno de figurar entre os clássicos do cinema italiano. Mais do que isso, é obra de uma atualidade elucidativa e impactante, principalmente por abordar a Itália dominada pelo fascismo, essa forma de poder cuja origem se encontra naquele país e que depois chegou à Alemanha, onde ficou conhecido como nazismo e atingiu sua forma mais ostensiva e cruel.
Bertolucci, porém, não se limita a expor os malefícios de tal regime. Ao colocar em cena um personagem integrado à massa anônima que compõe tal forma de sociedade, o diretor adota o posicionamento daqueles que sabem concentrar num indivíduo as origens e as características do regime, estas últimas não apenas presentes no fascismo e também relevantes em correntes que se dizem dele inimigas. O tema aqui é o da agressividade transformada em agente de violência e repressão, tudo tendo origem em frustrações e sentimentos edipianos não solucionados. Eis um tema também presente em Tango e La luna, principalmente neste último. O assassinato do chofer amante da mãe e a participação de outro na infância do protagonista, o aparecimento dos assassinos do professor, projeções de desejos do personagem e que agem como os senadores de Júlio César, imperador e símbolo da paternidade representada pela figura do mestre exilado, são figuras e situações que resumem e explicitam impulsos do personagem vivido por Jean-Louis Trintignant.
Indivíduos valem pouco no fascismo. Essa constatação é visualmente expressa pela ênfase dada à arquitetura da época pelo filme, ao focalizar cenários na quais seres humanos se transformam em pequenas figuras. Perfeito também o realce dado à cegueira do personagem chamado Ítalo, uma clara referência ao pais, que não pode contemplar a marcha para o desastre. E a referência à ópera Madame Butterfly não é apenas uma alusão a um gênero ao qual Bertolucci foi um admirador, mas uma referência ao suicídio representado pela adesão a um sistema deletério, disfarçado em defensor da pátria e da família. Há uma cena, por sinal, na qual um dos agentes do governo explica em que ordem tais palavras devem ser ditas. Os clássicos permanecem não apenas pelas contribuições ao enriquecimento da narrativa cinematográfica. Eles também sobrevivem e continuam atuais por lançarem luzes a um cenário no qual fantasmas do passado se constituem em ameaça.
 
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