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Cinema

- Publicada em 03 de Novembro de 2022 às 18:00

A verdade sobre a guerra

Hélio Nascimento
Realizado em 1930, nos primeiros anos do cinema sonoro, Sem novidades no front consagrou o diretor Lewis Milestone, pois o filme recebeu os dois principais prêmios da Academia de Hollywood: o de melhor do ano e o de direção. Alcançou grande sucesso de público nos Estados Unidos, mas, ao ser exibido na Alemanha, foi proibido depois de algumas exibições acompanhadas de protestos por parte de grupos nazistas prestes a assumir o poder, e de manifestações de apoio dos que se opunham aos adeptos de Hitler. O filme de Milestone, baseado no romance de Erich Maria Remarque, é hoje um dos clássicos do cinema, uma opinião praticamente unânime entre críticos e historiadores. Sua mensagem pacifista e a forma como descrevia um conflito armado desmente de forma categórica os desinformados de hoje que afirmam, utilizando as chamadas redes sociais, que o cinema americano, em vez de ser um crítico da guerra, tem o hábito de consagrar guerreiros, citando como contraponto nova versão do romance de Remarque, realizada pelo diretor Edward Berger, uma obra por sinal admirável, produzida pela Netflix e tendo o título de Nada de novo no front. Esse tipo de manifestação é comum num espaço povoado quase sempre pela superficialidade e por manifestações que expressam desejos e se afastam da realidade. São americanos filmes como Morte sem glória, de Robert Aldrich, Glória feita de sangue, de Stanley Kubrick, O resgate do soldado Ryan, de Steven Spielberg, e Além da linha vermelha, de Terrence Malick, isso para citar apenas dois clássicos e duas obras recentes. O problema é que certo tipo de preconceito faz com que alguns comentaristas terminem por confundir a ideologia do personagem com a do realizador, algo que evidencia a dificuldade de fazer uma leitura pelo menos aproximada de um posicionamento correto diante de um filme.
Realizado em 1930, nos primeiros anos do cinema sonoro, Sem novidades no front consagrou o diretor Lewis Milestone, pois o filme recebeu os dois principais prêmios da Academia de Hollywood: o de melhor do ano e o de direção. Alcançou grande sucesso de público nos Estados Unidos, mas, ao ser exibido na Alemanha, foi proibido depois de algumas exibições acompanhadas de protestos por parte de grupos nazistas prestes a assumir o poder, e de manifestações de apoio dos que se opunham aos adeptos de Hitler. O filme de Milestone, baseado no romance de Erich Maria Remarque, é hoje um dos clássicos do cinema, uma opinião praticamente unânime entre críticos e historiadores. Sua mensagem pacifista e a forma como descrevia um conflito armado desmente de forma categórica os desinformados de hoje que afirmam, utilizando as chamadas redes sociais, que o cinema americano, em vez de ser um crítico da guerra, tem o hábito de consagrar guerreiros, citando como contraponto nova versão do romance de Remarque, realizada pelo diretor Edward Berger, uma obra por sinal admirável, produzida pela Netflix e tendo o título de Nada de novo no front. Esse tipo de manifestação é comum num espaço povoado quase sempre pela superficialidade e por manifestações que expressam desejos e se afastam da realidade. São americanos filmes como Morte sem glória, de Robert Aldrich, Glória feita de sangue, de Stanley Kubrick, O resgate do soldado Ryan, de Steven Spielberg, e Além da linha vermelha, de Terrence Malick, isso para citar apenas dois clássicos e duas obras recentes. O problema é que certo tipo de preconceito faz com que alguns comentaristas terminem por confundir a ideologia do personagem com a do realizador, algo que evidencia a dificuldade de fazer uma leitura pelo menos aproximada de um posicionamento correto diante de um filme.
O diretor Edward Berger nasceu em 1970 e até agora tem se dedicado mais à televisão do que ao cinema. E das duas guerras mundiais não tem, portanto, conhecimento direto, ao contrário de Milestone que participou da primeira delas como combatente. Certamente, ele conhece a versão de 1930 e, a se julgar perlo seu filme, não se intimidou com a grandeza humana daquele e nem por sua inclusão entre os grandes momentos do cinema. E certamente conhece Quatro de infantaria, realizado por G.W. Pabst também em 1930 e baseado em outro romance desenrolado no conflito iniciado em 1914, escrito por Ernest Johannsen, uma contribuição do cinema alemão à resistência diante da irracionalidade nazista e também incluído entre os relevantes títulos cinematográficos voltados ao pacifismo e à defesa da civilização. Os méritos de Berger como realizador são evidentes em todo o desenrolar de um filme poderoso e dotado de uma força comovedora impressionante. Basta citar a cena da morte do soldado francês diante do protagonista que então se depara com a agonia de um ser humano, peça de um conflito gerado em gabinetes e exercido por meninos movidos antes pela ingenuidade. Tal cena não é a única a ser destacada num filme interessado em mostrar a realidade ignorada pelo entusiasmo juvenil utilizado pelos que movem as peças de um jogo sangrento. Utilizando com perfeição recursos modernos, Berger, que conta com a competência de técnicos em todos setores de produção, coloca na tela imagens nunca antes vistas em filmes do gênero.
A lamentar apenas que um filme como este não esteja sendo exibido nos cinemas, mesmo que em algumas cidades ele seja mostrado na tela apropriada, pois a empresa produtora tem a ambição de concorrer ao Oscar. E eis duas curiosidades a respeito da versão original. Depois de seu lançamento o filme foi várias vezes reapresentado. Aqui em Porto Alegre, sua última exibição foi em 1955, no Cinema Palermo, uma pequena sala dedicada a filmes selecionados. Em 2006, ao realizar sua versão de A flauta mágica, Kenneth Branagh colocou a ação na Primeira Guerra Mundial e prestou algumas homenagens ao filme de Milestone, que tem uma cena final magnífica. Os clássicos permanecem, apesar dos desinformados.
 
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