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Cinema

- Publicada em 11 de Agosto de 2022 às 17:44

Imagens enriquecidas

Hélio Nascimento
A Festa do Cinema Italiano realizada este ano colocou nas telas de cinemas de várias cidades brasileiras um documentário que, por diversos motivos, despertou entusiasmo e até aplausos da plateia ao final das projeções. Por outro lado, tal documentário permitiu que se contemplasse outra vez, durante as exibições de um filme que se afasta das chamadas superproduções, salas praticamente lotadas, algo a ser devidamente registrado numa fase em que a pandemia que tanto prejudicou o cinema e outros gêneros de espetáculo ainda não está totalmente vencida. O documentário em questão, Ennio, o Maestro, realizado por Giuseppe Tornatore, foi realizado em 2021 e exibido no Festival de Veneza. Trata-se, como o título revela, de uma homenagem ao compositor Ennio Morricone (1928 - 2020), provavelmente o mais admirado entre todos aqueles que escreveram música diretamente para o cinema e que trabalhou, inclusive, com o próprio Tornatore em Cinema Paradiso, realizado em 1988. Morricone começou a chamar a atenção do público quando escreveu a partitura para a trilogia de westerns realizada por Sergio Leone, interpretada por Clint Eastwood e iniciada em 1964, quando aquele cineasta realizou Por um punhado de dólares. Em tais filmes, Morricone, que, segundo suas próprias palavras, havia assistido alguns espetáculos onde instrumentos eram substituídos por ruídos causados pelo choque de objetos, empregou recurso semelhante e também uivos de animais, assobios e alguns outros, sem abandonar instrumentos tradicionais. Uma síntese, portanto, e também o reconhecimento de que certas ousadias e inovações mereciam alguma atenção. O resultado é definido por Eastwood, em sua entrevista a Tornatore, como operístico e inovador, algo que nunca tinha sido feito no western.
A Festa do Cinema Italiano realizada este ano colocou nas telas de cinemas de várias cidades brasileiras um documentário que, por diversos motivos, despertou entusiasmo e até aplausos da plateia ao final das projeções. Por outro lado, tal documentário permitiu que se contemplasse outra vez, durante as exibições de um filme que se afasta das chamadas superproduções, salas praticamente lotadas, algo a ser devidamente registrado numa fase em que a pandemia que tanto prejudicou o cinema e outros gêneros de espetáculo ainda não está totalmente vencida. O documentário em questão, Ennio, o Maestro, realizado por Giuseppe Tornatore, foi realizado em 2021 e exibido no Festival de Veneza. Trata-se, como o título revela, de uma homenagem ao compositor Ennio Morricone (1928 - 2020), provavelmente o mais admirado entre todos aqueles que escreveram música diretamente para o cinema e que trabalhou, inclusive, com o próprio Tornatore em Cinema Paradiso, realizado em 1988. Morricone começou a chamar a atenção do público quando escreveu a partitura para a trilogia de westerns realizada por Sergio Leone, interpretada por Clint Eastwood e iniciada em 1964, quando aquele cineasta realizou Por um punhado de dólares. Em tais filmes, Morricone, que, segundo suas próprias palavras, havia assistido alguns espetáculos onde instrumentos eram substituídos por ruídos causados pelo choque de objetos, empregou recurso semelhante e também uivos de animais, assobios e alguns outros, sem abandonar instrumentos tradicionais. Uma síntese, portanto, e também o reconhecimento de que certas ousadias e inovações mereciam alguma atenção. O resultado é definido por Eastwood, em sua entrevista a Tornatore, como operístico e inovador, algo que nunca tinha sido feito no western.
A música escrita diretamente para o cinema teve um de seus maiores momentos quando, em 1937, Serguei Prokofiev escreve a partitura para Alexander Newski, de Serguei Eisenstein, no mesmo ano em que Heitor Villa-Lobos escreveu a música que acompanhou as imagens de O descobrimento do Brasil, de Humberto Mauro. Importante também registrar que em 1954, na única vez em que escreveu diretamente para um filme (sua participação em musicais é outra história), Leonard Bernstein colaborou com Elia Kazan em Sindicato de ladrões. E há casos de parcerias marcantes, como as de Bernard Hermann com Alfred Hitchcock e de John Williams com Steven Spielberg. E quando não era possível encontrar algo que exigisse uma correspondência com o pretendido pelo cineasta a solução era recorrer a nomes como Verdi, Bruckner, Mahler e Mussorgsky, como Visconti fez em Senso e Morte em Veneza; a Brahms, com o Sexteto para Cordas utilizado por Malle em Amantes; e a vários compositores como fez Kubrick, um melômano dos mais criativos, em 2001: uma odisseia no espaço. Mas o caso de Morricone é um capítulo à parte. Sua música não é apenas um criador de atmosfera. Na verdade, trata-se de algo enriquecedor, que parece emanar dos personagens filmados, tornando visíveis angústias, sofrimentos e mesmo sensações causadas pela presença em cada ser humano de acontecimentos passados. Basta ver e ouvir o que acontece em Era uma vez na América, o maior filme de Leone, principalmente na maneira como é exposto para o espectador a degradação causada pelos mecanismos controladores nos personagens que são acompanhados desde a infância.
Morricone, aluno de Godofredo Petrassi e confesso admirador de Igor Stravinski, parecia mais interessado na utilização de adágios para definir situações e personagens, e assim alcançou momentos de grande beleza, sobretudo em A missão, filme realizado em 1986 por Rolland Joffé e no qual, com aquelas belas frases escritas para oboé, o compositor sintetizou o drama da cultura destruída pelo colonialismo e salva pela retirada do violino das águas na cena final. Para este filme, Morricone escreveu sua obra-prima. E para que os entusiasmados elogios não fiquem restritos a cineastas e críticos cinematográficos, Tornatore recorreu a profissionais da música, entre eles o maestro Antonio Pappano, regente da orquestra da Royal Opera House e da orquestra a Academia Nacional de Santa Cecilia de Roma, e que no próximo ano será o maestro titular das Orquestra Sinfônica de Londres.
 
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