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Com a Palavra Guilherme Ribeiro

- Publicada em 27 de Novembro de 2022 às 18:16

RS precisa investir em logística, diz presidente da Conab

Conab tem capacidade para armazenar 66,8% da produção, diz Ribeiro

Conab tem capacidade para armazenar 66,8% da produção, diz Ribeiro


Antonio Araujo/MAPA/JC
Claudio Medaglia
A experiência em gestão pública colocou o paulista Guilherme Augusto Sanches Ribeiro, 39 anos, na rota do comando de uma das empresas públicas mais estratégicas para a administração federal. À frente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) desde maio de 2021, ele projeta na estrutura papel importante no levantamentos de dados para auxiliar a gestão do agronegócio. E acredita que o Rio Grande do Sul precisa investir na logística, bem como na atualização das unidades armazenadoras, para agilizar os fluxos de escoamento da produção agrícola.
A experiência em gestão pública colocou o paulista Guilherme Augusto Sanches Ribeiro, 39 anos, na rota do comando de uma das empresas públicas mais estratégicas para a administração federal. À frente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) desde maio de 2021, ele projeta na estrutura papel importante no levantamentos de dados para auxiliar a gestão do agronegócio. E acredita que o Rio Grande do Sul precisa investir na logística, bem como na atualização das unidades armazenadoras, para agilizar os fluxos de escoamento da produção agrícola.
Empresas & Negócios - Líderes agrícolas e representantes do governo têm defendido a ideia de que o Brasil tem pela frente uma oportunidade valiosa de se tornar ainda mais protagonista no cenário mundial de alimentos. Qual o papel da Conab nesse processo?
Guilherme Ribeiro - A oportunidade para o Brasil está na produção, pautada principalmente pela produtividade da terra, respeitando as leis ambientais. O País já tem mais de uma safra em uma mesma área, e há espaço para crescimento dessa produção de segunda safra. Além disso, o investimento em novas tecnologias e em melhorias e atualização do manejo da terra pode influenciar num aumento de produtividade, o que nos credita como um grande player no mercado internacional no fornecimento de alimentos. As projeções para a produção de grãos na safra 2022/23 apontam para uma colheita de 313 milhões de toneladas, o que, se confirmado, será um novo recorde na produção de grãos no Brasil. Nesse cenário de crescimento e fortalecimento do setor brasileiro no mundo, a Conab pode auxiliar com o fornecimento de informações, levantamentos de dados mais precisos, de forma a auxiliar na tomada de decisão e na melhor gestão por parte do agro. Isso traz mais transparência, reduz a assimetria de informações entre os produtores e os demais elos da cadeia produtiva, facilitando a gestão de risco da atividade. Por outro lado, auxilia os gestores públicos na melhor adoção de políticas para o setor. A Companhia também atua na execução e formulação da Política de Garantia de Preços Mínimos, o que permite amparar o agricultor, em caso de forte desequilíbrio de preço, para que não haja uma desestruturação do setor em face a uma supersafra ou por uma crise econômica, por exemplo. Isso faz com que o produtor tenha maior segurança na ampliação de área e permite maior estabilidade da oferta de alimentos no Brasil e no mundo.
E&N - A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura orienta que a capacidade estática de armazenagem de um país corresponda a 1,2 vez a produção de grãos. A estrutura de silos e armazéns próprios e credenciados pela Conab é suficiente para absorver a produção nacional?
Ribeiro - A capacidade de armazenagem do Brasil é de 181,1 milhões de toneladas, e a safra 2021/2022 está estimada em cerca de 271,2 milhões de toneladas, o que corresponde, em armazéns, a 66,8% da produção. Apesar de não existir indicação oficial da ONU, essa capacidade vem sendo convencionada como modelo por se aproximar do volume de armazenagem registrado nos EUA, case mundial de sucesso em logística. Além disso, a medida de déficit não tem sua melhor análise ao comparar a capacidade estática com a quantidade produzida de grãos. Enquanto os EUA só têm uma janela climática de colheita e precisam armazenar tudo o que produz de uma só vez, para ir utilizando durante o ano, o Brasil tem várias janelas climáticas, produzindo em diversas safras, e não precisa armazenar toda a sua safra ao mesmo tempo. A Conab entende que a capacidade necessária para o escoamento das safras depende, além da quantidade de armazéns e da safra, das conjunturas de colheita e escoamento da produção. Há, ainda, várias questões que podem dificultar o acesso dos produtores aos armazéns, como a concentração de locais de armazenagem em áreas de produção mais antigas, o grau de tecnologia embarcada nesses espaços, entre outras, que, quando impactam na velocidade de recepção e expedição, podem repercutir na disponibilidade de unidades armazenadoras quando o produtor precisa. Essa visão mais acurada da Conab não quer dizer que não há um problema de falta de armazéns no Brasil. É, sim, um problema real. No entanto, é importante conhecer o real tamanho da dificuldade, bem como suas causas, para que se possa buscar resoluções de maneiras mais eficientes.
E&N - Em 2017, quando a estrutura de estocagem brasileira deveria ser de 285 milhões de toneladas, a capacidade estava 43% abaixo do patamar desejado. O que mudou desde então?
Ribeiro - De 2017 para até este momento, a capacidade estática cresceu a uma média de 1,1 % ao ano enquanto a produção de grãos cresceu a uma média de 2,2%, ou seja, o dobro, o que resultou em uma diferença maior entre a produção e a capacidade de armazenar. É natural que a taxa de crescimento da produção seja maior que a de crescimento de obras de infraestrutura, que são caras e complexas de construir e iniciar o funcionamento.
E&N - O Rio Grande do Sul é um dos Estados brasileiros que mais produzem grãos, segundo dados da própria Conab. Qual é a situação da armazenagem no Estado?
Ribeiro - O Rio Grande do Sul possui uma capacidade estática de 32,3 milhões de toneladas, com armazéns de, em média, 42 anos de idade, além de uma safra 2021/2022 estimada em aproximadamente 25 milhões de toneladas. O Noroeste é a região do Estado com maior capacidade estática, com cerca de 13,5 milhões de toneladas. Em que pese a capacidade estática ser superior à produção, considerando o fluxo de grãos nos armazéns, durante o avanço da colheita, entre abril e junho, é esperado um gargalo na capacidade estática para os grãos produzidos. Para mitigar essa dificuldade, é importante investir na logística, bem como na atualização das unidades armazenadoras de forma a agilizar os fluxos de escoamento. Outra medida importante a ser tomada pelos produtores nesse período é o planejamento que pode ser realizado com auxílio das informações disponibilizadas pela Conab pelo Portal Armazéns do Brasil, ou ainda investir em armazenamento nas fazendas, para que o próprio agricultor tenha gestão sobre o melhor momento de ofertar o produto colhido.
E&N - Com base na evolução da produção de grãos e da capacidade de armazenagem a partir da safra 1999-2000, a sinalização é de que em 2025-2026 haverá um déficit de 76 milhões de toneladas a serem estocadas. Como pensar um agronegócio ainda mais protagonista sem solucionar o problema?
Ribeiro - À medida que a diferença entre a capacidade de armazenar e a quantidade produzida aumenta, a situação se agrava principalmente quando temos retenção de milho ou soja nos armazéns da região produtora. A falta de espaço para armazenar aumenta a utilização de estruturas temporárias, utilizadas até que o produto seja comercializado e escoado. Às vezes, ocorre o armazenamento de milho a céu aberto, como visto no meio do ano em regiões do Paraná e de Mato Grosso, situação que aumenta o risco de perda de produtos, podendo acarretar em perda de qualidade e quantidade. Mas é possível mitigar essa situação com ações de curto, médio e longo prazo. Para o curto prazo, uma possibilidade é o incentivo à utilização de estruturas temporárias. Neste caso, é importante o acompanhamento da divulgação de protocolos de boas práticas para silos bag, bem como o incentivo à avaliação e adoção de outras estruturas temporárias de armazenagem. Já as ações de médio e longo prazo compreendem incentivos financeiros mais robustos ao crescimento da capacidade estática, principalmente em regiões de maior gargalo.
 
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