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Entrevista Especial

- Publicada em 22 de Maio de 2022 às 11:58

Todas as estatais do Brasil deveriam ser privatizadas, diz Mattar

Ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro, Salim Mattar acredita que há espaço para uma terceira via

Ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro, Salim Mattar acredita que há espaço para uma terceira via


ANDRESSA PUFAL/JC
Empresário, presidente do conselho do Instituto Liberal e ex-secretário de Desestatização do governo Jair Bolsonaro (PL), Salim Mattar tem uma convicção: acredita que todas as estatais brasileiras devem ser privatizadas.
Empresário, presidente do conselho do Instituto Liberal e ex-secretário de Desestatização do governo Jair Bolsonaro (PL), Salim Mattar tem uma convicção: acredita que todas as estatais brasileiras devem ser privatizadas.
A crença na ideologia liberal e na premissa de que o Estado deve ser reduzido não são as únicas convicções que fazem o fundador da Localiza ter essa concepção. Para ele, a própria Constituição Federal dispõe que o setor público não pode competir com o privado.
Afirmando ser anti-Lula, ele acredita que ainda há espaço para uma terceira via. Porém, para Mattar, a alternativa para a presidência da República não reside em nenhum dos nomes que foram apresentados até o momento. Mattar esteve semana passada, em Porto Alegre, como convidado do Lide-RS.
Jornal do Comércio - Por que a agenda liberal do governo Jair Bolsonaro não avançou mais?
Salim Mattar - Um tanto da eleição do presidente Bolsonaro foi devido a (Paulo) Guedes (ministro da Economia), que seria o braço liberal do governo e falava sobre uma política de abertura de mercado, fortalecer o direito à propriedade, mais competição, dar um choque de capitalismo no Brasil. Então, Guedes foi nomeado como um super ministro, juntou cinco ministérios em um, mas nenhum de nós éramos de governo, então não tínhamos uma experiência profunda de governo. Ao chegar no governo, nós verificamos que o Congresso (Nacional) tem a responsabilidade de aprovar muitos de nossos projetos. Naquela época, como Bolsonaro assumiu e não quis fazer um governo de coalizão, acabou que ele teve Rodrigo Maia (então DEM) como presidente da Câmara de Deputados. Os dois tinham um embate político e acabou que não existia boa vontade da Câmara dos Deputados em relação aos projetos vindos do governo. Por isso que as coisas não aconteceram tão fácil assim.
JC - A questão do tamanho do Estado também esbarra no Congresso?
Mattar - Sim. O Estado brasileiro é gigantesco, oneroso para os pagadores de impostos. Você imagina que nós temos 81 senadores, temos 3 senadores por estado. Nos Estados Unidos, que é um país rico, são dois senadores por estado. Isso mostra que a nossa máquina está exagerada. Não sei se nós precisaríamos de 513 deputados. Talvez 260, 270, não sei, mas não precisamos de tantos deputados. A máquina brasileira é muito grande. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem 24 mil funcionários e 10 mil estagiários - são 35 mil pessoas. Então a máquina é monstruosa, e para manter essa máquina, haja arrecadação. Então, nós temos como princípio reduzir o tamanho do estado para poder sobrar mais dinheiro para investir no social, das pessoas mais pobres, das pessoas mais vulneráveis, daqueles que não têm moradia, aqueles que têm mais necessidades. Mas, para, isso tínhamos que reduzir o custo do Estado.
JC - Em que setores que o senhor considera que as privatizações são mais importantes?
Mattar - Existe um artigo na Constituição (Federal) que é o de número 173. Diz que o Estado não pode competir com a iniciativa privada. Então tem que vender todas as empresas. Todas. Não há justificativa nenhuma para se manter nenhuma das empresas estatais que o Brasil tem. Inclusive, o governo ou o establishment, estão de alguma forma burlando o artigo 173 da Constituição. Se não estiver burlando, está confrontando o artigo 173 da Constituição. Por isso que, na minha ótica, devemos vender todas as estatais. Não há porque ter banco, empresa de seguro, empresa de processamento de dados não há por que ter tudo isso, então nós deveríamos vender todas.
JC - Qual a sua avaliação do atual momento econômico do Brasil e por que o País saiu pior da pandemia que outros países emergentes?
Mattar - Não, o Brasil não saiu pior. O Brasil foi dos países, durante a pandemia, que teve o menor índice de desemprego, graças às políticas adotadas pelo governo, e também pela legislação. As empresas puderam reduzir a carga horária de trabalho e por consequência reduzir o salário. Com isso se preservou muito emprego no Brasil. Então o Brasil foi um dos países que teve menor índice de desemprego. Dois, o Brasil, neste ano de 2022, será um dos países que vai ter uma taxa de crescimento diferente do que os analistas pensaram. A inflação é um fenômeno mundial. Foi o excesso de dinheiro que os governos jogaram na economia. Todos os governos jogaram muito dinheiro na economia. A inflação, por consequência, trouxe o aumento de juros. Na realidade, o Brasil, você vai ver, até o final do ano, as políticas adotadas pelo governo estão consistentes, e o Brasil vai surpreender em taxa de crescimento e desemprego.
JC - Quais os principais pontos que devem ser discutidos nas reformas tributária e administrativa?
Mattar - O que aconteceu na reforma tributária é que ela desagradou a todos. Desagradou a indústria, o comércio e a agricultura. Por ela ter desagradado a todos, acabou que, legítimo o poder de lobby, esses setores procuraram os senadores e deputados e disseram "olha, essa reforma não está boa". Então, na realidade, não existe hoje uma resistência a uma reforma tributária, existe resistência a esta reforma tributária. Com referência a reforma administrativa, a resistência está dentro do establishment, porque a reforma administrativa mexe com interesses, mexe com remunerações dos servidores públicos, e essa sim foi mais difícil e dificilmente vai decolar, ainda mais em ano de eleições
JC - O senhor, citou, por exemplo, reduzir pela metade o número de deputados federais.
Mattar - Quem é que vai votar isso? São eles, os deputados e senadores.
JC - Então como fazer essa redução?
Mattar - Quando nós tivermos mais - nós temos muitos senadores e deputados responsáveis -, nós precisamos ter mais senadores e mais deputados responsáveis que entendam que de fato o Brasil está muito caro para o pagador de impostos, e precisamos reduzir essa estrutura, então precisamos eleger melhores pessoas nas próximas eleições, termos melhores mandatários. É importante que todos nós cidadãos brasileiros nos envolvamos um pouco mais na política. Às vezes não é se candidatando, às vezes é apoiando bons candidatos, as vezes é discutindo causas da sociedade, às vezes é reunindo com mandatários para poder apresentar suas queixas, suas necessidades. Então nós, a sociedade, precisamos estar mais perto do Congresso, porque de uma certa forma os nossos governantes ficam enclausurados, cheios de problemas que chegam todos os dias, mas nós não estamos os pressionando à altura. É legítimo que a sociedade pressione os nossos governantes.
JC - Acredita que ainda há espaço para alguma terceira via?
Mattar - Política é igualzinho nuvem, cada hora que você olha está de um jeito diferente. Vai passar muita água de baixo da ponte, estamos no mês de maio. Falta junho, julho, agosto, setembro quatro meses ainda faltam, pode acontecer muita coisa. Eu não subestimaria a possibilidade de existir uma terceira via. Não isso que está aí hoje discutido. Essas que estão hoje postas sobre a mesa acho que dificilmente decolaram, mas pode surgir um fato novo a qualquer momento.
JC - A oposição afirma que existe o risco de ruptura institucional e democrática em caso de resultado diferente de uma reeleição do atual presidente. Acredita que é possível?
Mattar - Não. Isso é falácia da oposição, a esquerda mente muito e ela faz isso só para poder provocar e fazer tumulto. O Brasil é um país sério. Olha, o ministro (do Supremo Edson) Fachin não cancelou as quatro ações contra o Lula? Houve greve? Os brasileiros pegaram em armas? Os brasileiros se revoltaram? Não, nós somos um povo pacífico e civilizado. Nós não somos educados, porque temos 11 milhões de analfabetos e 38 milhões de analfabetos funcionais, então não somos um povo educado, mas somos um povo civilizado. Da mesma forma que Fachin liberou Lula, e metade da população brasileira simplesmente aceitou, concordou como uma ordem do Supremo, aconteceu. Se Bolsonaro perder as eleições, o Brasil inteiro vai aclamar Lula como presidente, e não vai acontecer nada. Isso é falácia da oposição. A oposição busca todos os meios possíveis para, de alguma forma, denegrir a imagem de Bolsonaro, e isso é uma falácia da esquerda.
JC - Qual será a sua posição durante as eleições, irá caminhar com Bolsonaro ou apoiará outro candidato no primeiro turno?
Mattar - Eu sou anti-Lula, então votarei hoje. Tem dois candidatos: Lula e Bolsonaro. Eu sou anti-Lula em qualquer circunstância, sou anti-PT e anti-esquerda. Em qualquer turno sou anti-PT. Não quero correr riscos, então prefiro já no primeiro turno, neste caso, hoje, entre esses dois candidatos, eu votaria tranquilamente e conscientemente em Bolsonaro. Muita água vai correr até outubro, pode ser que surja um fato diferente, um nome que não se espera pode cair de paraquedas na política brasileira, alguma coisa, e aí então a gente tem que avaliar.
JC - A pandemia desorganizou cadeias econômicas no mundo e, quando parecíamos estar saindo dela, veio a guerra no Leste Europeu. Quando o senhor acredita que a economia global pode alcançar uma estabilização após esses anos muito turbulentos?
Mattar - Na história, o mundo viveu de crises. Depois da Primeira e Segunda Guerra Mundial, tivemos algumas guerras esparsas, segmentadas, mas depois tivemos o choque do petróleo em 1973, o segundo choque do petróleo em 1978, depois veio a crise da dívida externa aqui no Brasil em 1993 e 1994, depois tivemos a crise do Plano Collor que confiscou toda a poupança, depois veio a crise de 2007 e 2008, depois veio a pandemia, agora a guerra da Rússia com a Ucrânia. Então, crise é uma coisa que temos que nos acostumar que vai acontecer sempre de tempos em tempos. A de 2008 hoje estamos em 2022, foi muito pouco tempo e já tem uma outra crise instalada. Essa crise vai acabar e vai vir outra. Alguns líderes acham necessidade do isolamento da Rússia e percebe-se e preocupa-se com qual será o comportamento da China. Com isso, vai faltar petróleo e o preço de petróleo e de gás sobe. E falta fertilizante no Brasil, então vão subir produtos agrícolas como milho, soja, alimento vai subir de preço. Mas a sociedade sempre se ajusta à crise, principalmente quando o governo intervém menos. Porque a crise, por exemplo, de hoje, da inflação e de juros, foi proveniente da interferência de governo irrigando dinheiro no mercado. Esse dinheiro que se jogou no mercado trouxe a inflação e taxa de juros. Então, a interferência do governo é que prejudica. Os governos sempre vão, de alguma forma, por segurança nacional, vão tomar medidas de "não vamos importar petróleo da Rússia". Ok. É uma medida de segurança que temos que aceitar e respeitar. Mas a sociedade está passando por ajustes; mas crises, essa vai passar e outras virão pela frente.
JC - Como a inflação de hoje é resultado do governo?
Mattar - A inflação acontece quando tem mais dinheiro do que mercadoria para comprar. Então o dono da mercadoria sobe o preço. No momento, não se acha carro para comprar, então o preço do carro sobe. Você não consegue desconto na concessionária, antes você conseguia 5%, R$ 10 mil, qualquer coisa. Hoje você não consegue desconto da concessionária, porque tem mais demanda do que oferta. Ao ter mais demanda que oferta, o preço sobe. Então, as montadoras brasileiras e internacionais tiveram os maiores lucros da história deles no ano passado. Porque tiveram pouco carro e muita demanda, eles subiram o preço. Quando o governo brasileiro, governo americano irrigaram, na época da pandemia. No Brasil só na pandemia, foram mais de R$ 800 bilhões que se mandou para os estados e as prefeituras. O dinheiro chegou, sobrou dinheiro, o que está acontecendo agora? Está vindo a inflação. A inflação é consequência de um desajuste entre a demanda e a oferta. Uma overdemanda como agora, para carros, tem que esperar quatro, seis meses para comprar um carro. A overdemanda é proveniente de um excesso de dinheiro no mercado. As pessoas estão com dinheiro demais na conta, estão comprando, como estão comprando, e não tem produto, o produto sobe. Toda a inflação que estamos vivendo hoje é proveniente do excesso de dinheiro que os governos jogaram na economia, sob o título de preservar a economia.

Perfil

Fotos para a entrevista especial com Salim Mattar

Fotos para a entrevista especial com Salim Mattar


/FOTOS: ANDRESSA PUFAL/JC
Empresário brasileiro e fundador do Instituto de Formação de Líderes, Salim Mattar é um dos maiores defensores da causa liberal no Brasil e tem apoiado muitos dos mais de 100 institutos existentes no País. Membro ativo do Instituto Liberal, fundou os institutos de Formação de Líderes de Belo Horizonte, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Curitiba, Fortaleza e Lajeado. Mattar foi também um dos fundadores do Instituto do Livre Mercado, que atua junto ao Congresso Nacional com o apoio à Frente Parlamentar do Livre Mercado. Foi secretário de Desestatização do governo Jair Bolsonaro (PL) e, durante os 19 meses que esteve no setor público, coordenou a desestatização de 84 empresas ligadas ao governo federal, entre estatais, subsidiárias, coligadas e investidas. Atualmente, dedica-se à disseminação do ideário liberal, na formação de futuros líderes e na expansão dos institutos pelo País. Como empresário, foi um dos fundadores da Localiza Rent a Car S.A. e possui investimentos nos ramos de seguros, helicópteros de transporte para plataformas de petróleo e agronegócio.