Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política

- Publicada em 16 de Junho de 2021 às 14:42

Governo federal não repassou leitos e boicotou hospitais de campanha, diz Witzel

Witzel reforçou que 'a ideia do governo federal era a contaminação de rebanho'

Witzel reforçou que 'a ideia do governo federal era a contaminação de rebanho'


JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO/JC
Agência Estado
O governador cassado do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou que pediu ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que entregasse todos os hospitais federais e a verba necessária para fazer a reestruturação e administração no combate contra a Covid-19. Segundo o ex-governador, a intenção da gestão estadual era construir 1.500 de hospitais de campanha, mas os planos "foram sabotados". "A conclusão que eu chego é que não me deram os leitos e ainda sabotaram os hospitais de campanha exatamente para criar o caos", denunciou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quarta-feira (16).
O governador cassado do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou que pediu ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que entregasse todos os hospitais federais e a verba necessária para fazer a reestruturação e administração no combate contra a Covid-19. Segundo o ex-governador, a intenção da gestão estadual era construir 1.500 de hospitais de campanha, mas os planos "foram sabotados". "A conclusão que eu chego é que não me deram os leitos e ainda sabotaram os hospitais de campanha exatamente para criar o caos", denunciou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quarta-feira (16).
Wilson Witzel afirmou que, no início de 2019, foram solicitados 800 leitos ao então ministro da Saúde Henrique Mandetta para a administração do Estado com foco no Sistema Único de Saúde (SUS). Em sua avaliação, com tais leitos, o Rio de Janeiro poderia estar "mais preparado" no combate à pandemia. "Talvez nem fossem necessários os hospitais de campanha".
No processo de impeachment votado no início de maio em que Witzel foi condenado, estava a gestão dos hospitais de campanha do ex-governador. Ele foi condenado por crimes de responsabilidade na resposta do governo do estado à pandemia e, especificamente, pela requalificação da organização social Instituto Unir Saúde ao assumir contratos com a administração pública e a contratação da OS Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) para a construção e gestão de hospitais de campanha no ano passado.
Ainda em críticas à gestão federal, Witzel reforçou que "a ideia do governo federal era a contaminação de rebanho". Segundo ele, foram feitas reuniões para o combate da pandemia com especialistas que constataram que a contaminação de rebanho e o isolamento vertical "não seriam suficientes para o Rio de Janeiro". Witzel afirma que tomou medidas restritivas em aeroportos, rodovias e esvaziamento das praias para que o Estado tivesse condições para avaliar o progresso da doença no território carioca.
O governador cassado ainda afirmou que não conseguiu se reunir com o ex-ministro da Saúde Nelson Teich e esteve apenas uma vez com o também ex-ministro Eduardo Pazuello, em visita ao hospital de campanha do Maracanã. "Em todas essas oportunidades, os hospitais federais não foram colocados à disposição no Estado do Rio de Janeiro. Enquanto eu fui governador, eu não tive a colaboração absolutamente nenhuma para poder fazer enfrentamento ao combate ao coronavírus", declarou.

Witzel diz que vai revelar 'fato gravíssimo' em sessão sigilosa

O ex-governador do Rio de Janeiro afirmou que houve um "fato gravíssimo" de intervenção do governo federal em sua gestão para promover alterações na estrutura de governo. Segundo ele, o fato só será revelado se houver uma sessão em sigilo de Justiça.
Witzel reforçou o discurso de que não há intervenção estadual nos hospitais federais, que classificou como "intocáveis". "Tem um dono e essa CPI pode descobrir quem é o dono daqueles hospitais", afirmou.
O ex-governador ainda pontuou que "não havia uma coordenação" nacional no combate à pandemia da Covid-19. Segundo ele, logo após serem decretadas medidas estaduais contra o vírus, o presidente Jair Bolsonaro fazia um pronunciamento minimizando a doença.
"Havia um pronunciamento oficial, que eu entendo como um pronunciamento criminoso, que impedia o governador de fazer o trabalho dele", disse, citando os episódios que Bolsonaro classificou o vírus como uma "gripezinha". Witzel afirmou que a omissão federal foi a maior dificuldade no combate à pandemia.
Witzel ainda avaliou que, na atual gestão estadual, comandada por Cláudio Castro, há uma mudança da relação entre o governo Bolsonaro e o Estado do Rio de Janeiro. "Atual governador do Rio de Janeiro apoia Bolsonaro, se fosse eu, não haveria carreata e motociata", declarou.

Perseguição

Wilson Witzel prometeu, no depoimento à CPI da Covid, "aprofundar" suas acusações sobre estar sendo perseguido politicamente por instituições de Estado em um nova e sigilosa oitiva. A CPI avalia tomar novo depoimento de Witzel sob segredo de Justiça, como sugeriu há pouco o ex-governador. "Reafirmo que me considero perseguido politicamente por uma instituição que não deveria ser politizada, para aprofundar sobre isso, acredito que deva ser em segredo de Justiça", afirmou Witzel.
O depoimento até agora é marcado por uma série de interrupções do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), em razão de questionamentos do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre a relação entre Witzel e a família Bolsonaro, que hoje estão rompidos. "O que isso tem a ver com Covid, na boa"?, questionou o filho de Jair Bolsonaro durante o interrogatório de Renan.
Integrantes da CPI começaram a questionar a pertinência de o relator fazer perguntas a Witzel não relacionas à pandemia, com endosso do próprio presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM). "Se Flávio apoiou Witzel, se Witzel apoiou Flávio, é problema deles", pontuou Aziz.
Renan, com apoio de outros senadores da oposição, continuou perguntando ainda por qual razão o ex-governador declarou, em outra ocasião, que Flávio Bolsonaro deveria estar preso. "Está me desrespeitando como senador, e vou querer falar", interrompeu Flávio. "Como essa questão é delicada e foi feita fora da situação da Covid, trata da eleição e outros fatos peço escusas para não comentar tal declaração", respondeu Witzel.

Bate-boca com Flávio Bolsonaro

Declarações de Witzel colocando sob suspeita a atuação da subprocuradora Lindôra Araújo desencadearam um bate-boca na comissão, protagonizado pelo governador cassado e o senador Flávio Bolsonaro. Aliados no passado, os dois estão rompidos e trocaram farpas na CPI. A tensão aumentou quando Witzel alegou perseguição em razão das investigações das quais é alvo e sugeriu a quebra de sigilo da procuradora, com a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).
Witzel propôs então a realização de um segundo depoimento, reservado e em segredo de Justiça, para apresentar elementos para uma investigação "contra pessoas que estão desvirtuando a atuação funcional". "E vamos descobrir quem está patrocinando investigação contra governador", disse ele.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que irá avaliar como essa segunda oitiva poderá ser feita. "A dr. Lindôra em ofício encaminhado a governadores demonstra que é parcial no trabalho", disse Witzel.
"Filho 01" do presidente Jair Bolsonaro, Flávio se pronunciou dizendo ser "grave" a acusação do ex-governador, e pediu que o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde as investigações tramitam, seja notificado sobre. "Muito grave, ele foi afastado por decisão do ministro Benedito, em seguida pela Corte especial, está dizendo que há um conluio de ministros do STJ para persegui-lo, deveria ter notificação para ser apurado o que está sendo trazido por ele", rebateu Flávio.
As interrupções do senador durante a fala de Witzel fizeram senadores de oposição apontarem para um "ato de intimidação" por parte de Flávio Bolsonaro. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a sugerir que o depoimento fosse prestado de forma reservada desde já.
"Não faço a menor questão de que o senador Flávio esteja ou não presente", respondeu Witzel. "Se for reservado, vou estar presente também", rebateu Flávio, que ainda protagonizou um bate-boca com Renan. "Não tenho problema de estar na presença dele (Flávio), conheço ele desde garoto, a família, seu pai de longa data, e minha questão aqui não é pessoal, é em defesa da democracia", disse Witzel, seguido por uma alfinetada de Flávio. "Que discurso lindo".
"Se o senhor fosse mais educado e menos mimado, teria respeito", rebateu o ex-governador. "Não vai me intimidar não. Flávio é contumaz em dar declarações atacando o Poder Judiciário", completou Witzel, para quem governadores precisam ter foro no STF em razão de uma "perseguição do governo federal".
Segundo o governador cassado, houve vazamento sobre operações da Polícia Federal contra governadores. Witzel disse ainda que o operador que menciona seu nome numa escuta telefônica pode ter sido coagido. As investigações contra o governador cassado e o suposto esquema de corrupção na área da Saúde do Rio apontam escutas em que o operador financeiro de Mário Peixoto, Luiz Roberto Martins, teria citado o ex-juiz federal.

Queiroz

Wilson Witzel negou que tenha interferido nas investigações envolvendo o ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e afirmou ter dito à época que a polícia tinha independência para seguir a investigação. "O que a Polícia fez ou deixou de fazer ela fez de forma independente, sem minha intervenção", reforçou.
Em depoimento à CPI, Witzel defendeu que, com ele, não foi encontrado "nenhum centavo nem qualquer bem que seja considerado de valor" e afirmou que o que aconteceu foi um "assassinato de reputação" contra seu mandato incentivado pela imprensa. Questionado sobre a relevância das perguntas sobre os processos contra Witzel, o relator Renan Calheiros (MDB) afirmou que as perguntas se vinculam à CPI porque fatos ocorreram após apuração de desvios da Covid-19.
Apesar da defesa de sua inocência, o presidente da comissão interveio na fala do governador cassado e afirmou que "não dá pra esconder que um secretário da sua administração foi pego com R 18 milhões". "Não é possível que uma pessoa tenha desviado R 18 milhões e ninguém informar para uma controladoria", disse Aziz.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO