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Política

- Publicada em 02 de Junho de 2021 às 13:40

País está na 'vanguarda da estupidez', diz Luana Araújo sobre combate à pandemia

'Estamos discutindo algo que é um ponto pacificado para o mundo inteiro', afirmou à CPI

'Estamos discutindo algo que é um ponto pacificado para o mundo inteiro', afirmou à CPI


JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO/JC
Agência Estado
A médica Luana Araújo afirmou nesta quarta-feira (2) à CPI da Covid que nunca conversou com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o tratamento precoce para a covid enquanto esteve na pasta. Ela chamou a discussão de "delirante, esdrúxula e contraproducente". Luana deixou a equipe de Queiroga dez dias após ter sido anunciada para o cargo, em razão de sua nomeação não ter sido aprovada.
A médica Luana Araújo afirmou nesta quarta-feira (2) à CPI da Covid que nunca conversou com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o tratamento precoce para a covid enquanto esteve na pasta. Ela chamou a discussão de "delirante, esdrúxula e contraproducente". Luana deixou a equipe de Queiroga dez dias após ter sido anunciada para o cargo, em razão de sua nomeação não ter sido aprovada.
Para ela, o Brasil ainda está na "vanguarda da estupidez" em vários aspectos no combate à pandemia, porque continua a discutir questões que não teriam "nenhum cabimento", como o uso de medicamentos sem eficácia comprovada. "Ainda estamos discutindo de qual borda da terra nós vamos pular", ironizou em referência a teoria terraplanista.
"Estamos discutindo algo que é um ponto pacificado para o mundo inteiro. É preciso que a gente aprenda com outros lugares", disse. Em sua fala inicial, a médica afirmou ser muito perigoso o Brasil abra mão do intercâmbio de informações com outros países, cedendo "a mistura aflitiva de falta de informações, desespero e arrogância". "Pode ser letal", disse.
"Isso (tratamento precoce) não foi nenhuma discussão. Esse assunto nunca existiu entre nós. A nossa discussão é em outro nível", disse ela sobre a relação que teve com Queiroga durante a passagem pelo ministério.

Ameaças

Luana ainda relatou que, antes mesmo do episódio, e depois, sofreu várias ameaças nas redes sociais. "Depois disso (de passar pelo ministério) já tentaram até divulgar meu endereço pela internet", afirmou.
Luana Araújo afirmou não saber se os ataques que recebeu por criticar o que chamou de "pseudo" tratamento precoce e defender o distanciamento social para combate à pandemia estão relacionados ao fato de seu nome ter sido vetado no governo para assumir a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde. A médica comentou que a hipótese, levantada pelo senador Tasso Jereissati, a ela, a deixa "extremamente envergonhada".
"Se o veto ao meu nome foi por conta de minha posição científica, técnica e necessária para exercer essa posição, a mim só me resta lamentar, não sei se foi, mas se foi, considero trágico", respondeu ela.

Autonomia médica

A médica infectologista também disse na CPI que "qualquer pessoa", independente de cargo ou posição social, que defende métodos sem comprovação científica para o tratamento doenças, tem "responsabilidade sobre o que acontece depois". Luana também reforçou que a autonomia médica, apesar de fazer parte da prática, "não é licença para experimentação".
Ainda sobre a autonomia médica, preceito usado como argumento pelo Executivo para defesa do uso de fármacos sem a eficácia comprovada para o tratamento da covid-19, a infectologista afirmou que a autonomia, apesar de precisar ser defendida, necessita ser amparada com base em alguns pilares. "O pilar da plausibilidade teórica do uso daquela medicação, do volume de conhecimento científico acumulado até aquele momento sobre aquele assunto, no pilar da ética e no pilar da responsabilização" afirmou.
"Existe um aumento da mortalidade com o uso de cloroquina e hidroxicloroquina", afirmou a médica, citando estudos de análise realizados sobre o fármaco. "Quando a gente transforma isso numa decisão pessoal é uma coisa, quando você transforma isso numa política pública, é outra", declarou Luana.
Inquirida sobre quais impactos sociais têm declarações como as do presidente da República, Jair Bolsonaro, na defesa de métodos como o tratamento precoce, mesmo sem eficácia comprovada, Luana afirmou que quando se faz defesa de algo sem comprovação científica, como ele, "você expõe as pessoas do seu grupo a uma situação de extrema vulnerabilidade".

TrateCov

A médica comentou, como especialista, sobre sua avaliação do aplicativo TrateCov, plataforma que recomendava o uso de antibióticos, cloroquina, ivermectina e outros fármacos para náusea e diarreia ou para sintomas de uma ressaca, como fadiga e dor de cabeça, inclusive para bebês para o tratamento de covid. Para a médica, "algoritmos técnicos que auxiliem os médicos principalmente em situação de faltas de recursos, são importantes. O que eles não podem é apontar para terapias que não funcionem", disse.
Luana também afirmou que, se novamente convidada para ocupar o cargo de Secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, ela não aceitaria a posição.

Coordenação do governo

A médica infectologista criticou a falta de coordenação do governo federal para o combate à pandemia no Brasil. "A coordenação entre esferas de governo é absolutamente fundamental", afirmou a médica. Segundo ela, é necessário "uma mensagem única" por parte das autoridades do País para lidar com problemas como a pandemia.
Luana recorreu a uma alegoria militar para explicar o caso. "É uma estratégia quase que militar. Você tem um inimigo importante, e aí você começa a dispersar seus soldados, cada um faz uma coisa, como é que a gente tem força para lidar com aquilo? Não tem, então é uma questão até de bom senso", afirmou a infectologista.
Para Luana, faltou a pactuar as decisões referentes ao combate da pandemia com todas as esferas de governo. "Eu acho que essa é uma das razões pelas quais o ministro Queiroga insistiu tanto na criação dessa secretaria, que tem por objetivo fazer essa coordenação, promover uma melhor coordenação nesse momento". O nome da médica foi vetado no governo para assumir a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde.
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Médica infectologista Luana Araújo, em depoimento à CPI da Covid. Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
A infectologista comentou sobre a realização da Copa América no País. Segundo ela, o uso de protocolos rígidos "ameniza riscos", mas não os anula. "Acho que quando a gente toma uma decisão como essa a gente precisa pesar todos os prós e contras desse tipo de situação", afirmou. Ela disse não acreditar que este é o momento oportuno para o evento. "É um risco desnecessário de ser corrido nesse momento", afirmou.
Luana Araújo afirmou, também, que em regimes democráticos o combate à pandemia também se faz por meio de "comunicação clara e de mensagem única" à sociedade. Do contrário, a população fica perdida, na avaliação dela.
"Se cada um diz uma coisa, em quem eu acredito? Principalmente se não tenho conhecimento técnico para avaliar (a informação)", disse em resposta aos questionamentos do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Estratégias claras de comunicação de mensagem única baseada em ciência são fundamentais", afirmou Luana.
A médica disse que defende a liberdade das pessoas de manifestarem suas opiniões, mas ressaltou que isso gera consequências, devendo haver uma responsabilização. "Eu defendo a liberdade das pessoas, mas também a responsabilização", disse. "Se você não segue isso (preceitos da ciência), precisa entender o tamanho da consequência de passar essa informação para as pessoas".
"Acho que minha posição, alinhada a ciência, já ficou bastante clara, o direito de todo cidadão ser informado, mas também acho que todos nós temos responsabilidade sobre aquilo que a gente coloca em relação a pandemia, se negativos ou positivos, teremos que lidar com eles em algum momento", afirmou Luana.
Para ela, em situações de desespero as pessoas absorvem a informação que melhor atende aos seus anseios. Por exemplo, tomando "qualquer coisa" que alguém lhe indique, mesmo que não haja comprovação da ciência. Por isso, a médica defendeu que as pessoas sejam responsáveis sobre o que divulgam.
Luana também destacou que, para cada fase da pandemia se exigem ferramentas diferentes, mas que isso não foi discutido em nenhum momento no Brasil. "Não que eu tenha visto. (...) Não tenho a ilusão de viver em lockdown absoluto para sempre, mas existem ferramentas específicas para cada fase da pandemia", disse ela no depoimento.
Luana também foi questionada se chegou a ser inquirida por alguma pessoa do suposto "gabinete paralelo" de aconselhamento ao presidente na pandemia. "De forma alguma", disse ela, respondendo ainda que não conheceu ninguém da família Bolsonaro.

Freixo

O líder da Minoria na Câmara, deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), elogiou a postura da médica Luana Araújo no depoimento à CPI da Covid. Para Freixo, Luana "mostra que o desgoverno Bolsonaro não quer profissionais qualificados para enfrentar a pandemia, quer apenas cúmplices para seus crimes".
"Que bálsamo ouvir Luana Araújo na CPI depois das pedradas de ontem", exaltou Freixo no Twitter, em referência ao depoimento da médica Nise Yamaguchi na sessão de terça-feira (1º). O deputado ainda fez uma crítica ao governo do presidente Jair Bolsonaro pela compra de máscaras impróprias e superfaturadas.
Nesta manhã, o jornal Folha de S.Paulo publicou que o foi enviado um documento à comissão que aponta a compra de máscaras impróprias a profissionais de saúde pelo Ministério da Saúde e por valor acima do praticado no mercado. Segundo a reportagem, foram gastos cerca de R 350 milhões com os 40 milhões de máscaras. "O desgoverno Bolsonaro gastou R$ 350 milhões em máscaras superfaturadas que não protegem adequadamente os profissionais de saúde", pontuou. Segundo ele, a CPI tem o dever de investigar o caso.

Negacionismo

Em depoimento, Luana afirmou ser "perigoso ceder a saídas rápidas e inexistentes" para combater a pandemia, e classificou a origem do negacionismo como "falta de informação". "Eu nem gosto da palavra negacionista. Acho que a raiz desse comportamento é a falta de informação, compreensão. Porque uma vez que ela (a pessoa) compreende, tira dúvidas e não defende mais algo que é indefensável", afirmou a médica.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) observou, por sua vez, que existem pessoas com acesso a informações e que continuam a defender uma posição "negacionista" em relação a pandemia, citando o deputado federal e médico Osmar Terra. "Tem um ato de vontade, posição explícita, determinada", comentou o senador petista.

Nise Yamaguchi

O senador e membro da CPI da Covid Otto Alencar (PSD-BA) se defendeu das críticas que têm recebido após ter realizado uma série de questionamentos mais técnicos à doutora Nise Yamaguchi na sessão de terça-feira (1º) do colegiado. Senadores governistas viram nos questionamentos a tentativa de constranger a convidada.
"Minha insurgência foi totalmente científica. Era um debate entre um médico e uma médica. Não entre o senador e a professora, ou a médica que estava defendendo uma tese, que não era minha tese. Eu defendo isso há muito tempo. Tenho lido e estudado com a convicção de que o País precisa de vacina, imunização, negada permanentemente pelo senhor presidente da República", disse o senador.
"Até o próprio presidente da República eu nunca me dirigi de forma pessoal para atingir a sua pessoa, jamais. Tenho posições contra a política doutrinária de costume, de linguagem. E senhor presidente, falando em linguagem, eu acho que nenhum dos senadores que me criticaram poderia fazê-lo, porque o presidente da república usa uma linguagem completamente distinta da minha (...). Porque os senadores bolsonaristas também não fazem uma criticazinha para mudar o comportamento errático, inadequado de um presidente da República?", questionou.
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