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Política

- Publicada em 21 de Maio de 2021 às 13:16

Emails da Pfizer comprovam omissão da gestão Bolsonaro na busca por vacinas, dizem senadores da CPI

Ausência de respostas para a compra de vacinas pela Pfizer se tornou um dos temas centrais

Ausência de respostas para a compra de vacinas pela Pfizer se tornou um dos temas centrais


Jeenah Moon/Getty Images/AFP
Senadores que integram o grupo majoritário da CPI da Covid, formado por independentes e oposição, consideram que os e-mails enviados pela Pfizer comprovam a omissão do governo nas tratativas para comprar vacinas contra a Covid-19.
Senadores que integram o grupo majoritário da CPI da Covid, formado por independentes e oposição, consideram que os e-mails enviados pela Pfizer comprovam a omissão do governo nas tratativas para comprar vacinas contra a Covid-19.
O lado governista da comissão, por sua vez, considera que essas comunicações fazem parte de um esforço para se criar uma narrativa falsa contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Reportagem da Folha mostrou que emails enviados pela Pfizer ao Ministério da Saúde, entregues à CPI em caráter de sigilo, evidenciam a insistência da farmacêutica para negociar vacinas com o governo federal, ao mesmo tempo que deixam clara a ausência de respostas conclusivas às propostas apresentadas pela empresa.
De 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, quando o presidente mundial do laboratório mandou carta ao Brasil, foram ao menos dez emails enviados pela farmacêutica discutindo e cobrando resposta formal do governo sobre a oferta apresentada.
A ausência de respostas para a compra de vacinas pela Pfizer se tornou um dos temas centrais da CPI, principalmente após depoimento do ex-secretário Fabio Wajngarten, na semana passada. Wajngarten disse à comissão que iniciou tratativas com a Pfizer após constatar que as propostas para a venda de vacinas da empresa ficaram quase dois meses sem resposta do governo. A fala foi corroborada com a oitiva seguinte, do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.
Para senadores do grupo majoritário da CPI, os e-mails da Pfizer deixam claro que o governo buscava combater a pandemia com métodos alternativos, que não passavam pela vacina.
"Os documentos apontam que a CPI está no caminho correto da investigação. Enquanto os brasileiros precisavam de vacina, máscaras e oxigênio, o governo escolheu a contaminação de todos e o negacionismo, o resultado é a tragédia que estamos vivendo", disse à Folha o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O também integrante da CPI e médico de formação Otto Alencar (PSD-BA) compartilha a visão do vice-presidente da comissão.
"Esses e-mails comprovam o que desconfiávamos, de que o governo Bolsonaro postergou a compra de vacinas, porque tinha a falsa crença de que a hidroxicloroquina e a imunidade de rebanho iriam funcionar no enfrentamento à pandemia", afirmou o senador.
Otto Alencar afirma que as investigações certamente vão revelar novos fatos e informações nessa direção, de omissão na compra de vacinas.
"Vacina nunca foi prioridade. Bolsonaro foi muito franco com isso, tanto que no fim do ano passado ele disse que o vírus ia embora e que não iria comprar vacina", completou o senador.
Os e-mails enviados pela empresa devem abrir uma linha de investigação. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirma que as mensagens deixam claro que as negociações não foram levadas adiante de uma maneira diligente.
"Eles mostram que a negociação foi, na melhor das hipóteses, amadora é lenta", afirmou.
O lado governista da CPI, por outro lado, desdenha das informações contidas nos e-mails e afirma que se trata de uma tentativa de criar uma narrativa para atingir diretamente o presidente Jair Bolsonaro.
"É impressionante a narrativa que se quer criar. Essa discussão é inócua. Os governadores conseguiram no Supremo Tribunal Federal o direito de comprar vacinas. Quantas doses da Sputnik já chegaram ao Brasil? Por que elas não foram compradas? Porque não tinha aprovação da Anvisa", afirma o senador governista Ciro Nogueira (PP-PI), em referência ao fato de que na época dos e-mails a agência de vigilância sanitária não havia aprovado a imunização da Pfizer.
"Essa discussão da Pfizer é para se criar uma narrativa falsa contra o governo. O que é fato é que todas as tratativas com a Pfizer nesse período aí, a Pfizer sempre ofereceu muito menos vacinas do que o governo brasileiro comprou neste ano. Impressionante essa narrativa. É uma tentativa muito grande de tentar criar um fato errado contra o governo", completou.

Cronologia dos emails entre Pfizer e Ministério da Saúde

31 de julho de 2020: Pfizer pede audiência urgente com a pasta. País registrava cerca de 92,5 mil mortes;
4 de agosto de 2020: Ministério confirma reunião para dia 6 de agosto;
8 de agosto de 2020: País ultrapassa marca de 100 mil mortos por Covid-19;
14 de agosto de 2020: Empresa envia a proposta formal para fornecimento de futura vacina. Previsão era de 70 milhões de doses, acima das 30 milhões discutidas anteriormente;
17 de agosto: Envia um email a técnicos da Saúde um link para acessar documentos com informações sobre a vacina e a proposta. Envia um segundo email a técnicos da Economia informando sobre a proposta que havia sido feita;
18 de agosto de 2020: Pfizer afirma que consegue antecipar 1 milhão de doses para entrega em ainda 2020, após aval da Anvisa. Email reforça que a validade da proposta era 29 de agosto e pede urgência para resposta;
19, 21, 25 e 26 de agosto de 2020: Pfizer faz contato telefônico e eletrônico e pede uma posição do ministério. Envia proposta com revisão no cronograma e entrega de doses;
29 de agosto de 2020: Data limite da primeira oferta. Não há documento entregue pela Pfizer à CPI referente a este dia. Mortes por Covid-19 passam de 120 mil;
2, 12 e 15 de setembro de 2020: Pfizer faz novo contato com ministério e se coloca à disposição para reunião sobre o andamento dos estudos da vacina. No período, presidente mundial da Pfizer encaminha mensagem a Bolsonaro e Pazuello. Empresa diz que fechou acordo com os Estados Unidos e reforma que celeridade é crucial, pois há número limitado de doses em 2020. Email enviado ao presidente Bolsonaro e ministros é encaminhado a integrantes do Ministério da Saúde;
14 de outubro de 2020: Número de mortes já passava de 150 mil no país. Empresa envia dados ao Programa Nacional de Imunizações;
27 de outubro de 2020: Reunião entre Pfizer e governo para retomar as negociações;
10 de novembro de 2020: Pfizer tem reunião com Bolsonaro, Guedes e Wajngarten. Foi reapresentada a proposta de 70 milhões de doses, com um mínimo a ser adquirido no primeiro semestre e o restante no segundo semestre. Empresa reforça que contrato será efetivado somenta após aval da Anvisa, "sem qualquer risco/prejuízo financeiro ao país caso nossa vacina não receba o registro";
13 de novembro de 2020: Número de mortes chega a quase 165 mil. Ministério confirma reunião com a empresa para 17 de novembro;
24 de novembro de 2020: Pfizer manda termos atualizados do acordo. Validade da proposta é 7 de dezembro. Depois disso, doses serão distribuídas a outros países;
2 e 3 de dezembro de 2020: Empresa tenta contato telefônico e eletrônico, relata ter deixado inúmeras mensagens, mas não obteve a resposta;
4 de dezembro de 2020: Ministério enviar uma contraproposta à empresa;
6 e 9 de dezembro de 2020: Pfizer pede reunião para discutir contraproposta e mostra que memorando de entendimento depende de medida provisória do governo, ainda a ser editada;
10 de dezembro de 2020: Ministério fecha memorando de entendimento com a Pfizer. Brasil chega perto de 180 mil mortes.
Folhapress
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