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Entrevista especial

- Publicada em 14 de Março de 2021 às 22:16

Adiló aposta em vacina e testagem em massa contra pandemia

'Só vejo uma saída hoje: a vacinação e a testagem em massa', projetou o prefeito de Caxias do Sul

'Só vejo uma saída hoje: a vacinação e a testagem em massa', projetou o prefeito de Caxias do Sul


fotos: Juliane Ribas/Prefeitura de Caxias do Sul/JC
Diante do agravamento da pandemia de coronavírus em todo o Rio Grande do Sul, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), não tem dúvida sobre a solução: vacinação e rastreamento do contágio. "Só vejo uma saída hoje: a vacinação e a testagem em massa."
Diante do agravamento da pandemia de coronavírus em todo o Rio Grande do Sul, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), não tem dúvida sobre a solução: vacinação e rastreamento do contágio. "Só vejo uma saída hoje: a vacinação e a testagem em massa."
Adiló tem pressa para vacinar a população de Caxias. Por isso, comemorou a Medida Provisória que facilitou a compra de vacinas, mesmo as que ainda não receberam a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com isso, o prefeito espera que a vacinação avance rapidamente.
Além de contar que o governo federal continue enviando vacinas, também espera que o governo do Estado compre vacinas diretamente. Somado a isso, Caxias do Sul faz parte do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga), que assinou um protocolo de intenções com a União Química, para adquirir entre 500 mil e 1 milhão de doses da vacina russa Sputnik V. A farmacêutica União Química, que vai produzir a Sputnik no Brasil, aguardava apenas a autorização para a fabricação.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Adiló Didomenico também diz que, se os números da pandemia estabilizarem, vai pedir ao governador ainda nesta semana a liberação de algumas atividades econômicas, "o comércio, pets, salões de beleza, barbearias, para atenderem com horário marcado e portas fechadas". Ele defende ainda a prorrogação do auxílio emergencial, que foi aprovada no Congresso Nacional, mesmo que seja confirmado o valor médio de R$ 250,00 - bem abaixo dos
R$ 600,00 oferecido em 2020.
Jornal do Comércio - O Rio Grande do Sul inteiro está em bandeira preta. Qual a gravidade da situação em Caxias do Sul?
Adiló Didomenico - É uma situação que ninguém está confortável, porque não para de crescer o número de pessoas positivas (para a Covid-19). É muito grande a demanda reprimida nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). Estamos ainda com dezenas de pessoas aguardando leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pelo SUS, o que nos preocupa muito. Diferentemente da primeira onda, agora as pessoas já chegam nas UPAs precisando de oxigênio, vão direto para a UTI e logo são intubadas. Essa situação é muito grave, muito mais grave do que na primeira onda, em que as pessoas recebiam tratamento clínico e raramente precisavam ser intubadas. Agora, para piorar, as estatísticas mostram um número muito alto de óbitos nas UTIs: de cada 10 pessoas intubadas, seis acabam falecendo. É muita coisa. Isso, inclusive, está começando a criar um problema psicológico nos profissionais da saúde que estão na linha de frente, há um ano enfrentando essa situação, sem trégua.
JC - Alguns especialistas apontam que o aumento da contaminação, em março, está relacionado com as aglomerações durante o verão, principalmente nas cidades litorâneas, onde a população foi veranear. Além disso, a nova variante do coronavírus potencializou esse surto. A que atribui o aumento em Caxias?
Adiló - Acredito que foi uma conjunção de fatores. O cansaço das pessoas com o uso da máscara, a bandeira laranja e o início da vacinação criaram a sensação de que o problema estava resolvido. Além disso, teve as aglomerações nas praias e festas clandestinas. Mas atribuo muito à chegada de uma nova cepa do vírus. Não sou médico, não é minha área, mas o poder de contaminação e a agressividade dessa nova cepa está fora do normal. É algo muito parecido com o que aconteceu em Manaus. Isso leva a crer que há uma conjunção de fatores negativos que pegou de surpresa toda a sociedade brasileira, não só a gaúcha. Muitas cidades em Santa Catarina, São Paulo e outros estados enfrentam esse mesmo drama.
JC - O ideal seria a vacinação de toda a população, o que ainda deve levar algum tempo. Enquanto isso, qual a estratégia que a prefeitura tem adotado para conter o avanço do vírus?
Adiló - Eu só vejo uma saída hoje: a vacinação e a testagem em massa. A testagem em massa é necessária para que a gente possa isolar, rapidamente, as pessoas que testarem positivo. Inclusive, compramos um lote de testes e recebemos a doação de mais 30 mil testes por parte do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul. Estamos desenvolvendo um programa muito forte de testagem, porque queremos fazer uma busca ativa. Ou seja, se o teste de alguém der positivo, também vamos testar as pessoas que convivem com essa pessoa.
JC - A estratégia do rastreamento do contágio...
Adiló - Exatamente. Agora seremos mais rigorosos com aquele paciente que testou positivo: ele vai ter que assinar um termo de compromisso que vai ficar em isolamento e vamos fazer a busca ativa de seus familiares e pessoas que convivem com ele, para que essas pessoas também entrem em processo de isolamento. Aqui está o grande problema da contaminação: testou positivo, os outros (que convivem com ele) já estão infectados; mas, se eles não são testados, continuam sua vida, indo para o trabalho, e contaminando outras pessoas. Então, (com o rastreamento) vamos diminuir a circulação do vírus. Com isso, também poderemos tratar bem no início essas pessoas.
JC - Que tipo de tratamento?
Adiló - O médico, dentro da sua autonomia, poderá dar o tratamento que ele entender adequado já nos primeiros sintomas. Na primeira onda, se mandava a pessoa para casa, tomando medicação para controlar a febre. Se tivesse, porventura, o quadro agravado, aí voltava a procurar auxílio (na rede de saúde). Isso não dá mais para fazer. Então, estamos fazendo um trabalho muito forte, junto à Secretaria Municipal da Saúde (para rastrear e tratar precocemente os pacientes). Há um consenso de boa parte dos médicos nesse sentido. Não vamos dizer qual medicamento tem que ser ministrado, o médico tem sua autonomia, capacidade, formação. O que estamos pedindo é que a pessoa seja tratada já nos primeiros sintomas, tratamento imediato.
JC - Esse tratamento envolve medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina?
Adiló - Fica a critério do médico (indicar o medicamento). Tem médicos indicando corticoides. Alguns, a gente tem visto (trabalhar) com ivermectina, vitaminas C, D, zinco. Há alguns casos de hidroxicloroquina. Mas isso é o médico quem tem que decidir.
JC - Em Porto Alegre, o prefeito Sebasitão Melo (MDB) chegou a disponibilizar esses medicamentos na rede pública, o que foi interrompido pela Justiça, porque não há eficácia comprovada. Caxias também disponibiliza esses medicamentos?
Adiló - Ainda temos disponíveis algumas coisas na rede pública. O município tem disponível os antibióticos. A ivermectina é um remédio barato e a pessoa pode adquirir, se ela for receitada e se houver necessidade. Nós temos condições de adquirir ivermectina, é um remédio que não impacta tanto no orçamento. É importante deixar claro que o prefeito de Caxias não é médico e não vai receitar nenhum tipo de tratamento. Há um apelo dentro da Secretaria (de Saúde) de que a testagem é o caminho, identificando (os infectados com Covid-19) o mais rápido possível, fazendo uma busca ativa nos familiares, porque essa cepa tem uma capacidade de infeção muito maior do que a primeira leva. A partir da identificação, (queremos) tratar de maneira preventiva já nos primeiros sintomas. Aí cabe ao médico analisar o quadro do paciente.
JC - Pelo que o senhor está falando são três frentes de combate à Covid em Caxias: a vacinação, o tratamento precoce e o rastreamento...
Adiló - Eu diria que é um tratamento preventivo, porque, no momento que identifica (a pessoa contaminada), o médico já sai tratando esse paciente, diferente do que se fazia na primeira leva, mandando a pessoa para casa com o antitérmico, pedindo para a pessoa ficar isolada, em observação.
JC - Como está a vacinação?
Adiló - Caxias já vacinou 24 mil pessoas, que receberam a primeira dose; 4,8 mil receberam a segunda dose. Estamos em pleno processo de aplicação da segunda dose. Abrimos sete unidades básicas de saúde, além de 10 drive-thrus para a vacinação dos idosos com mais de 80 anos. O próximo grupo que começaremos a vacinar são as pessoas com 78 anos ou mais. Na semana passada, tínhamos 32.380 casos positivos; 3.835 casos ativos; e 1.836 pessoas aguardando o laudo (para saber se estavam com Covid-19). É um recorde, nunca havíamos chegado nem à metade disso.
JC - Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro autorizou a compra de vacinas antes da autorização da Anvisa. Qual a sua expectativa sobre essa medida?
Adiló - A Anvisa tem sido muito lenta. Não é só no caso das vacinas, em outros casos também. Não é possível demorar tanto para aprovar uma vacina, já autorizada por organismos internacionais. Não posso aceitar que, em um momento de emergência grave, no meio de uma pandemia, enfrentando uma verdadeira guerra contra um inimigo invisível, uma agência de regulação da saúde seja tão lenta e tão burocrática para liberar vacinas, como a Sputnik e outras tantas.
JC - A prefeitura de Caxias do Sul pretende comprar a vacina diretamente?
Adiló - Estamos credenciados, junto com o Cisga, para comprar a vacina da União Química. O Cisga pediu que fossem, no mínimo, 500 mil doses. Mas a expectativa é que pudéssemos chegar até um milhão de doses. Isso daria para 50% da nossa população, considerando que o consórcio representa uma população de aproximadamente 1 milhão de habitantes (e a Sputnik precisa de duas doses).
JC - No momento, a cogestão da pandemia está suspensa até o dia 21 de março. O governador Eduardo Leite (PSDB) já disse que, mesmo depois da volta da cogestão com os municípios, que permite uma flexibilização das normas sanitárias, algumas restrições da bandeira preta serão mantidas. Por exemplo, a restrição de atividades comerciais das 20h às 5h. O que pensa sobre isso?
Adiló - Em um primeiro momento, temos que avançar mais com a vacinação. Se os números de Caxias do Sul estabilizarem, vamos pedir, através da Amesne (Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste, do Estado), uma relativa flexibilização para alguns segmentos. Por exemplo, o comércio, pets, salões de beleza, barbearias, para atenderem com horário marcado e portas fechadas. São segmentos que estão passando por muita dificuldade, o comércio hoje não está conseguindo nem receber os carnês. Então, através da Amesne, vamos ficar de olho nos números. Precisamos dar um fôlego para esses empresários, senão, a quebradeira vai ser grande.
JC - Imagino que o senhor, como muitos outros gestores, esteja sofrendo bastante pressão para flexibilizar as normas sanitárias...
Adiló - Está terrível. O telefone não para. É reunião com sindicatos, especialmente do comércio, prestadores de serviço... Imagina que o mundo cultural está há um ano sem poder desenvolver atividades. As casas de eventos, quadras de esporte, restaurantes estão bem prejudicados. As escolas particulares, os transportadores das crianças estão há um ano com seus veículos encostados, criando capim embaixo. Então, muita gente está tendo dificuldades muito grandes. O município, inclusive, tem uma previsão de orçamento negativa por conta disso. Não estamos recebendo (impostos) e não está sendo acenado nenhum reparo aos municípios, como aconteceu no ano passado - nem para a saúde, nem para perda de tributos. Por isso, fico indignado com a demora daquilo que é a melhor solução hoje: a vacina.
JC - Tem avançado no Congresso Nacional a prorrogação do auxílio emergencial. O senhor é a favor?
Adiló - Ajuda. No ano passado, por conta do auxílio emergencial do governo federal, deve ter circulado algo muito próximo a R$ 300 milhões em Caxias do Sul. Isso é outra coisa que não temos nesse ano. Então, embora o auxílio emergencial seja bem menor (pelo que está sendo discutido no Congresso), ele é importante. Para a pessoa que não tem nada, R$ 250,00 faz uma diferença muito grande.

Perfil

Adiló Angelo Didomenico, 69 anos, nasceu no município de Marau. Entretanto, reside em Caxias do Sul há quase quatro décadas. Foi comerciante. Ele graduou-se em Economia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Tem pós-graduação em Marketing. Em 1974, enquanto estava na universidade, começou a militar na política estudantil. Na reorganização nacional do PTB, ajudou a fundar o diretório municipal de Caxias, em 1988. Presidiu o PTB caxiense três vezes. De 1989 a 1997, presidiu o Conselho Administrativo da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca). Entre janeiro de 2005 e 2012, atuou como diretor-presidente da Codeca. Em 2012, elegeu-se para o primeiro mandato eletivo, como vereador de Caxias do Sul. Obteve 6.324 votos. No início de 2013, assumiu como secretário municipal de Obras e Serviços, durante a gestão do ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT). Em 2016, com 5.481 votos, reelegeu-se para a Câmara Municipal. Em abril de 2020, migrou do PTB para o PSDB. No mesmo ano, elegeu-se prefeito de Caxias do Sul, ao derrotar Pepe Vargas (PT), no segundo turno do pleito.