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Política

- Publicada em 31 de Janeiro de 2021 às 12:19

Bolsonaro tenta coroar aliança com o Centrão nas eleições da Câmara e Senado

Ameaçado por 59 pedidos de impeachment, presidente investiu pessoalmente em acordos para cooptação de votos

Ameaçado por 59 pedidos de impeachment, presidente investiu pessoalmente em acordos para cooptação de votos


Michel Jesus/ Câmara dos Deputados/ JC
Agência Estado
Deputados e senadores vão eleger nesta segunda-feira (1) quem comandará a Câmara e o Senado pelos próximos dois anos, numa disputa que vai muito além dos interesses do Congresso. O resultado da eleição pode significar um cheque em branco nas mãos do presidente Jair Bolsonaro ao entregar a dois aliados dele a chefia do Legislativo. A interferência de Bolsonaro na campanha indicou que as práticas da velha política, com distribuição de cargos e verbas, sepultaram de vez a expectativa de renovação manifestada nas urnas, em 2018.
Deputados e senadores vão eleger nesta segunda-feira (1) quem comandará a Câmara e o Senado pelos próximos dois anos, numa disputa que vai muito além dos interesses do Congresso. O resultado da eleição pode significar um cheque em branco nas mãos do presidente Jair Bolsonaro ao entregar a dois aliados dele a chefia do Legislativo. A interferência de Bolsonaro na campanha indicou que as práticas da velha política, com distribuição de cargos e verbas, sepultaram de vez a expectativa de renovação manifestada nas urnas, em 2018.
Ameaçado no cargo por 59 pedidos ativos de impeachment, o presidente investiu pessoalmente na costura de acordos e na cooptação de votos para selar a eleição do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Para Bolsonaro, a eleição de Lira e Pacheco nas duas Casas do Congresso significa a blindagem do seu mandato.
Os dois indicaram, por exemplo, que são contrários a instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os erros do governo na condução da pandemia da covid-19 e também à abertura de processo de afastamento do presidente. "Não vou comprar briga nem procurar acotovelamento", disse Lira. "Não podemos banalizar o instituto do impeachment", afirmou Pacheco.
A vitória dos dois candidatos, se confirmada, também coroa o acordo de Bolsonaro com o Centrão. O grupo de centro-direita, sem apegos ideológicos e notabilizado pelo fisiologismo, ressurgiu em 2015 sob a liderança de Eduardo Cunha (MDB-RJ), que deixou a presidência da Câmara e acabou sendo preso.
Bolsonaro se aliou ao Centrão após embates com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) e a partir do avanço de investigações contra o seu núcleo familiar, principalmente sobre um esquema de "rachadinhas" no gabinete do atual senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) quando era deputado estadual no Rio.
Remanescente da "tropa de choque" de Cunha e réu na Lava Jato, Lira manifestava a intenção de presidir a Câmara desde 2018, mas nunca conseguiu se consolidar como sucessor do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que lançou a candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP).
Com sua ambição frustrada, Lira deixou o grupo de Maia e atualmente é o líder do Centrão, encabeçando uma bancada suprapartidária que reúne aproximadamente 200 dos 513 deputados. Trata-se de um núcleo acostumado a explorar oportunidades num Executivo de base congressual frágil.
O Estadão revelou que o governo liberou R$ 3 bilhões em recursos "extras" do Ministério do Desenvolvimento Regional, para 250 deputados e 35 senadores destinarem a obras em seus redutos eleitorais. As tratativas foram conduzidas no gabinete do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que nega o balcão de negócios. Dos contemplados, grande parte declarou apoio aos candidatos do governo no Congresso.
Principal adversário de Lira, Baleia conseguiu o apoio de partidos que vão da centro-direita à esquerda, na maior frente ampla construída desde a redemocratização. O grupo é visto pelo Planalto como o primeiro passo de um movimento articulado para desgastar ainda mais Bolsonaro. Na prática, a aliança antibolsonarista pode representar um ensaio para a disputa presidencial de 2022.
Reforma. Após as eleições no Congresso, Bolsonaro vai promover uma reforma ministerial. Na sexta-feira, ele condicionou a recriação dos ministérios à vitória de seus aliados na Câmara e no Senado, mas recuou ontem da declaração (mais informações na página ao lado). Contemplados até agora com cargos de segundo e terceiro escalões, os líderes do Centrão querem deixar a periferia do poder e mostram apetite por ministérios com orçamento bilionário.
A reta final da campanha tem sido marcada por defecções no arco de aliados dos candidatos adversários do Planalto. Baleia perdeu apoiadores atraídos pelas benesses oferecidas pelo governo e Simone Tebet (MDB-MS) também se viu abandonada na última hora por seu próprio partido, que preferiu rifar a candidatura dela ao comando do Senado e apoiar Rodrigo Pacheco, o nome avalizado pelo Planalto, em troca de cargos.
Na Câmara, mesmo com as traições a Baleia, há chance de segundo turno. Ele formou uma frente que reuniu pela primeira vez partidos rompidos desde o impeachment de Dilma Rousseff. Mas o grupo começou a ruir. Baleia perdeu votos no DEM, PDT, PSDB e PSL.
A saída de Maia deve abrir espaço à pauta conservadora de Bolsonaro. Por outro lado, a agenda econômica deve esbarrar no desinteresse do presidente e da nova cúpula parlamentar. Uma reforma administrativa, por exemplo, se choca com a prometida criação de ministérios.
O presidente quer facilitar acesso a armas, aprovar o excludente de ilicitude policiais. E seus novos aliados pretendem liberar os jogos de azar. Se vencer, Lira, a exemplo de Bolsonaro, já avisou que não dará entrevistas diárias e que irá desalojar o comitê de imprensa de perto do plenário.
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