A quatro dias do segundo turno e após a divulgação de
pesquisa eleitoral que comprova o acirramento da campanha para a prefeitura de Porto Alegre, os candidatos Manuela d´Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB) protagonizaram, nesta quarta-feira (25), um série de trocas de acusações via imprensa e redes sociais, que culminou com o registro de ocorrência policial, aviso de acionamento judicial e pedido de retirada de propaganda do ar.
O fato que originou a discórdia foi um vídeo de campanha da candidatura de Manuela, veiculado na noite de terça-feira (24). Na propaganda, com duração de 30 segundos, é destacado o apoio do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, a Melo, e divulgado trecho da recente entrevista na qual o
militar diz que não existe racismo no Brasil. Na mesma linha, liga a candidatura a Valter Nagelstein (PSD) - que disputou o cargo no primeiro turno e está com Melo na nova fase da eleição -, divulgando trechos de áudio no qual
o ex-candidato critica a formação da nova bancada do PSOL na Câmara de Vereadores, constituída, segundo ele, "por negros e com pouquíssima qualificação formal". Ao final do vídeo, é destacada ainda a frase "Essa é a turma do Melo, converse com a tua turma e vote contra o racismo e a favor da igualdade".
A primeira reação do emedebista veio via Twitter, ainda na terça, logo após a exibição da propaganda. "A minha adversária passou de todos os limites ao me acusar de racismo. Com a minha biografia e os valores nos quais acredito, eu não posso me calar diante de tamanha injustiça. Jamais imaginaria que minha adversária chegasse a tão baixo nível para tentar ganhar uma eleição. Tomarei todas as medidas judiciais cabíveis para que esse tipo de calúnia nunca mais ocorra na política gaúcha. Eleição não é jogo de vale tudo", disse o candidato.
Já Manuela, rebateu o oponente no final da manhã desta quarta, também pela rede social. Ela disse que o emedebista tentava criar um fato eleitoral "diante da incapacidade de dizer que discorda das declarações literais de seus aliados" e afirmou que entrará com ação por dano moral, injúria, difamação, "e com denunciação caluniosa pelo boletim de ocorrência". "Seria tão mais simples dizer: não concordo com Mourão e Valter. Mas não, ele age contra mim que denuncio declarações racistas. Ele vai na delegacia pra tentar esconder seus aliados. Mas o povo tem o direito de saber quem são suas companhias", destacou. No meio da tarde, a mesma manifestação da candidata foi distribuída em nota oficial à imprensa.
Melo também tratou de divulgar fotos e vídeo seu e do vice Ricardo Gomes (DEM) em frente ao Palácio da Polícia, além de cópia da ocorrência policial, registrada no local por volta do meio-dia. "Com profunda tristeza, Ricardo e eu, acabamos de registrar o boletim de ocorrência no Palácio da Polícia contra a nossa adversária, que me ofendeu de forma muito dolorida ao me acusar de racista. Vou tomar todas as providências cabíveis e judiciais. A campanha é um espaço de diálogo, para discutir a melhoria da vida da cidade e das pessoas, mas não tem espaço para ferir biografias", reforçou. E nota oficial, lembrou ainda de sua trajetória humilde ao chegar à Capital e disse que "não é justo nem honesto dizer que sou preconceituoso".
A coligação de Melo destacou que repudia fake news e acionou a Justiça Eleitoral, pedindo a retirada da peça publicitária da propaganda eleitoral de Manuela. No entanto, o pedido foi negado pelo juiz eleitoral da 161ª Zona Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Leandro Figueira Martins. Na decisão, o magistrado declara que "não estão evidenciados os requisitos que autorizam a concessão da tutela postulada".
Segundo ele, a propaganda "não contém, objetivamente, a existência de qualquer ponderação de natureza ofensiva à honra e à imagem do representante". Martins reconhece, no entanto, "um desconforto e um descontentamento" de Melo com relação às críticas representadas nas manifestações dos políticos que o apoiam, "envolvendo tema absolutamente sensível (discriminação racial)".