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eleições 2020

- Publicada em 08 de Novembro de 2020 às 15:47

Para Julio Flores, novo surto de Covid-19 será maior desafio de 2021

'Nossa ideia é construir um comitê científico, para pensarmos o momento mais adequado de volta às aulas', afirma Julio Flores, do PSTU

'Nossa ideia é construir um comitê científico, para pensarmos o momento mais adequado de volta às aulas', afirma Julio Flores, do PSTU


fotos: GILMAR LUÍS/arquivo/JC
Caso seja eleito, o candidato à prefeitura de Porto Alegre Julio Flores (PSTU) acredita que o principal desafio em 2021 será lidar com um provável segundo surto de Covid-19. Diante desse cenário - como aconteceu em cidades europeias e na capital do Amazonas, Manaus -, Flores defende o confinamento total. Ele promete que, em um eventual governo, uma das primeiras ações seria a formação de um comitê científico para planejar as ações de combate à pandemia de coronavírus na cidade.
Caso seja eleito, o candidato à prefeitura de Porto Alegre Julio Flores (PSTU) acredita que o principal desafio em 2021 será lidar com um provável segundo surto de Covid-19. Diante desse cenário - como aconteceu em cidades europeias e na capital do Amazonas, Manaus -, Flores defende o confinamento total. Ele promete que, em um eventual governo, uma das primeiras ações seria a formação de um comitê científico para planejar as ações de combate à pandemia de coronavírus na cidade.
Aliás, Flores - professor de matemática da rede municipal de ensino - defende que a volta às aulas presenciais só ocorra depois da imunização através da vacina. Ele critica a decisão do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e do governador Eduardo Leite (PSDB) de autorizarem a retomada do ano letivo. "Eles querem cometer esse crime de forçar uma retomada das aulas. Serão mais de 450 mil pessoas circulando no transporte coletivo, nas escolas; alunos, professores, funcionários e toda a comunidade escolar que vai levar e trazer os seus filhos (do colégio). Então, isso vai aumentar enormemente as contaminações."
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a 12ª da série com os candidatos da Capital, Flores disse que criaria novos órgãos representativos - os chamados conselhos populares. Esses órgãos colegiados elegeriam, em diversos bairros e locais de trabalho, representantes da população. Estes representantes teriam o poder de aprovar ou não as políticas do Paço Municipal, além de destituir qualquer membro do secretariado. Ele explicou ainda como colocaria em prática um plano de obras públicas para reativar a economia da cidade no pós-pandemia.
Jornal do Comércio - Caso seja eleito, qual será o grande desafio da prefeitura em 2021?
Julio Flores - Um dos desafios será a própria pandemia. Os estudos indicam que uma segunda onda (de Covid-19) é muito provável. Na Europa, a gente está vendo surgir agora (um segundo surto), depois do retorno à "normalidade" em países como a França, Alemanha, Portugal. Eles tiveram que recuar e estão implementando outra vez medidas restritivas em direção ao lockdown. No Amazonas, houve um grande crescimento (da contaminação por coronavírus). No Brasil, já há uma retomada. Aqui mesmo no Rio Grande do Sul há surtos localizados. Ao mesmo tempo, há um abuso por parte de governantes como Marchezan e Eduardo Leite, autorizando a retomada de todas as atividades. Agora, eles querem cometer esse crime de forçar uma retomada das aulas, o que vai criar uma grande possibilidade de aumento enorme nas contaminações. Serão mais de 450 mil pessoas circulando na cidade de Porto Alegre no transporte coletivo, nas escolas; alunos, professores, funcionários e toda a comunidade escolar que vai levar e trazer os seus filhos (do colégio). Então, isso vai aumentar enormemente as contaminações. Isso será motivo de acumulação para uma nova onda, a dita segunda onda - sem que a primeira esteja superada. Afinal, não chegamos nem próximo de zero no número de contaminações e mortes. Vários países que estão passando por uma segunda onda chegaram próximo de zero. A atitude do (presidente Jair) Bolsonaro (sem partido) nem se fala. É uma atitude genocida. Desde o início da pandemia, está negando a ciência e a possibilidade de contaminações, provocando um genocídio. Hoje temos mais de 160 mil mortos e mais de 5 milhões de contaminados. Infelizmente, vai virar uma tragédia como nos Estados Unidos. Li uma notícia do Imperial College que dizia que a taxa de transmissão superou um - o chamado índice R. Quando esse índice está em um, significa que cada pessoa contaminaria uma outra. Quando está abaixo (de um), (a taxa de contaminação) vai caindo. Mas o Imperial College alertou que, no Brasil, o índice R está em 1,01. Ou seja, cada 100 pessoas contaminam 101. Isso é preocupante.
JC - O que propõe para lidar com a pandemia?
Flores - Propomos, desde o início da pandemia, um confinamento geral. Este é o único remédio que temos para combater o coronavírus (até o momento). Pessoas confinadas não transmitem. Se infectadas, elas podem, eventualmente, evitar a contaminação. Digo mais: as comunidades escolares são muito mais sensatas do que os governos, porque 70% dos pais, alunos e professores no Rio Grande do Sul estão se negando a levar os seus filhos para as aulas presenciais. Entenderam a gravidade do problema e não querem se responsabilizar pela contaminação dos outros, muito menos pela contaminação dos seus próprios filhos. Esse é um enorme desafio para a prefeitura, mas também há outros.
JC - Quando considera que seria seguro retomar as aulas?
Flores - O retorno às aulas não precisa ser, necessariamente, até termos uma vacina. Mas temos que tratar de coincidir essas duas coisas. A nossa ideia é construir um comitê científico com epidemiologistas, infectologistas, matemáticos, para pensarmos o momento mais adequado para a volta às aulas. Ainda vamos ter que passar pela segunda onda, o que significa passar alguns meses até que tenhamos segurança total ou quase total. Esse seria o momento adequado. Se a gente tiver antes de 2021 a vacina, será fantástico utilizar a vacinação em massa para garantir a imunização total da população - ou, pelo menos, um alto grau de imunização, porque nem sempre é possível garantir a totalidade. Enquanto isso, as pessoas têm que ficar em casa. Só que aí tem outro aspecto importante: teríamos que dar um subsídio às famílias para ficarem em casa.
JC - O que planeja?
Flores - Um subsídio não pode ser de R$ 600,00, muito menos de R$ 300,00, como o governo está querendo diminuir. Teria que ser um valor mais substancial. Se o governo federal dá R$ 1 trilhão para os bancos através da dívida pública, pode muito bem destinar esse R$ 1 trilhão para um subsídio maior aos trabalhadores que estão desempregados - neste ano, o governo federal já pagou mais de R$ 1,7 trilhão a instituições financeiras através da dívida pública. O (ministro da Economia Paulo) Guedes deu R$ 1,2 trilhão aos bancos durante a pandemia, o que supostamente serviria para subsidiar financiamentos a micro, pequenas e médias empresas. Ao mesmo tempo, deu apenas R$ 600,00 para os trabalhadores. Então, basta retirar esses R$ 1,2 trilhões que ficaram com os banqueiros e aumentar o subsídio dos trabalhadores.
JC - Como planeja lidar com a crise econômica?
Flores - O outro desafio é resolver a grave crise econômica. Resolver o problema do desemprego. Temos um plano emergencial para Porto Alegre que consiste em um conjunto de obras públicas na Capital: a construção de escolas, hospitais, postos de saúde e moradias para os trabalhadores. Aliás, moradias decentes para que as pessoas possam viver melhor. É um escândalo a situação em que vivem as pessoas nos bairros pobres de Porto Alegre. Além de muitas ocupações que não estão regularizadas, há aproximadamente 300 mil pessoas em condições precárias, fora aqueles que vivem em bairros populares um pouco mais estruturados, mas que vivem em condições precárias, com casas pequenas, com apenas dois ou três cômodos, onde vivem até 10 pessoas. Então, queremos resolver este problema gerando empregos em que os desempregados possam participar das frentes de trabalho, ganhando um salário digno e, ao mesmo tempo, construindo todas as obras públicas necessárias à Capital e a sua própria casa.
JC - Tem estimativa de quanto custaria esse plano?
Flores - A gente tem a ideia, por exemplo, de acabar com todas as isenções (fiscais concedidas pelo município à iniciativa privada). Existem acordos de renúncia fiscal supostamente em função dos benefícios que as empresas dariam à população. Mas isso é uma ficção. Na verdade, é só para beneficiar as empreiteiras, os grandes negócios na Capital. No Rio Grande do Sul, as isenções de impostos acumulam R$ 9,6 bilhões por ano, dinheiro que em vez de ir para os cofres públicos, fica com as empresas. Falo de grandes empresas. Nós suspenderíamos ou lutaríamos para isso, porque há coisas que o município pode resolver, e outras que precisa debater (com outros entes para resolver). Tem ainda os R$ 60 milhões do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), que poderíamos usar para a construção de escolas. Temos R$ 1 trilhão que foi dado aos banqueiros. Aliás, as isenções de impostos na Brasil são R$ 3,3 trilhões. Então, dinheiro tem, só que está no lugar errado. Está no cofre das grandes empresas.
JC - Como pensa a estrutura administrativa?
Flores - O nosso governo seria totalmente diferente. Trabalharíamos conjuntamente com os funcionários públicos municipais, lado a lado, ombro a ombro, para fornecer um atendimento à população de maior qualidade. Do ponto de vista da administração municipal, queremos um governo socialista dos trabalhadores, no qual formaríamos outra estrutura: os conselhos populares. O que são esses conselhos populares? São conselheiros eleitos nas escolas, nos bairros populares, nos locais de trabalho de todas as categorias, nas fábricas, no comércio etc. Os trabalhadores da periferia, os mais pobres, os indígenas, os quilombolas elegeriam esses conselheiros para governar a cidade. Esses conselhos não seriam criados para ajudar o meu governo, mas sim para que tenham um poder de decisão total sobre as políticas e as ações do governo municipal. Eu e a nossa vice, a Rosane de Oliveira (PSTU), estaríamos subordinados aos conselhos populares. Inclusive, eles poderiam indicar e destituir os secretários municipais. Claro que nós apresentaríamos as propostas, mas quem decidiria em última instância seriam esses conselhos. Seria um governo, portanto, dos mais pobres. Isso a gente chama de um governo socialista dos trabalhadores.
JC - No que difere do Orçamento Participativo (OP)?
Flores - Seria bem diferente. O OP foi importante, fez parte da história da cidade. Mas foi um equívoco no seguinte sentido: a população não decidia sobre a política do governo, quem decidia isso era a gestão municipal. Ou seja, o prefeito, o vice e os secretários. E mais: a população decidia apenas sobre 10% do orçamento da cidade. Queremos que o conselho popular decida sobre 100% do orçamento, decida tudo, rigorosamente, tudo.
JC - Qual seria o papel da Câmara Municipal?
Flores - A Câmara continuaria existindo no próximo período, portanto teríamos que equacionar isso. Mas a nossa ideia é que a Câmara acate as decisões dos conselhos populares. Obviamente, sabemos que a Câmara é composta basicamente por partidos conservadores, da burguesia, ligados à especulação imobiliária e aos capitalistas. Haveria resistência e conflitos. Na verdade, os conselhos populares seriam um contraponto a esta instituição. Então seria um processo de luta para ir construindo e colocando na ordem do dia a vontade da maioria da população. Seria um governo de mobilização popular, porque iríamos para cima da Câmara, exigindo que eles aceitassem o que os conselhos decidissem.
JC - Como servidor municipal, o senhor foi pessoalmente afetado pela reforma do serviço público feita pelo atual prefeito. O que planeja para os municipários?
Flores - Depois da pandemia, teremos que tomar algumas medidas importantes não só na educação, mas no serviço público. Marchezan aprovou uma série de medidas que mexeram no plano de carreira, reduziu o salário dos servidores, uma crueldade com os municipários. Ele também implantou uma rotina desastrosa nas escolas: acabou com a rotina pedagógica que as escolas tinham, impediu que os trabalhadores da educação tivessem pelo menos meio turno para a preparação de aulas, para fazer o planejamento interdisciplinar, o atendimento ao aluno. Nós (professores) tínhamos formação continuada dentro e fora das escolas (como cursos, mestrado, doutorado etc). Isso não existe mais. Queremos revogar todas essas medidas (com relação à educação e ao serviço público, como um todo). Na educação, também é importante ampliar a rede de EJA (Educação de Jovens e Adultos) para toda a rede, porque os idosos e os jovens adultos que trabalham não conseguem estudar durante o dia. E para as crianças, escola de turno integral. Temos que construir um plano de creches municipais públicas.

Perfil

Julio Cezar Leirias Flores tem 61 anos e é natural de São Borja, mas vive em Porto Alegre desde 1976. Formado em Ciências e Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), é professor de Matemática do Ensino Médio na rede municipal de ensino há mais de 20 anos. Começou a militância política no movimento estudantil em 1979. Esta é sua 12ª disputa por um cargo público eletivo, tendo também já concorrido a vereador, governador e senador em eleições passadas. Bancário entre as décadas de 1980 e 1990, foi coordenador do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (Sindibancários) entre 1993 e 1996, e liderou mobilizações contra a privatização do Banco Meridional. É membro do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) desde a fundação, em 1992, quando a corrente que integrava, Convergência Socialista, foi expulsa do PT por defender o "Fora Collor". É diretor do 38º Núcleo do Cpers/Sindicato, cargo do qual está licenciado para concorrer à prefeitura de Porto Alegre.