O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou a interlocutores que cometeu um erro ao dar a entrevista ao Fantástico no último domingo, com uma série de críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e reconheceu que, diante disso, seu cargo está novamente ameaçado.
Depois de escapar, na semana passada, de uma demissão que muitos consideravam certa, o ministro foi avisado que sua saída do governo federal voltou a ser uma possibilidade nos próximos dias.
Segundo interlocutores no Palácio do Planalto, Bolsonaro considerou, nesta segunda-feira, que, diferentemente da semana passada, quando os militares entraram em campo para garantir a permanência de Mandetta na equipe, houve, agora, menor movimentação em defesa do ministro.
Além da visível perda de sustentação entre os militares, que consideraram o tom da entrevista um ato de insubordinação, Bolsonaro levou em conta que até mesmo alguns líderes do Congresso criticaram o tom adotado na entrevista do ministro.
A falta de fortes mobilizações nas redes sociais em defesa do titular da Saúde também foi lida pelo presidente como uma brecha para efetuar a demissão.
Auxiliares afirmam, no entanto, que ainda não é possível saber se o presidente bancará o desgaste de dispensar Mandetta da Esplanada. Alguns assessores o aconselharam a atravessar a pandemia com o ministro, para evitar o desgaste da demissão caso o sistema de saúde brasileiro entre em colapso.
Na entrevista à TV Globo, no domingo, Mandetta disse que a população não sabe se deve seguir as recomendações do Ministério da Saúde (favorável ao isolamento social) ou de Bolsonaro (crítico de medidas como o fechamento de comércios, por exemplo).
O titular da Saúde também criticou quem rompe as regras de distanciamento para ir à padaria, em uma crítica a Bolsonaro - o presidente foi, na semana passada, a um estabelecimento do tipo em Brasília e consumiu alimentos no balcão.
Justamente essa insistência em bater de frente com Bolsonaro custou a Mandetta o apoio da ala militar no Palácio do Planalto.
A avaliação foi a de que o ministro desprezou o esforço do núcleo militar para que ele fosse mantido no cargo e está preocupado apenas com a sua imagem pública, em uma tentativa de se candidatar a governador de Mato Grosso do Sul em 2022 - Mandetta tem dado seguidos sinais de enfrentamento ao presidente, desde a ameaça de sua demissão na semana passada, sendo a entrevista o último deles.
O descontentamento do grupo fardado ficou evidente nesta terça-feira com uma declaração do vice-presidente, general Hamilton Mourão. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Mourão afirmou que o ministro da Saúde cometeu uma falta grave na fala à TV Globo.