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conjuntura política

- Publicada em 18 de Fevereiro de 2020 às 03:00

Governos criticam Bolsonaro sobre morte de miliciano

Político está afastado do governo temporariamente pelo STJ

Político está afastado do governo temporariamente pelo STJ


MAURO PIMENTEL/AFP/JC
Governadores de 20 estados elaboraram uma carta "em defesa do pacto federativo", na qual criticam declarações de Jair Bolsonaro, feitas no último fim de semana, sobre a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, na Bahia. Na nota, divulgada nesta segunda-feira (17), os governadores citam recentes falas de Bolsonaro "confrontando os governadores" e "se antecipando a investigações policiais para atribuir graves fatos à conduta das polícias e seus governadores".
Governadores de 20 estados elaboraram uma carta "em defesa do pacto federativo", na qual criticam declarações de Jair Bolsonaro, feitas no último fim de semana, sobre a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, na Bahia. Na nota, divulgada nesta segunda-feira (17), os governadores citam recentes falas de Bolsonaro "confrontando os governadores" e "se antecipando a investigações policiais para atribuir graves fatos à conduta das polícias e seus governadores".
A iniciativa de se posicionar contra as falas de Bolsonaro partiu do governador Wilson Witzel (PSC-RJ), endossada, em seguida, por João Doria (PSDB-SP). Ambos são adversários políticos do presidente. Depois, outros governadores chancelaram a proposta.
A carta, divulgada pelo Fórum dos Governadores, começou a ser gestada no fim de semana, após Bolsonaro ter acusado a "PM da Bahia do PT" de uma "provável execução" de Nóbrega, ex-capitão da PM morto em operação policial no último dia 9.
O presidente insinuou que pode ter havido queima de arquivo pela polícia da Bahia, o que foi rebatido pelo governador do estado, Rui Costa (PT). Homenageado duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio pelo hoje senador Flávio Bolsonaro (sem partido), Nóbrega é citado na investigação que apura a prática de "rachadinha" (esquema de devolução de salários) no gabinete do então deputado estadual. O miliciano teve a mãe e uma ex-mulher nomeadas por Flávio.
A carta também aborda declarações de Bolsonaro sobre a reforma tributária. Segundo eles, o presidente se referiu à reforma, "sem expressamente abordar o tema, mas apenas desafiando governadores a reduzir impostos vitais para a sobrevivência dos estados".
A conduta, avaliam, não contribui "para a evolução da democracia no Brasil". "É preciso observar os limites institucionais com a responsabilidade que nossos mandatos exigem. Equilibro, sensatez e diálogo para entendimentos na pauta de interesse do povo é o que a sociedade espera de nós", dizem os governadores na nota. Ao final, eles convidam Bolsonaro a participar de um encontro do fórum em 14 de abril.
Assinam a nota governadores de 20 estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Sergipe, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Maranhão, Acre, Amapá, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso do Sul e Amazonas.
Não assinaram a carta os governadores Carlos Moisés (PSL-SC), Marcos Rocha (PSL-RO), Antonio Denarium (PSL-RR), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Mauro Mendes (DEM-MT), Mauro Carlesse (DEM-TO) e Ratinho Júnior (PSD-PR).

Declarações causaram indignação, afirma Rui Costa

Em entrevista à imprensa, nesta segunda-feira (17), o governador baiano, Rui Costa (PT), afirmou que as últimas declarações do presidente foram recebidas com indignação pelos governadores. "Estados e municípios não podem ser agredidos de forma regular e constante pelo presidente da República. Governar não é isso, não é agredir prefeitos e governadores toda semana. É preciso dar um basta", afirmou o petista.
Além de criticar o comportamento de Bolsonaro, Costa sugeriu que o presidente se ocupasse mais dos problemas do País e menos dos problemas dos filhos. "Espero que o presidente dedique seu tempo para cuidar do desemprego, do aumento da pobreza e de parar de tirar o Bolsa Família do Nordeste. Ao invés de ficar cuidando os problemas dos filhos, ele deveria cuidar dos problemas do País", afirmou.
Ele ainda afirmou que não será a polícia da Bahia, mas a do Rio de Janeiro, que vai investigar as possíveis relações do miliciano Adriano da Nóbrega com autoridades do País. Os celulares apreendidos com o ex-capitão, diz o governador, foram remetidos para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).
"Se há receio de alguém em saber se naqueles telefones existem contatos com autoridades do País, quem vai responder isso é o MP-RJ. Não é a Bahia que vai apurar com quem aquele bandido, aquele marginal, mantinha conversas e negociações."
Na primeira vez em que falou sobre a morte do ex-PM, no sábado, o presidente abriu duas frentes para se defender: driblou antigas convicções para colocar em xeque a gravidade da atuação criminosa do miliciano e adotou um tom eleitoral ao responsabilizar o PT.
Bolsonaro criticou, na ocasião, a polícia da Bahia por não ter preservado a vida do ex-capitão durante a operação. Normalmente, o presidente é um apoiador das polícias, mesmo quando as ações resultam em mortes. Segundo o MP-RJ, contas do ex-capitão foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, suspeito de comandar o esquema de devolução de salários no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Especial de Comunicação Social, ligada à Secretaria de Governo da Presidência, e aguarda uma resposta.