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Política

- Publicada em 16 de Outubro de 2019 às 03:00

'Rede social não ganha eleição, mas faz perder', diz Bandeira

Rafa Bandeira fez as campanhas de Nelson Marchezan e de Eduardo Leite

Rafa Bandeira fez as campanhas de Nelson Marchezan e de Eduardo Leite


/MARCELO G. RIBEIRO/JC
Patrícia Comunello
Quanto a ação na internet pode decidir uma eleição? Responsável pela estratégia digital vitoriosa nas duas últimas disputas eleitorais mais importantes do Estado - à prefeitura de Porto Alegre, em 2016, e ao governo, em 2018, o estrategista digital Rafa Bandeira dá a resposta com um alerta: "Rede social não ganha eleição, mas faz perder".
Quanto a ação na internet pode decidir uma eleição? Responsável pela estratégia digital vitoriosa nas duas últimas disputas eleitorais mais importantes do Estado - à prefeitura de Porto Alegre, em 2016, e ao governo, em 2018, o estrategista digital Rafa Bandeira dá a resposta com um alerta: "Rede social não ganha eleição, mas faz perder".
As possibilidades, que fizeram parte do roteiro que construiu a eleição do prefeito Nelson Marchezan Júnior e do governador Eduardo Leite, ambos do PSDB, e de nomes como da deputada estadual Any Ortiz (Cidadania) e Marcel van Hattem (Novo), Rafa não abre tudo e promete detalhar no curso Descomplicando Campanhas Políticas na Internet com inscrições on-line, que ele e mais três parceiros de campanhas e trabalhos na área acabam de criar, que terá a primeira edição em 9 de novembro e é voltado exatamente para assessores e candidatos.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Rafa adianta alguns dos temas e aponta os itens básicos para surfar com êxito no que ele chama de internet política.  
Jornal do Comércio - Quanto o trabalho nas redes decide uma eleição?
Rafa Bandeira - Alguns dados dizem muito. Na última eleição para presidente, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, tinha mais de 10 minutos de TV, e o então candidato Jair Bolsonaro (PSL), 16 segundos. Alckmin teve 434 inserções no primeiro turno, e Bolsonaro teve 11. O tucano gastou R$ 51,2 milhões na campanha, e Bolsonaro, R$ 1,2 milhão, com base em dados declarados à Justiça Eleitoral. O Alckmin tem 1,1 milhão de seguidores no Facebook, 1 milhão no Twitter e 130 mil no Instagram. Já o presidente tem 9,8 milhões no Facebook, 5,2 milhões no Twitter e 14 milhões no Instagram. Só estes números já mostram o poder acachapante da internet.
JC - Mas isso ganha eleição?
Rafa - Ter internet não substitui a inteligência de um bom marqueteiro, claro. Nas duas campanhas majoritárias vitoriosas que fizemos de Marchezan Júnior e Eduardo Leite, trabalhei dentro do board de criação da campanha com o publicitário Fábio Bernardi - faço questão de frisar a enorme admiração, respeito e gratidão que tenho por ele, que é meu grande mentor intelectual. No board, foi criado o conceito e a estratégia da campanha de Leite, o Vamos Rio Grande. Não acredito que alguém faça tudo sozinho, acredito na coletividade e na junção de ideias. Isso é muito importante. O grande case de uso das redes em eleições até hoje é o da campanha do ex-presidente norte-americano Barack Obama, com o Yes, We Can, que foi o começo do uso das ferramentas e de geração de senso de pertencimento em campanhas. No Brasil, a internet ganhou potência e maior espaço desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, quando passou a pesar diretamente na tomada das maiores decisões políticas. Pessoas foram para as ruas porque estavam impactadas pela rede. Elas não se conheciam, se mobilizaram pelo meio e viram, a partir do episódio, toda a força social e mobilizadora que estava mais horizontalizada. Aí surgem os expoentes políticos que surfaram neste cenário, como o Bolsonaro.
JC - Segmentos políticos mais tradicionais têm dificuldades de perceber e usar esta força?
Rafa - Partidos tradicionais não lidam bem com o meio digital, pois tem uma mentalidade antiga. Acham que ainda o corpo a corpo na rua ganha eleição. A internet não substitui o corpo a corpo. A internet consegue manter as relações humanas mais vivas por mais tempo. E não é só na época da eleição que tem de pensar em internet. Quem não tiver capilaridade digital não vai conseguir êxito. Partidos tradicionais têm  dificuldade para compreender que não se pode fazer a internet política apenas em campanha. Precisam pensar nisso.
JC - Por que capilaridade digital é importante?
Rafa - A política tradicional tem sua estrutura nas bases, nas famílias. Mas muitos não têm capilaridade digital. É só ver como isso afeta o desempenho de nomes que têm tradição na política e não mantêm a votação. De outro lado, vemos casos mais recentes, como o Partido Novo, com 2 milhões de seguidores no Facebook, com eleição de nomes como o do deputado federal Marcel van Hattem, que está nas redes todos os dias. Enquanto isso, nomes tradicionais tiverem queda, em média, de 30% nas votações desde 2014. O eleitor migrou para caras novos que têm relação sólida na internet.
JC - As regras para a campanha na internet facilitam ou ainda geram dúvidas?
Rafa - Há muita confusão de como fazer e usar ainda os limites e seguir as exigências da legislação. Não vejo impedimentos. São muitos detalhes que têm de cuidar para não ter, por exemplo, a candidatura impugnada. Foi daí que surgiu a ideia de formatar isso tudo num curso imersivo para pré-candidatos e assessores parlamentares.
JC - Qual será o peso das redes digitais nas eleições de 2020?
Rafa - Rede social não ganha eleição, mas faz perder. A falta faz perder, é importante reforçar isso. No curso, vamos mostrar a diferença que faz ter internet. Tivemos exemplo disso na eleição ao governo em 2014. A campanha de Tarso Genro (PT) lançou denúncias contra a ex-senadora e candidata ao governo Ana Amélia Lemos (PP) sobre uma suposta propriedade não declarada e remuneração como funcionária do Senado. A reputação da senadora foi abalada e ela ficou 'sangrando' de sexta a domingo, optou pelo silêncio, achou que a internet não poderia fazer nada. Acabou ficando fora do segundo turno. 
 
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