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Política

- Publicada em 11 de Outubro de 2019 às 13:22

'Rede social não ganha eleição, mas faz perder', adverte Rafa Bandeira

'O eleitor migrou para caras novos que têm relação sólida na internet', detecta o estrategista digital

'O eleitor migrou para caras novos que têm relação sólida na internet', detecta o estrategista digital


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Patrícia Comunello
Quanto a ação na internet pode decidir uma eleição? Responsável pela estratégia digital vitoriosa nas duas últimas disputas eleitorais mais importantes do Estado - à prefeitura de Porto Alegre, em 2016, e ao governo, em 2018, o estrategista digital Rafa Bandeira dá a resposta com um alerta: "Rede social não ganha eleição, mas faz perder". A próxima pergunta é o que fazer para não sucumbir à rede ou matar este canal. As possibilidades, que fizeram parte do roteiro que construiu a eleição do prefeito Nelson Marchezan Júnior e do governador Eduardo Leite, ambos do PSDB, e de nomes como da deputada estadual Any Ortiz (Cidadania) e Marcel van Hattem (Novo), Rafa não abre tudo e promete detalhar no curso Descomplicando Campanhas Políticas na Internet com inscrições on-line, que ele e mais três parceiros de campanhas e trabalhos na área acabam de criar, que terá a primeira edição em 9 de novembro e é voltado exatamente para assessores e candidatos. Na entrevista a seguir, Rafa adianta alguns dos temas e aponta os itens básicos para surfar com êxito no que ele chama de internet política.  
Quanto a ação na internet pode decidir uma eleição? Responsável pela estratégia digital vitoriosa nas duas últimas disputas eleitorais mais importantes do Estado - à prefeitura de Porto Alegre, em 2016, e ao governo, em 2018, o estrategista digital Rafa Bandeira dá a resposta com um alerta: "Rede social não ganha eleição, mas faz perder". A próxima pergunta é o que fazer para não sucumbir à rede ou matar este canal. As possibilidades, que fizeram parte do roteiro que construiu a eleição do prefeito Nelson Marchezan Júnior e do governador Eduardo Leite, ambos do PSDB, e de nomes como da deputada estadual Any Ortiz (Cidadania) e Marcel van Hattem (Novo), Rafa não abre tudo e promete detalhar no curso Descomplicando Campanhas Políticas na Internet com inscrições on-line, que ele e mais três parceiros de campanhas e trabalhos na área acabam de criar, que terá a primeira edição em 9 de novembro e é voltado exatamente para assessores e candidatos. Na entrevista a seguir, Rafa adianta alguns dos temas e aponta os itens básicos para surfar com êxito no que ele chama de internet política.  
Jornal do Comércio - Quanto o trabalho nas redes decide uma eleição?
Rafa Bandeira - Alguns dados dizem muito. Na última eleição para presidente, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, tinha mais de 10 minutos de TV, e o então candidato Jair Bolsonaro, 16 segundos. Alckmin teve 434 inserções no primeiro turno, e Bolsonaro teve 11. O tucano gastou R$ 51,2 milhões na campanha, e Bolsonaro, R$ 1,2 milhão, com base em dados declarados à Justiça Eleitoral. O Alckmin tem 1,1 milhão de seguidores no Facebook, 1 milhão no Twitter e 130 mil no Instagram. Já o presidente tem 9,8 milhões no Facebook, 5,2 milhões no Twitter e 14 milhões no Instagram. Só estes números já mostram o poder acachapante da internet.
JC - Mas isso ganha eleição?
Rafa - Ter internet não substitui a inteligência de um bom marqueteiro, claro. Nas duas campanhas majoritárias vitoriosas que fizemos de Marchezan Júnior e Eduardo Leite, trabalhei dentro do board de criação da campanha com o publicitário Fábio Bernardi - faço questão de frisar a enorme admiração, respeito e gratidão que tenho por ele, que é meu grande mentor intelectual. No board, foi criado o conceito e a estratégia da campanha de Leite, o Vamos Rio Grande. Não acredito que alguém faça tudo sozinho, acredito na coletividade e na junção de ideias. Isso é muito importante. O grande case de uso das redes em eleições até hoje é o da campanha do ex-presidente norte-americano Barack Obama, com o Yes, We Can, que foi o começo do uso das ferramentas e de geração de senso de pertencimento em campanhas. No Brasil, a internet ganhou potência e maior espaço desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, quando passou a pesar diretamente na tomada das maiores decisões políticas. Pessoas foram para as ruas porque estavam impactadas pela rede. Elas não se conheciam, se mobilizaram pelo meio e viram, a partir do episódio, toda a força social e mobilizadora que estava mais horizontalizada. Aí surgem os expoentes políticos que surfaram neste cenário, como o Bolsonaro.
JC – Segmentos políticos mais tradicionais têm dificuldades de perceber e usar esta força?
Rafa - Partidos tradicionais não lidam bem com o meio digital, pois tem uma mentalidade antiga. Acham que ainda o corpo a corpo na rua ganha eleição. A internet não substitui o corpo a corpo. A internet consegue manter as relações humanas mais vivas por mais tempo. E não é só na época da eleição que tem de pensar em internet. Quem não tiver capilaridade digital não vai conseguir êxito. Partidos tradicionais têm  dificuldade para compreender que não se pode fazer a internet política apenas em campanha. Precisam pensar nisso.
JC – Por que capilaridade digital é tudo?
Rafa - A política tradicional tem sua estrutura nas bases, nas famílias. Mas muitos não têm capilaridade digital. É só ver como isso afeta o desempenho de nomes que têm tradição na política e não mantêm a votação. De outro lado, vemos casos mais recentes, como o Partido Novo, com 2 milhões de seguidores no Facebook, com eleição de nomes como o do deputado federal Marcel van Hattem, que está nas redes todos os dias. Enquanto isso, nomes tradicionais tiverem queda, em média, de 30% nas votações desde 2014. O eleitor migrou para caras novos que têm relação sólida na internet.
JC - Por onde começar para usar bem o meio na política?
Rafa - O curso que montamos terá seis módulos e vamos ver cada aspecto - redes sociais e impacto nas eleições, design, monitoramento, militância virtual e combate a fake news, cases de campanhas e legislação. Mas o básico é ter capilaridade e isso não se compra. Seguidor que é comprado não traduz em votos. É só olhar quem tem muito seguidor e likes e como foi a votação. Muitos acham que podem pegar atalhos, mas não eles não conseguem gerar senso de pertencimento. Então, para começar a fazer um bom trabalho, não pegue atalhos. Não existe isso na internet real política. Ou você cria uma relação real com as pessoas ou vai pagar com baixa votação na eleição. Se a relação não for real e orgânica, não adianta. Outro detalhe que é preciso saber: redes têm algoritmos de cálculo de entrega de conteúdo que gira em torno de 2%. O que significa que apenas 2% dos seguidores verão o teu post sem patrocínio. Com uma estratégia bem definida e sabendo qual é o público que quer atingir, pode-se chegar até 20% de entrega em todas as redes.
JC - Como estruturar a estratégia?
Rafa – É o que chamo de formar uma equipe vencedora. Tem uma série de fatores que precisam convergir harmoniosamente para que isso aconteça. Se você colocar uma pessoa com perfil desagregador, não vai rolar. O ritmo de uma eleição é muito tenso e intenso. Existe a realidade de uma campanha majoritária, que exige uma equipe que rode bem, e a de uma campanha proporcional, para deputado e vereador, que, na maioria das vezes, tem alguém que faz tudo. Daqui para frente, cada vez mais, será indispensável ter alguém que pense apenas o digital. Um jornalista, por exemplo, já tem de fazer a relação com a imprensa, acompanhar o candidato, gerenciar os roteiros, etc. Os candidatos e os partidos precisam mexer nesses formatos para que alguém pense web 24 horas sete dias da semana.
JC – As regras para a campanha na internet facilitam ou ainda geram dúvidas?
Rafa - Há muita confusão de como fazer e usar ainda os limites e seguir as exigências da legislação. Não vejo impedimentos. São muitos detalhes que têm de cuidar para não ter, por exemplo, a candidatura impugnada. Foi daí que surgiu a ideia de formatar isso tudo num curso imersivo para pré-candidatos e assessores parlamentares.
JC - Qual será o peso das redes digitais nas eleições de 2020?
Rafa - Rede social não ganha eleição, mas faz perder. A falta faz perder, é importante reforçar isso. No curso, vamos mostrar a diferença que faz ter internet. Tivemos exemplo disso na eleição ao governo em 2014. A campanha de Tarso Genro (PT) lançou denúncias contra a ex-senadora e candidata ao governo Ana Amélia Lemos (PP) sobre uma suposta propriedade não declarada e remuneração como funcionária do Senado. A reputação da senadora foi abalada e ela ficou ‘sangrando’ de sexta a domingo, optou pelo silêncio, achou que a internet não poderia fazer nada. Acabou ficando fora do segundo turno. 
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