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Governo Federal

- Publicada em 09 de Agosto de 2019 às 03:00

Condenado por tortura, Ustra é novamente exaltado por Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a chamar o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos da repressão durante a ditadura militar, de "herói nacional".
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a chamar o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos da repressão durante a ditadura militar, de "herói nacional".
O presidente recebeu no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (8), a viúva do militar, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra.
Ao ser questionado sobre o motivo da agenda com Maria Joseíta, Bolsonaro disse que ela foi a revisora do livro de Ustra e que está cheia de histórias para contar sobre as mulheres presas durante a ditadura militar (1964-1985). "É uma mulher que tem histórias maravilhosas para contar das presidiárias de São Paulo, envolvidas com a guerrilha", disse.
Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado na Justiça brasileira em uma ação declaratória por sequestro e tortura durante o regime militar. A sentença, do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, de primeira instância, foi uma resposta ao pedido de cinco pessoas da família Teles que acusaram Ustra, um dos mais destacados agentes dos órgãos de segurança dos anos 1970, de sequestro e tortura em 1972 e 1973. 
Em sua defesa, Ustra disse que a ação contraria a Lei da Anistia (1979), que significou o perdão dos crimes cometidos durante a ditadura. O general morreu em 15 de outubro de 2015 sem cumprir nenhum tipo de pena pelas violações cometidas.
Ustra comandou o Destacamento de Operações de Informações (DOI-Codi) do 2º Exército (SP) de 1970 a 1974. Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, só na gestão de Ustra o DOI paulista foi o responsável pela morte ou desaparecimento de ao menos 45 presos políticos.
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro chama o coronel acusado de atos de tortura de herói. No dia da votação na Câmara que autorizou a abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, ele dedicou seu voto ao coronel. "Nesse dia de glória para o povo tem um homem que entrará para a história. Parabéns, presidente Eduardo Cunha. (...) Em memória do coronel Brilhante Ustra, o meu voto é sim", disse.
Também em 2016, durante uma sessão do Conselho de Ética que analisava uma representação contra ele, então deputado federal, Bolsonaro afirmou que Ustra é um "herói brasileiro", além de ter dito que não há provas de que ele torturou presos políticos. 

'Tapa na cara da civilização', reage autor do impeachment de Dilma

Um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o advogado Miguel Reale Jr. afirmou, nesta quinta-feira, que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) dá um "tapa na cara da civilização" e caminha para um "processo paranoico perigoso" ao voltar a chamar o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos da repressão durante a ditadura militar, de "herói nacional".
"Como ex-presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, e tendo sabido o que se passou no DOI-Codi, (me) causa a maior indignação. (É) um tapa na cara da civilização", disse. Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, Reale Jr. foi o primeiro presidente da comissão, cargo que ocupou entre 1995 e 2001. Segundo Reale Jr., a homenagem "chega a configurar incitamento a um crime gravíssimo", uma vez que a Constituição considera a tortura crime imprescritível.