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Política

- Publicada em 24 de Junho de 2019 às 03:00

O homem síntese do político gaúcho

JC republica uma série de artigos escritos por Carlos Bastos (foto) sobre Leonel Brizola

JC republica uma série de artigos escritos por Carlos Bastos (foto) sobre Leonel Brizola


MARCELO G. RIBEIRO/JC
A partir desta segunda-feira, o Jornal do Comércio republica uma série de artigos sobre Leonel Brizola, para marcar os 15 anos da morte do ex-governador, em 21 de junho de 2004. Os textos foram escritos, na época, pelo então editor de Política do JC, Carlos Bastos. 
A partir desta segunda-feira, o Jornal do Comércio republica uma série de artigos sobre Leonel Brizola, para marcar os 15 anos da morte do ex-governador, em 21 de junho de 2004. Os textos foram escritos, na época, pelo então editor de Política do JC, Carlos Bastos. 
Leonel de Moura Brizola - que esta tarde estará sendo velado no Palácio Piratini, ontem foi velado no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, e amanhã será sepultado no mausoléu da família Goulart, em São Borja, ao lado de sua esposa Neuza Goulart Brizola - era a síntese do político gaúcho. Ele tinha o autoritarismo de Júlio de Castilhos, a preocupação com o social de Getúlio Vargas, a ânsia de poder de Borges de Medeiros, a simpatia e o frasismo de Flores da Cunha, o discurso de João Neves da Fontoura, o carisma e o poder de articulação de Osvaldo Aranha e a determinação de Raul Pilla.
Não é de graça que todos o chamavam de "o último caudilho". Ele tinha as virtudes e os defeitos dos grandes homens públicos que abrilhantaram a história do Rio Grande do Sul. Centralizador, detentor de uma liderança forte, que não admitia contestações, sempre teve dificuldades com pessoas e políticos que se atravessassem naquilo que ele tinha como seu principal objetivo. Ele era impetuoso, determinado e implacável em sua ação política. Como exemplos mais recentes são os desentendimentos com Pompeo de Mattos, afastado da presidência do PDT gaúcho, Miro Teixeira, que deixou o governo Lula e ingressou no PPS, e o ex-governador Anthony Garotinho, que foi para o PSB e hoje está no PMDB. Deixamos de citar outros exemplos, porque são muitos e sua relação ocuparia todo o espaço desta coluna.
A marca da impetuosidade Brizola trazia desde o início de sua carreira política. Na segunda metade da década de 1940, quando Getúlio Vargas estava no seu autoexílio de São Borja, na Fazenda Itú, o líder sindical José Vecchio presidia o partido em Porto Alegre, e Brizola dirigia a Ala Moça. Vecchio foi se avistar com Getúlio e por mais de uma hora apresentou reclamações relacionadas ao comportamento impetuoso e quase incontrolável do jovem Leonel Brizola, recentemente formado em Engenharia e já eleito deputado estadual. Getúlio ouviu calmamente o longo relato de Vecchio e, ao final, arrematou com o seu tradicional e marcante bom humor: "Vecchio, faz como eu, não te mete em política". Só que, dois ou três anos depois, ele voltava à presidência da República, pelo voto popular, depois de ter exercido o poder em 15 anos de ditadura. E aí seria padrinho do casamento de Leonel Brizola com Neuza Goulart, na Fazenda do Iguariaçá, hoje município do Itacurubí, então pertencente a São Borja.
Outra característica marcante de Brizola eram suas sacadas espirituosas. Na campanha eleitoral de 1989, quando por detalhe ele deixou de ir para o segundo turno contra Fernando Collor, perdendo a vaga para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ele estava sendo apoiado pelo ex-governador Espiridião Amin, do PP, em Santa Catarina. A campanha ia em meio ao primeiro turno e por circunstâncias da política catarinense, Amin resolveu mudar de lado e apoiar a candidatura de Fernando Collor. Tornada pública esta decisão, Brizola chega ao aeroporto de Florianópolis e é solicitado pela imprensa para se manifestar sobre a mudança de posição de Espiridião Amin. Ele apontou para a biruta do aeroporto, e saiu-se com essa: O Amin é como biruta de aeroporto, ele muda de lado de acordo com o vento. 
Brizola também era um grande frasista, e muitas de suas frases ficaram célebres, como a do anúncio de seu apoio a Lula no segundo turno do pleito de 1989, quando se viu forçado a apoiar o "sapo barbudo". Há poucos dias, ele lançou esta pérola: "Situação terrível para o nosso País nas eleições presidenciais de 2006, que ficarão entre Lula (o diabo) e Fernando Henrique (o demônio). Esta solução só é boa para o inferno".
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