A partir desta segunda-feira, o Jornal do Comércio republica uma série de artigos sobre Leonel Brizola, para marcar os 15 anos da morte do ex-governador, em 21 de junho de 2004. Os textos foram escritos, na época, pelo então editor de Política do JC, Carlos Bastos.
Leonel de Moura Brizola - que esta tarde estará sendo velado no Palácio Piratini, ontem foi velado no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, e amanhã será sepultado no mausoléu da família Goulart, em São Borja, ao lado de sua esposa Neuza Goulart Brizola - era a síntese do político gaúcho. Ele tinha o autoritarismo de Júlio de Castilhos, a preocupação com o social de Getúlio Vargas, a ânsia de poder de Borges de Medeiros, a simpatia e o frasismo de Flores da Cunha, o discurso de João Neves da Fontoura, o carisma e o poder de articulação de Osvaldo Aranha e a determinação de Raul Pilla.
Não é de graça que todos o chamavam de "o último caudilho". Ele tinha as virtudes e os defeitos dos grandes homens públicos que abrilhantaram a história do Rio Grande do Sul. Centralizador, detentor de uma liderança forte, que não admitia contestações, sempre teve dificuldades com pessoas e políticos que se atravessassem naquilo que ele tinha como seu principal objetivo. Ele era impetuoso, determinado e implacável em sua ação política. Como exemplos mais recentes são os desentendimentos com Pompeo de Mattos, afastado da presidência do PDT gaúcho, Miro Teixeira, que deixou o governo Lula e ingressou no PPS, e o ex-governador Anthony Garotinho, que foi para o PSB e hoje está no PMDB. Deixamos de citar outros exemplos, porque são muitos e sua relação ocuparia todo o espaço desta coluna.
A marca da impetuosidade Brizola trazia desde o início de sua carreira política. Na segunda metade da década de 1940, quando Getúlio Vargas estava no seu autoexílio de São Borja, na Fazenda Itú, o líder sindical José Vecchio presidia o partido em Porto Alegre, e Brizola dirigia a Ala Moça. Vecchio foi se avistar com Getúlio e por mais de uma hora apresentou reclamações relacionadas ao comportamento impetuoso e quase incontrolável do jovem Leonel Brizola, recentemente formado em Engenharia e já eleito deputado estadual. Getúlio ouviu calmamente o longo relato de Vecchio e, ao final, arrematou com o seu tradicional e marcante bom humor: "Vecchio, faz como eu, não te mete em política". Só que, dois ou três anos depois, ele voltava à presidência da República, pelo voto popular, depois de ter exercido o poder em 15 anos de ditadura. E aí seria padrinho do casamento de Leonel Brizola com Neuza Goulart, na Fazenda do Iguariaçá, hoje município do Itacurubí, então pertencente a São Borja.
Outra característica marcante de Brizola eram suas sacadas espirituosas. Na campanha eleitoral de 1989, quando por detalhe ele deixou de ir para o segundo turno contra Fernando Collor, perdendo a vaga para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ele estava sendo apoiado pelo ex-governador Espiridião Amin, do PP, em Santa Catarina. A campanha ia em meio ao primeiro turno e por circunstâncias da política catarinense, Amin resolveu mudar de lado e apoiar a candidatura de Fernando Collor. Tornada pública esta decisão, Brizola chega ao aeroporto de Florianópolis e é solicitado pela imprensa para se manifestar sobre a mudança de posição de Espiridião Amin. Ele apontou para a biruta do aeroporto, e saiu-se com essa: O Amin é como biruta de aeroporto, ele muda de lado de acordo com o vento.
Brizola também era um grande frasista, e muitas de suas frases ficaram célebres, como a do anúncio de seu apoio a Lula no segundo turno do pleito de 1989, quando se viu forçado a apoiar o "sapo barbudo". Há poucos dias, ele lançou esta pérola: "Situação terrível para o nosso País nas eleições presidenciais de 2006, que ficarão entre Lula (o diabo) e Fernando Henrique (o demônio). Esta solução só é boa para o inferno".