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Política

- Publicada em 01 de Abril de 2019 às 13:20

Evangélicos lamentam recuo de Bolsonaro ao anunciar escritório em Jerusalém

Decisão de Bolsonaro de abrir um escritório comercial provocou reações de lideranças evangélicas

Decisão de Bolsonaro de abrir um escritório comercial provocou reações de lideranças evangélicas


ALAN SANTOS/PR/JC
Como esperar um filé mignon e receber uma carne de segunda.
Como esperar um filé mignon e receber uma carne de segunda.
A metáfora foi usada por um fiel evangélico irritado com o anúncio de Jair Bolsonaro, neste domingo (31), de que o Brasil abrirá um escritório comercial, e não uma embaixada, em Jerusalém, terra tida como sagrada por cristãos, evangélicos e muçulmanos.
Como ele, outros evangélicos apelaram às redes sociais para expressar insatisfação com o que consideram uma "esmola" diante da promessa do presidente de que transferiria a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
O deputado e pastor Marco Feliciano (Pode-SP) fez uma provocação no mesmo dia: "Respeito a abertura do escritório, porém o segmento evangélico, um terço do eleitorado brasileiro, que deu uma vantagem de 11 milhões de votos ao presidente Jair Bolsonaro, garantindo sua eleição, confia que ele cumprirá sua palavra e em breve mudará a embaixada brasileira para Jerusalém".
À reportagem Feliciano afirmou que o Brasil, "ao se negar a reconhecer a capital de uma nação com a qual mantém relações diplomáticas, está a intervir indevidamente nos assuntos de um país estrangeiro".
Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), parlamentar ligado ao pastor Silas Malafaia, foi outro a se manifestar. "Lamento profundamente a decisão do presidente de abrir só um escritório de negócios do Brasil em Jerusalém", disse.
"O compromisso com o povo evangélico e judeu é outro. Confio que o presidente tem uma só palavra! Aguardamos a transferência..."
Assim como lideranças e deputados evangélicos, fiéis adotaram um tom de cobrança na internet, em mensagens como "queremos mais, cumpra o que prometeu", de Deinha de Jesus, e o desabafo de Kakito_RJ: "Sou seu eleitor, apoio seu governo, mas hoje estou frustrado, furioso, pois o sr. foi covarde, amarelou, cedeu à pressão árabe, cometeu um estelionato eleitoral. Nós o apoiamos com a promessa de o sr. mudar a embaixada para Jerusalém".
Outros evangélicos, contudo, pedem calma, dizem que "o tempo é de Deus" e já, já Bolsonaro cumpre a palavra.
O próprio Malafaia buscou contemporizar, dizendo que o americano Donald Trump levou nove meses para fazer a mudança e que também assegurara a seu eleitorado que o embaixador de seu país iria para Jerusalém fazer isso acontecer.
"Em que lugar Bolsonaro falou que iria transferir a embaixada por ocasião de sua visita a Israel? Nenhum. O processo está apenas começando, vamos ver o final."
"Bolsonaro disse para mim que a mudança seria paulatina", afirmou o pastor à reportagem. "Ele já disse que o casamento está marcado. Os americanos, um monstro de potência, levaram nove meses. Por que um governo que não tem nem cem dias vai fazer?Falei que o presidente tem que ser macho [para tocar a transferência adiante] não no sentido de masculinidade, mas de coragem, audácia."
Nem todos querem expressar publicamente a contrariedade com Bolsonaro, o que não quer dizer que ela não esteja lá.
Na semana passada, quando deputados evangélicos escolheram o novo líder de sua bancada, dois deles disseram à Folha que, sim, seria uma decepção se o presidente empurrasse com a barriga a prometida transferência.
Mas, ainda a dias da viagem a Israel, mostravam-se confiantes que ele usaria a viagem para fazer o anúncio.
Admitiram que o escritório em Jerusalém os deixou frustrados, mas não quiserem bater de frente com Bolsonaro publicamente, então pediram que seus nomes fossem omitidos.
A notícia ganhou destaque num dos maiores portais do segmento, o Gospel Prime, que frisou em sua manchete: "Bolsonaro transfere apenas 'parte da embaixada' para Jerusalém".
Semanas atrás, o Gospel Prime e o concorrente Guia-me já haviam reproduzido uma fala em que o mandatário eleito com apoio esmagador dos evangélicos, ao contrário do tom adotado na temporada eleitoral, agora falava que a retirada do corpo diplomático de Tel Aviv "não é uma questão tão fundamental" na relação entre Brasil e Israel.
A declaração aconteceu em fevereiro, numa reunião com jornalistas no Palácio do Planalto.
Destino de forte turismo evangélico, Jerusalém virou o que virou para seguidores dessa fé por causa de uma profecia religiosa.
Evangélicos argumentam que Jesus -judeu, como seus apóstolos- teria vindo à Terra para redimir a nação eleita por Deus. Veem, portanto, seguidores da Torá como herdeiros de direito da cidade hoje repartida entre um lado ocidental e outro oriental (com mais palestinos).
E é nesta "nação escolhida" que, sob a perspectiva das Escrituras, o Armagedom acontecerá.
Narra o livro de Gênesis: "E apareceu o Senhor a Abraão, e disse: à tua descendência darei esta terra". Terra que, segundo a Bíblia, exercerá papel crucial na epopeia da humanidade.
"As profecias de Apocalipse, Daniel e outros textos bíblicos apontam para a segunda vinda de Cristo após a reconstrução do Templo de Salomão em Jerusalém", afirma o teólogo Marcelo Rebello.
Folhapress
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