Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Governo federal

- Publicada em 06 de Março de 2019 às 01:00

Postagens de Bolsonaro no Twitter geram reação

Presidente divulgou vídeo obsceno e relacionou imagens a blocos de rua

Presidente divulgou vídeo obsceno e relacionou imagens a blocos de rua


/ALAN SANTOS/PR/JC
Integrantes da oposição e aliados de Jair Bolsonaro (PSL) reagiram, nesta quarta-feira, às publicações obscenas recentes feitas pelo presidente da República no Twitter. Já militares da ala que integra o governo e outros do serviço ativo viram em geral com reserva a publicação da postagem.
Integrantes da oposição e aliados de Jair Bolsonaro (PSL) reagiram, nesta quarta-feira, às publicações obscenas recentes feitas pelo presidente da República no Twitter. Já militares da ala que integra o governo e outros do serviço ativo viram em geral com reserva a publicação da postagem.
Na noite de terça-feira, Bolsonaro compartilhou em sua conta oficial do Twitter um vídeo de uma cena que causou polêmica no Carnaval paulistano, na qual um homem aparece dançando após introduzir o dedo no próprio ânus e um outro rapaz surge urinando na cabeça do que dançava.
Em sua publicação, Bolsonaro diz que não se sente "confortável em mostrar", mas argumenta que tem "que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões (conclusões)". Já na manhã desta quarta-feira, o presidente publicou uma pergunta: "O que é golden shower?" Golden shower é o nome popular (em inglês) para o fetiche de urinar na frente de um parceiro ou sobre ele.
Militares da ala que integra o governo e outros do serviço ativo viram em geral com reserva a publicação do post. Segundo três deles, ouvidos pela reportagem, o tom alarmista da postagem e o baixo nível das imagens causou uma associação incorreta entre o episódio filmado e o Carnaval como um tudo. Além disso, disseram esses oficiais, há uma vulgarização da imagem da própria instituição presidência. A troca de mensagens ofensivas com comentaristas de sua postagem e o complemento desta quarta-feira, foram consideradas grosseiras e desnecessárias.
Opositores de Bolsonaro defenderam a necessidade de "intervenção psíquica" e disseram que vão representar criminalmente por "crime de divulgação, sem o consentimento da vítima, de cena de sexo, nudez ou pornografia".
Aliado de Bolsonaro, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) afirmou que a publicação é "incompatível com a postura de um presidente, ainda mais de direita", e a classificou como "bola fora".
Assessor especial internacional do Palácio do Planalto, Filipe Garcia Martins evocou o ex-presidente americano Theodore Roosevelt para argumentar que Bolsonaro recorreu ao "bully pulpit" (púlpito intimidador, em tradução livre) para postar o vídeo nas redes. O termo se refere a um palanque de destaque para se manifestar e ser ouvido, no caso a rede social em que o presidente tem 3,47 milhões de seguidores.
 

Imprensa internacional repercute publicação nas redes

A imprensa estrangeira repercutiu nesta quarta-feira as publicações obscenas que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) postou no Twitter. "Bolsonaro ridicularizado após tuitar vídeo carnavalesco explícito", titulou o The Guardian. O jornal britânico cita em seu texto as marchinhas de protesto contra o presidente no Carnaval deste ano e afirma: "Bolsonaro, que goza de comparações com Donald Trump, aparenta não ter recebido bem as críticas".
"As guerras culturais no Brasil fazem uma aparição gráfica no feed de Twitter de Bolsonaro", afirma o título da reportagem do jornal The New York Times sobre o episódio. "O post sinaliza que o sr. Bolsonaro acha válido estimular os debates sobre orientação sexual e moralidade na sociedade que turbinaram sua chegada ao poder", diz o texto escrito pelo correspondente do jornal no Brasil, Ernesto Londoño.
O jornal argentino La Nación destacou que as postagens geraram "forte polêmica" no Brasil e que mesmo apoiadores do presidente nas redes criticaram a atitude.

Para Reale Júnior, atitude justificaria pedir impeachment

Especialistas classificaram como inadequadas as publicações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação a atos obscenos no Carnaval de rua. 
Segundo o jurista Miguel Reale Júnior, a publicação da postagem configura quebra do decoro e poderia até mesmo justificar um pedido de processo de impeachment do presidente. Em 2015, Reale foi um dos autores do pedido que levou à saída de Dilma Rousseff (PT) do cargo.
Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas, a postura do presidente revela uma falta de conhecimento dele sobre o cargo para o qual foi eleito. "Bolsonaro cometeu um atentado ao decoro público, ao decoro do cargo e da República brasileira. Foi um dos atentados mais violentos que um chefe de Estado já fez à moralidade pública. É ainda pior, para além das imagens, ele ter afirmado que esse comportamento é comum nas festas de Carnaval do País. Ele atribuiu o comportamento de duas pessoas a milhões e milhões delas. Com que direito ele faz isso", questiona Romano.