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Política

- Publicada em 06 de Março de 2019 às 16:12

Para especialistas, vídeo publicado por Bolsonaro representa quebra de decoro

Vídeo postado por Bolsonaro mostra atos obscenos que teriam ocorrido em um bloco de carnaval de rua

Vídeo postado por Bolsonaro mostra atos obscenos que teriam ocorrido em um bloco de carnaval de rua


ALAN SANTOS/PR/JC
Especialistas ouvidos nesta quarta-feira (6) classificaram como inadequadas as publicações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro em relação a atos obscenos no carnaval de rua. Bolsonaro compartilhou na noite de terça-feira um vídeo em que dois foliões do Blocu, em São Paulo, praticavam o fetiche chamado de "golden shower" (chuva dourada, que envolve o ato de urinar no parceiro ou na parceira). No dia seguinte, ele perguntou a internautas do que se tratava a expressão em inglês. Junto às imagens, o presidente fez ponderações sobre as manifestações carnavalescas e disse que era preciso "expor a verdade" sobre o que têm "virado muitos blocos de rua".
Especialistas ouvidos nesta quarta-feira (6) classificaram como inadequadas as publicações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro em relação a atos obscenos no carnaval de rua. Bolsonaro compartilhou na noite de terça-feira um vídeo em que dois foliões do Blocu, em São Paulo, praticavam o fetiche chamado de "golden shower" (chuva dourada, que envolve o ato de urinar no parceiro ou na parceira). No dia seguinte, ele perguntou a internautas do que se tratava a expressão em inglês. Junto às imagens, o presidente fez ponderações sobre as manifestações carnavalescas e disse que era preciso "expor a verdade" sobre o que têm "virado muitos blocos de rua".
Segundo o jurista Miguel Reale Júnior, a publicação do post configura quebra do decoro e poderia até mesmo justificar um pedido de processo de impeachment do presidente. Em 2015, Reale foi um dos autores do pedido que levou à saída de Dilma Rousseff (PT) do cargo.
Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a postura do presidente revela uma falta de conhecimento dele sobre o cargo para o qual foi eleito em outubro do ano passado. O filósofo compara as postagens de Bolsonaro a declarações dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello (que em 1991 disse que tinha nascido com "aquilo roxo") e Luiz Inácio Lula da Silva (em 2000, quando chamou a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, de "exportadora de veados").
"Bolsonaro cometeu um atentado ao decoro público, ao decoro do cargo e da República brasileira. Foi um dos atentados mais violentos que um chefe de Estado já fez à moralidade pública. É ainda pior, para além das imagens, ele ter afirmado que esse comportamento é comum nas festas de carnaval do país. Ele atribuiu o comportamento de duas pessoas a milhões e milhões delas. Com que direito ele faz isso?", questiona Romano.
O especialista disse ainda que o presidente repetiu o comportamento do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, que em entrevista à revista "Veja" classificou turistas brasileiros no exterior como "canibais" que roubam objetos de hotéis e aviões.
"Um chefe de Estado não pode caluniar o próprio povo. A suposição de que todos o Brasil vive à beira de uma eclosão obscena não pode ser provada. Bolsonaro precisa ter cuidado com as próximas publicações, ou vai conseguir conquistar a antipatia da população", projetou Romano.
Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em marketing político, Gaudêncio Torquato chamou a publicação de "lamentável" e disse acreditar que Bolsonaro até poderia tecer críticas ao carnaval, mas sem compartilhar as imagens. A publicação do conteúdo teria representado uma quebra da liturgia presidencial.
"O presidente tem que cumprir uma liturgia do poder. O cargo exige comportamentos e atitudes que contemplam a cena escatológica e pornográfica. Se ele tinha a intenção de mostrar que o carnaval tem práticas como essa, não poderia recorrer a esse fato dantesco", disse Torquato.
Para o profissional, o discurso de Bolsonaro vai contra à ideia que o próprio presidente costuma defender quando afirma que a socidade brasileira não pode se dividir em grupos maioritários e minoritários, mas sim ser tratada com unidade.
"A atitude dele acirra o discurso do "nós contra eles". Separa a socidade e faz com que nasçam mais barreiras entre grupos sociais", sustenta Torquato.
No campo do marketing político, Roberto Gondo, professor de Comunicação Política da Universidade Mackenzie, acredita que a atitude de Bolsonaro foi inadequada e desaconselhável mas está, em partes, coerente à estratégia que o presidente e os filhos têm adotado ao utilizar as redes sociais.
"O clã dos Bolsonaro têm apelado muito mais para a impulsividade, usa mais a emoção do que a razão. Na tentativa de agradar a um determinado grupo, o presidente acabou se posicionando de forma agressiva para um ocupante do cargo. Mas ele e os filhos sabem exatamente o caminho que as redes percorrem, tanto que abusaram disso durante a campanha eleitoral. Seria mentira dizer que são ingênuos quando adotam posturas como essa", defende Gondo.
O propósito de não demonstrar uma opinião equilibrada sobre o carnaval e outros inúmeros temas é, para o docente, um reforço da imagem responsável por conquistar a preferência do eleitorado e da expressiva base de admiradores bolsonaristas.
"A postagem o coloca ao lado dos eleitores mais cativos. Se ele deixar de posicionar como o "mito" que construiu, as pessoas podem identificá-lo como frágil. Dentro das percepções de comunicação estratégica, trata-se de um erro. Mas Bolsonaro nunca se vendeu como uma pessoa que busca o equilíbrio e tenta atender a todos os grupos", pontua Gondo.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, saiu em defesa de Bolsonaro após as duas publicações. Ele comparou a postura do presidente a de Theodore Roosevelt (presidente dos Estados Unidos entre 1901 e 1909).
"Roosevelt dizia que a Presidência da República é um 'bully pulpit', uma posição pública que permite falar com clareza e com força sobre qualquer problema. Foi o que o Presidente @jairbolsonaro fez ao expor o estado de degeneração que tomou nossas ruas nos últimos dias", escreveu Martins.
Agência O Globo
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