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Política

- Publicada em 06 de Dezembro de 2018 às 17:32

Palocci diz que Lula beneficiou montadoras por propinas para o filho

Em depoimento, ex-ministro afirma ter ouvido confissão do próprio Lula

Em depoimento, ex-ministro afirma ter ouvido confissão do próprio Lula


ANTONIO CRUZ/ABR/JC
Em depoimento à Justiça Federal na manhã desta quinta-feira, por vídeoconferência, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atuou na edição de uma Medida Provisória (MP) que prorrogou benefícios fiscais de montadoras em 2013 para que fosse repassado dinheiro das empresas para o filho Luis Cláudio. O ex-presidente nega as acusações.
Em depoimento à Justiça Federal na manhã desta quinta-feira, por vídeoconferência, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atuou na edição de uma Medida Provisória (MP) que prorrogou benefícios fiscais de montadoras em 2013 para que fosse repassado dinheiro das empresas para o filho Luis Cláudio. O ex-presidente nega as acusações.
O relato consta no âmbito da ação penal da Operação Zelotes, que aponta a participação de Lula no esquema de venda da medida provisória 471 em favor de montadoras de veículos. Palocci, que fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, disse ter ouvido uma confissão do próprio ex-presidente, em um encontro ocorrido 2014 na sede do Instituto Lula, em São Paulo.
Segundo o ex-ministro, a conversa entre ele e Lula aconteceu após um pedido de apoio financeiro feito por Luis Cláudio para ajudar um projeto esportivo dele, entre o final de 2013 e o início de 2014. O diálogo não teria sido acompanhado por ninguém além dos dois.
"Ele (Luis Cláudio) me pediu um apoio, eu não fiz nada porque não pude nos dias seguintes. Fui falar com Lula porque queria ver se ele autorizava. Sempre que alguém pedia em nome do presidente eu consultava. Aí que o ex-presidente me falou: 'Não precisa atender o Luis Cláudio, porque já resolvi esse problema com o Mauro Marcondes (lobista que atuava para montadoras que foram beneficiadas pela MP)'", relatou Palocci.
Ainda de acordo com o delator, Luis Cláudio teria pedido entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. O ex-ministro, teria, então, indagado ao ex-presidente o motivo pelo qual teria sido procurado para o pedido. Segundo Palocci, Lula teria dito que o filho não sabia da articulação:
"O presidente Lula disse: 'Ele não sabe que eu fiz isso, mas pode esquecer o dinheiro. Já resolvi o problema com o Mauro Marcondes'. Ele me contou que foi através da renovação da (MP) 471, com uma emenda parlamentar na Câmara que renovou os benefícios da Caoa e da Mitsubishi a partir daquele ano, e que ele tinha dito ao Mauro Marcondes que pedisse uma contribuição para as empresas, que essa contribuição seria transferida ao filho dele", seguiu o ex-ministro em seu relato.
As investigações da Zelotes identificaram um repasse de R$ 2,5 milhões da empresa de consultoria de Marcondes para a LFT Marketing Esportivo, do filho do ex-presidente. Para o Ministério Público Federal, este valor seria a propina paga em decorrência da atuação do ex-presidente para favorecer as montadoras na edição da MP.
Palocci relatou ainda ter ficado espantado com a atuação do ex-presidente no caso. "Perguntei por que se envolveu nisso, e ele disse: 'Olha, como se tratava de meu filho não quis envolver ninguém, e utilizei o Mauro, que ele já fez isso no processo anterior'", seguiu Palocci, pontuando também que Lula tratou do tema com a então presidente Dilma Rousseff, sem afirmar se ela tinha ou não conhecimento de qualquer irregularidade.
O processo anterior mencionado pelo delator foi a MP 471, editada em 2009, responsável por conceder benefícios fiscais às montadoras Caoa e MMC, ligadas à Mitsubishi. Segundo o ex-ministro, esta MP tramitou com tranquilidade pela Câmara, pois abrangia estados do Nordeste, Centro-Oeste e Norte que seriam favorecidos.
Os benefícios constantes vieram a ser renovados em 2013 por meio de uma alteração na MP 627. Segundo Palocci, foi a que teria tido a atuação do ex-presidente Lula para beneficiar o filho. Ambas as MPs são investigadas pelo MPF, que aponta a aprovação delas como parte de um esquema de compras de medidas provisórias no Congresso envolvendo, dentre outros, Lula e o lobista Mauro Marcondes, representante da Caoa e da MMC.
Palocci foi indagado pelos investigadores se o ex-presidente Lula havia comentado sobre a relação com Marcondes.
"(Lula) Chegou a comentar. Disse que tinha confiança no Mauro, que o conhecia desde a época em que ele era sindicalista e o sr. Mauro já era atuante no setor empresarial automobilístico no ABC. (Lula) tinha uma razoável confiança nele, porque fiquei um pouco espantado na forma como o ex-presidente interferiu de uma forma tão explicita (na edição da MP 627) e ele falou para não me preocupar porque o Mauro era de confiança irrestrita dele", continuou o delator.
Palocci disse que não pode provar que as empresas que fizeram repasses a Mauro Marcondes sabiam que o recurso seria, eventualmente, destinado ao projeto de Luís Cláudio.
Em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, disse que Palocci aproveitou o depoimento para, "de forma inusual, tomar a iniciativa de fazer afirmações sem qualquer relação o processo, com o nítido objetivo de atacar a honra e a reputação do ex-presidente Lula e de seu filho Luis Claudio". E ressalta que o próprio ex-ministro informou que as conversas com que contou ter tido com o ex-presidente não tiveram testemunha "que garanta a ocorrência dos encontros e do teor do assunto discutido".
"Na verdade, Palocci sabe que suas afirmações são mentirosas e que por isso não poderão ser confirmadas por qualquer testemunha. Por isso, mais uma vez, o ex-ministro recorre a narrativas que envolvem conversas isoladas com Lula, expediente que já havia recorrido em depoimento prestado perante a Justiça Federal de Curitiba", conclui a nota.
O advogado de Mauro Marcondes, Roberto Podval, disse que "entendemos o desespero do Palocci, mas nada do que ele afirmou sobre o Mauro Marcondes é verdadeiro". Reiterou ainda que Palocci "não apresentou nenhuma prova sobre o que afirmou".
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