O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), vai oferecer ao juiz Sérgio Moro uma versão turbinada do Ministério da Justiça. A pasta vai somar as estruturas da Justiça, Segurança Pública, Transparência e Controladoria-Geral da União e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), estrutura hoje ligada ao Ministério da Fazenda.
Citado pelo próprio Bolsonaro como um "grande símbolo" da luta contra a corrupção e possível titular da pasta da Justiça, Moro - que comanda a Operação Lava Jato em Curitiba - admitiu que poderá aceitar o convite caso ele seja feito. "Tudo depende de conversar para ver se há convergências importantes e divergências irrelevantes", disse Moro, que nesta quinta-feira se reúne com Bolsonaro para discutir o assunto.
O juiz federal foi cotado pelo presidente eleito também para uma vaga no Supremo Tribunal Federal - durante o mandato de Bolsonaro serão abertas duas vagas na Corte por aposentadoria compulsória, a do ministro decano Celso de Mello, em novembro de 2020, e a de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.
Em nota divulgada na terça-feira, Moro disse que ficou "honrado" com a lembrança de seu nome para os dois postos.
No governo Michel Temer, o Ministério da Justiça foi desidratado e deixou de ter controle sobre a Polícia Federal (PF), que passou a ser vinculada à pasta extraordinária da Segurança Pública, criada em fevereiro. No desenho da nova Esplanada sob o governo Bolsonaro, a previsão é de que os dois ministérios sejam fundidos.
O vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, disse que "tudo indica" que as pastas serão unidas, porque isso faz parte "do processo de enxugamento" do primeiro escalão do governo. Questionado sobre Moro, o vice eleito disse que o titular da Justiça "certamente será alguém que tenha estatura moral perante o País".
Se aceitar ingressar no futuro governo e depois ser indicado para o Supremo, Moro vai repetir a trajetória do ministro da Corte Alexandre de Moraes. A pessoas próximas, Moro disse que poderia fazer "coisas boas" na Justiça. Uma questão fundamental seria ter o controle da PF. Por isso, uma eventual fusão da Justiça com Segurança Pública seria importante para a decisão do juiz da Lava Jato.
Moro foi alvo de citações elogiosas e críticas na campanha ao Palácio do Planalto. O candidato do Podemos, Alvaro Dias, vinculou sua candidatura à Lava Jato e tinha como uma de suas principais promessas convidar, caso eleito, o juiz para ocupar o Ministério da Justiça.
Às vésperas do primeiro turno das eleições, Moro divulgou parte da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, decisão que motivou o PT a entrar com uma reclamação contra o juiz no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
No trecho da colaboração tornado público, Palocci diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - condenado e preso na Lava Jato - sabia do esquema de corrupção na Petrobras desde 2007.