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Política

- Publicada em 16 de Agosto de 2018 às 16:16

Por que o Rio Grande do Sul se tornou um celeiro de vice-presidenciáveis em 2018?

Os vices gaúchos: Ana Amélia, Germano Rigotto, Hamilton Mourão, Léo Alves e Manuela D'Avila

Os vices gaúchos: Ana Amélia, Germano Rigotto, Hamilton Mourão, Léo Alves e Manuela D'Avila


Arquivo/JC
Paulo Egídio
Das 13 chapas que vão disputar a presidência da República nas eleições de outubro, seis contam com pelo menos um representante do Rio Grande do Sul. São cinco candidatos a vice e um a presidente – o insistente José Maria Eymael, do Democracia Cristã (DC, antigo PSDC), natural de Porto Alegre, que tentará chegar ao Palácio do Planalto pela quinta vez.
Das 13 chapas que vão disputar a presidência da República nas eleições de outubro, seis contam com pelo menos um representante do Rio Grande do Sul. São cinco candidatos a vice e um a presidente – o insistente José Maria Eymael, do Democracia Cristã (DC, antigo PSDC), natural de Porto Alegre, que tentará chegar ao Palácio do Planalto pela quinta vez.
Embora o regime militar (1964-1985) tenha sido marcado pelo protagonismo de generais gaúchos (Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel), a última – e única – liderança proveniente do quinto maior colégio eleitoral do País a ter bom desempenho na disputa presidencial desde a redemocratização foi Leonel Brizola (PDT) que, em 1989, conquistou mais de 11 milhões de votos (16,5%).
Desde então, nenhum político natural do Estado conseguiu viabilizar seu nome para liderar uma chapa competitiva para o Planalto. O próprio Brizola ficou muito abaixo seu desempenho no pleito seguinte, em 1994, quando conseguiu pouco mais de dois milhões de votos (3,19%). Na mesma eleição, o nanico Carlos Gomes (PRN) ficou com 387 mil votos (0,61%). Desde então, Eymael (em 1998, 2006, 2010 e 2014) e a advogada Luciana Genro (PSOL, em 2014) se apresentaram como opções, mas nenhum deles atingiu mais do que 1,5% do eleitorado nacional.
Em 2018, este cenário se repete, mas com um diferencial: apesar de nenhum gaúcho liderar uma candidatura competitiva, cinco políticos do Estado são candidatos a vice em chapas com potencial de crescimento ou de chegar ao segundo turno. O número é igual à soma de todos os gaúchos que já concorreram ao cargo desde a redemocratização:
  • José Paulo Bisol (PSB), vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1989;
  • Willian Pereira da Silva (PCN), vice de Zamir Teixeira, do mesmo partido, em 1989;
  • Irapuan Teixeira (PRONA), vice de Enéas Carneiro, do mesmo partido, em 1998;
  • Leonel Brizola (PDT), vice de Lula (PT), em 1998;
  • Beto Albuquerque (PSB), vice de Marina Silva, do mesmo partido, em 2014.
Nestas eleições, a primeira gaúcha a ser confirmada no posto foi a senadora Ana Amélia (PP). Natural de Lagoa Vermelha, ela será companheira de chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), em uma coligação que reúne nove partidos. A jornalista começou a carreira na década de 1970 e foi correspondente do Grupo RBS em Brasília por mais de 30 anos, até se afastar para concorrer ao Senado, para o qual foi eleita, em 2010.
A deputada estadual Manuela D’Avila (PCdoB), nascida em Porto Alegre e também jornalista, quase foi lançada pelo partido como candidata a presidente, mas, em cima do prazo para a definição das coligações, fechou acordo com o PT para ocupar a vice-presidência na chapa liderada pelo partido. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi registrado nesta quarta-feira (15) com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), que assumirá a cabeça de chapa caso a candidatura de Lula seja indeferida. O acerto entre os partidos é que, no final da tramitação, Manuela será a vice do candidato petista.
Líder nas pesquisas nos cenários sem Lula, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) escolheu outro porto-alegrense, o general da reserva do exército Antonio Hamilton Martins Mourão (PRTB), como companheiro de chapa. Mourão liderou o Comando Militar do Sul (CMS) entre 2014 e 2016 e, atualmente, é presidente do Clube Militar, associação que reúne ex-membros das Forças Armadas.
Último a ser anunciado, o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB) concorre ao lado de Henrique Meirelles (MDB). Natural de Caxias do Sul, Rigotto esteve à frente do Palácio Piratini entre 2003 e 2006. Não obteve sucesso na tentativa de reeleição, em 2006, e na disputa por uma vaga no Senado, em 2010. É a primeira vez desde 1994 que a sigla com o maior número de filiados no País terá candidatura própria à presidência.
O mais desconhecido dos postulantes a vice nascidos no Rio Grande do Sul é o advogado Léo da Silva Alves (PPL), nascido em Rosário do Sul. Ele será companheiro de chapa de João Goulart Filho (PPL), filho do ex-presidente João Goulart, que foi desposto pelo golpe militar de 1964.
Diante deste cenário, o Jornal do Comércio entrevistou três cientistas políticos para entender o que leva os candidatos e partidos darem mais atenção a nomes do Rio Grande do Sul na composição das chapas que disputam a presidência. São eles:
Augusto Neftali Corte de Oliveira – doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs)
Paulo Sérgio Peres – doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor adjunto do Departamento de Ciência Política da Ufrgs
Silvana Krause - doutora em Ciência Política pela Universidade Católica de Eichstätt-Ingolstadt, da Alemanha, e professora adjunta da Ufrgs.
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Oliveira (e), Peres (c) e Silvana (d) destacam busca por espaço no Sul do País pelos presidenciáveis

O que representa o Rio Grande do Sul ter cinco candidatos a vice-presidente?

Augusto Neftali de Oliveira – É uma oportunidade de ter alguém próximo do presidente. Se bem que, no passado recente, essa proximidade não necessariamente resultou em vantagens ou correções dos problemas federativos nos quais os Estado está envolvido, como a questão da dívida e da Lei Kandir. Não significa que vai resultar em algo prático para questões que exigem uma reposta da União.
Paulo Sérgio Peres – De modo geral, os candidatos perceberam a necessidade de garantir um espaço de conquista eleitoral no Sul. O PT tem um espaço bastante grande no Nordeste, com ou sem Lula, e é difícil conquistar apoio lá, principalmente candidatos que são do Sudeste. No caso de Geraldo Alckmin, a tentativa é de conquistar um eleitorado um pouco mais à direita, que hoje está com Jair Bolsonaro. A Manuela D’Ávila foi um fator mais conjuntural. O PT teve dificuldade de traçar uma estratégia de unificação da esquerda e buscou unidade com o PCdoB, seu parceiro tradicional. Germano Rigotto foi o plano C ou D do MDB e veio pela dificuldade de se encontrar um vice. Já o general Mourão é um acaso que seja gaúcho. Foi escolhido pelas posições que vem tomando, como um militar de direita intervencionista.
Silvana Krause – Há três variáveis importantes. A primeira é que o Rio Grande do Sul sempre foi um estado relevante nas articulações e reivindicações políticas, não é um estado apático. A segunda questão é pragmática: é o quinto maior distrito eleitoral do pais. E a terceira é que, nas últimas pesquisas, o espaço para uma candidatura de centro à direita está muito fechado no Nordeste, região em que Lula está mais consolidado. A expetativa é de agregar eleitores a uma candidatura que se contrapõe a Lula ou ao seu indicado, no caso Fernando Haddad.

Entre os vices gaúchos, duas das escolhidas são mulheres. Isso tem um significado?

Augusto Neftali de Oliveira – Sim. Os candidatos e partidos, ao escolher o vice, pensam de maneira estratégica e sabem que as mulheres são maioria no eleitorado e apresentam capacidade de decidir quem será o próximo presidente. Tanto a deputada Manuela como a senadora Ana Amélia são mulheres muito fortes e capazes de mobilizar, cada uma em seu espectro político, o imaginário e o apoio ao ideal de uma mulher forte e combativa, capaz de trazer a voz feminina para o campo político. 
Paulo Sérgio Peres – No caso da Manuela, tem um significado importante, mas não sei se isso estava no cálculo do PT. Ela se fortaleceu muito e virou uma liderança organizacional do PCdoB. No caso da Ana Amélia, talvez tenha a tentativa de conquistar o eleitorado do Sul, aliado ao fato de ela ser mulher, para quem sabe atrair uma simpatia no eleitorado feminino.
Silvana Krause – Sem dúvida nenhuma. Nesses últimos anos, em que houve tantos movimentos buscando a participação de mulheres e o debate sobre o apoio às candidaturas femininas, evidentemente há uma busca dos candidatos em agregar e sensibilizar mulheres, até porque elas são as mais indecisas. Então não é por acaso. Um dos flancos a ser buscado é o indeciso. Aquele que está disposto a votar e não está totalmente resignado. O próprio governo Michel Temer (MDB) teve uma grande pressão na formação de seu gabinete, logo depois do impeachment (na época, apenas homens foram nomeados como ministros).

Por que o Rio Grande do Sul não consegue ter protagonismo nacional desde Leonel Brizola?

Augusto Neftali de Oliveira – O estado nunca deixou de ter importância política. Podemos dizer que os políticos do Estado fazem parte de grupos não-majoritários dentro dos partidos nacionais. As candidaturas importantes nos últimos anos foram sempre de PT e PSDB. O PSDB é muito pequeno no estado e, no PT, as tendências mais fortes do PT daqui não estão em sintonia com as tendências nacionais majoritárias. Um terceiro partido que poderia lançar candidatura é o MDB, mas ele é muito fragmentado e não consegue criar uma candidatura forte em nível nacional. O PP, que seria outro partido importante no Estado, é muito desestruturado nacionalmente. Já o PDT é muito mais forte no Rio Grande do Sul do que em outros estados.
Paulo Sérgio Peres - Basicamente, é o Sudeste que tem prevalecido nisso. O próprio Lula é um nordestino, mas a carreira política dele foi lá. Não é só do Rio Grande do Sul a dificuldade de projeção de uma liderança para se colocar como uma candidatura viável. Mas uma projeção para alguém chegar à presidência muitas vezes passa pela governadoria. E há dificuldade de uma liderança terminar bem o governo do Estado, ser reeleita e se consolidar, para tentar furar a importância política da estrutura partidária do Sudeste. Acho que o protagonismo do Sul permanece de algum modo. Leonel Brizola foi um líder de projeção e a (ex-presidente) Dilma Rousseff, apesar de ser de Minas Gerais, fez carreira política aqui e pode ser considerada uma força política no Estado. E essas candidaturas a vice mostram que o Rio grande do Sul tem uma força política nacional bastante grande, seja pelo colégio eleitoral ou pelo peso de suas lideranças.
Silvana Krause – Acho que São Paulo, que possui o maior colégio eleitoral, tem muito peso nisso. A região Sudeste tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) e o maior eleitorado. Então quebrar essa hegemonia é sempre um desafio.

Se um vice gaúcho for eleito, o Estado ganha mais relevância na política nacional?

Augusto Neftali de Oliveira – Não há nenhuma razão para a gente crer nisso. Embora se possa pensar em candidatos como o ex-governador Germano Rigotto, a deputada Manuela Dávila e a senadora Ana Amélia, que certamente conhecem muito sobre os problemas do estado, não se pode precisar em que medida eles teriam a capacidade de fazer a União agir sobre esses problemas. Não seria o papel do vice levantar bandeiras de um estado da união contra o mandatário. Se uma situação dessas ocorrer, pode causar problemas políticos que não necessariamente resultem em soluções para os problemas gaúchos, e sim em mais um vice decorativo.
Paulo Sérgio Peres- Não é automático. Vai depender da conjuntura e do grau de protagonismo desse vice. Se o PT vencer as eleições, a dificuldade maior vai ser do Fernando Haddad governar e terminar o mandato. A Manuela tem capacidade de protagonismo que pode se remeter em algum tipo de ganho para o Estado, mas não sei até onde. Talvez na negociação do governador com o Executivo ela possa fazer alguma intermediação. E a senadora Ana Amélia também. Mas é difícil precisar até onde iria isso. Pode ser que sim e pode ser que não.
Silvana Krause – Vai depender muito das coalizões de governo. Ainda é muito cedo para dizer se terá ou não impacto. Isso vai depender do resultado eleitoral e da necessidade de o presidente eleito fazer o cálculo de representação dos partidos e das regiões do País em seu governo.
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