Preso há 116 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) coordenou os principais movimentos da pré-campanha até agora e conseguiu, antes mesmo do início oficial da disputa, isolar Ciro Gomes (PDT) e abrir espaço para uma candidatura mais competitiva do PT na sucessão de Michel Temer (MDB).
Nos cálculos de Lula, a eleição será novamente polarizada entre direita e esquerda, e só há espaço para um nome de cada campo. Ciro seria o adversário direto do PT na competição por votos, principalmente entre os eleitores do Nordeste.
Desde meados de junho, o ex-presidente então articulou movimentos, executados pela cúpula do PT, que desidrataram antecipadamente a candidatura de Ciro. Como o substituto de Lula só será lançado a 20 dias da eleição, os petistas trabalharam para impedir que o ex-governador do Ceará ganhasse musculatura que o consolidasse como nome da esquerda antes que o herdeiro petista seja conhecido.
Lula mandou recados por interlocutores que o visitam frequentemente na prisão e deu aval para decisões terminativas da presidente de seu partido, Gleisi Hoffmann, para pelo menos cinco atos que reverberaram contra Ciro: sinalizou com a vice-candidatura do PT para Manuela d'Ávila (PCdoB) no momento em que o PCdoB era assediado pelo PDT; repreendeu governadores petistas que defendiam aliança com Ciro; assistiu ao PR, de Valdemar Costa Neto, levar o centrão para a órbita de Geraldo Alckmin (PSDB) em vez de fechar acordo com o PDT; e, em seguida, fez pesar sua relação familiar de anos na negativa do empresário Josué Alencar (PR) em ser vice do tucano.
Por fim, ontem, Lula teve participação direta na negociação que neutralizou o PSB na eleição nacional, afastando-o definitivamente de Ciro Gomes. As ações partidárias sobre PCdoB e PSB, foram coordenadas pari passu com Glesi, que visita o ex-presidente religiosamente toda semana.
Cotados como plano B caso Lula seja impedido de concorrer ao Planalto, Jaques Wagner e Fernando Haddad foram fundamentais na ponte com o PR.
O presidente do PR, Valdemar Costa Neto, queria apoiar Lula, mas avalia que o ex-presidente será barrado pela Lei da Ficha Limpa e não estará na urna em outubro. Inserido no centrão, jogou pela preferência lulista, reorientando tendências e sacramentando o primeiro revés para Ciro quando selou o apoio do bloco a Geraldo Alckmin.
Agora, dizem petistas que já admitem - mesmo que nos bastidores - uma eleição sem o ex-presidente Lula, o ideal é um vice com a cara do PT. E está aí a opção Manuela.