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Opinião

- Publicada em 03 de Dezembro de 2021 às 15:19

Os dramas humanos 'universais'

Montserrat Martins
Vivemos em época de resgate das questões “identitárias” em que se debatem o racismo e o machismo, as questões da identidade de gênero e da sexualidade, debates que envolvem as relações sociais de modo amplo. Uma pergunta a ser feita é, além de todas as questões específicas, relativas a cada identidade pessoal, existem dramas humanos “universais” no qual todos nós seríamos diretamente afetados, independentemente de nossas questões pessoais específicas?
Vivemos em época de resgate das questões “identitárias” em que se debatem o racismo e o machismo, as questões da identidade de gênero e da sexualidade, debates que envolvem as relações sociais de modo amplo. Uma pergunta a ser feita é, além de todas as questões específicas, relativas a cada identidade pessoal, existem dramas humanos “universais” no qual todos nós seríamos diretamente afetados, independentemente de nossas questões pessoais específicas?
Shakespeare é o protótipo de um autor “universal” cujas histórias atravessaram séculos e fronteiras e são capazes de emocionar a todos, com conflitos que podem ser aplicados às mais diversas situações, como por exemplo a do “amor proibido” de Romeu e Julieta. Onde prevalecem preconceitos de qualquer tipo haverá sempre “amores proibidos”, seja por preconceitos étnicos, de identidade de gênero, de qualquer questão que famílias ou segmentos da sociedade colocarem como entrave aos relacionamentos.
“As mil e uma noites” é outro exemplo de história de difusão universal, onde a personagem Scherazade luta para sobreviver a um rei que decapitava todas as mulheres que desposava, até então. Há algo mais universal que a luta pela sobrevivência?
Machado de Assis é o nosso “Shakespeare brasileiro”, nosso escritor mais consagrado pela crítica literária a nível nacional e internacional, mas aqui no Brasil enfrenta críticos que lhe cobram não ter explicitado a questão racial, mesmo ele sendo um escritor negro.
Roberto Schwarz apresenta uma bela análise da obra machadiana em “Matinha versus Lucrécia” cujo título remete à crônica “O punhal de Martinha”, de Machado de Assis, onde aquele faz uma comparação entre a Martinha que usou o punhal contra o homem que a injuriou, em contraste com a Lucrécia da história clássica que usou o punhal em si mesmo.
O que o livro de Schwartz mostra é que as questões sociais sempre estiveram presentes na obra do nosso autor maior, só que não em forma de bandeira identitária mas na forma de dramas universais. Outros autores, ali citados, se deram ao trabalho de examinar o conjunto da obra machadiana e identificar nela inúmeras questões sociais subjacentes.
O estilo sutil, único, de nosso mestre das letras não lhe permite ser identificado como um denunciador de perversidades sociais, como o fazem os lutadores que carregam bandeiras com discursos panfletários, dando vazão aos plenos pulmões às revoltas contra as injustiças. Examinado mais de perto, se viu que fazia isso com a sutileza de seu estilo elegante, que o fez também ultrapassar séculos e fronteiras, sendo hoje reconhecido e estudado no exterior. Na luta contra o injusto, a sutileza também é uma arma de valor, mas nem todos compreendem isso, o que também faz parte da diversidade.
Médico e escritor
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