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Opinião

- Publicada em 29 de Setembro de 2021 às 14:57

Era das narrativas exige equilíbrio entre crescimento e faturamento para investir em startups

Uma das maiores interferências trazidas para a sociedade pelas redes sociais foi, sem dúvida, a possibilidade de criar realidades desejadas a partir de narrativas. A estratégia é usada tanto nas macro discussões políticas, religiosas e futebolísticas, até nos micro debates em grupos familiares. E ela segue sempre o mesmo padrão. A informação positiva é extraída de um contexto maior e transformada na verdade absoluta sobre um determinado assunto. Como não poderia deixar de ser, este jogo chegou também ao mercado de investimentos.
Uma das maiores interferências trazidas para a sociedade pelas redes sociais foi, sem dúvida, a possibilidade de criar realidades desejadas a partir de narrativas. A estratégia é usada tanto nas macro discussões políticas, religiosas e futebolísticas, até nos micro debates em grupos familiares. E ela segue sempre o mesmo padrão. A informação positiva é extraída de um contexto maior e transformada na verdade absoluta sobre um determinado assunto. Como não poderia deixar de ser, este jogo chegou também ao mercado de investimentos.
De olho na grande liquidez dos mercados, não existe uma startup se quer, desde as nascidas ontem que possuem apenas uma apresentação de Power point em mãos, até as que já estão estruturadas ao ponto de nem combinarem mais com esta nomenclatura, que não trabalhe noite e dia com afinco na tarefa de construir a narrativa sobre o seu ritmo de “crescimento exponencial”
Tudo o que acontece no dia a dia da empresa é tirado do contexto para ajudar na narrativa do crescimento. Se contrata um novo diretor, isso faz parte da estratégia de crescimento. Se muda de sede, está dentro de um planejamento estratégico de crescimento. Se recebe um aporte então, por menor que seja, isso é alardeado como o sinal de que subiu o primeiro degrau na escada para se tornar um unicórnio. Pouco se fala sobre o retorno para o executor deste investimento, mas nós vamos chegar lá.
Outro degrau comemorado com pompa, circunstância e estilo é o chamado IPO. Quando uma startup faz o seu IPO, a impressão que se tem é de que ela convenceu definitivamente o mercado sobre o seu potencial. Seja como for, o fato é que essa narrativa tem funcionado. As pesquisas mais recentes mostram que, mesmo estando ainda nos primeiros meses do segundo semestre, os investimentos em startups feitos em 2021 já superam o acumulado do ano inteiro de 2020.
Mas a crença ferrenha em narrativas de crescimento já produziu muitos prejuízos e decepções em outros momentos históricos. Um dos maiores exemplos foi a chamada “Bolha da Internet”, quando qualquer site, criado em um fundo de garagem, vendia a narrativa de que conquistaria o mundo e rapidamente passava a valer mais do que a General Motors, por exemplo. Essa revisitada ao passado permite ampliar a abrangência da observação sobre o momento atual e colocar o crescimento das startups em seu verdadeiro contexto.
A questão do IPO, por exemplo, não deve ser aceita como carimbo de qualidade definitivo. Basta lembrar o estudo feito pelo economista Jay Ritter. Este professor da Universidade da Flórida analisou nada menos do que 7.713 IPOs feitos nos Estados Unidos durante 35 anos e sua descoberta foi alarmante, pois revelou que mais da metade deles trouxe retorno negativo num prazo de cinco anos.
O economista- chefe da Empiricus, Felipe Miranda, fez o mesmo no Brasil e descobriu que 45% de 169 IPOs na Bolsa brasileira ao longo de 15 anos tiveram rentabilidade negativa num prazo de cinco anos e deram prejuízo aos investidores.
Finalmente, um levantamento feito pela plataforma de investimentos Yubb constatou que apenas 20% das IPOs realizadas na B3 durante o primeiro semestre deste ano deram lucros até o momento.
É óbvio que o desempenho das ações na Bolsa não é um indicador definitivo sobre o potencial das startups, mas certamente, o fato de a oscilação destes papéis ser causada por uma série de análises independentes faz com que este seja um parâmetro que distancia o desempenho dessas empresas do reino das narrativas e o aproxime da realidade.
Por outro lado, uma abordagem muito imediatista pode levar um investidor a perder oportunidades de se beneficiar do sucesso de startups como Nubank, Stone, 99, Pagseguro, Quinto Andar e outras.
É fato que, de uma forma ou de outra, a dinâmica das startups acarreta um risco inerente e, neste sentido, a governança representa uma ferramenta de apoio na gestão destas incertezas.
Considerando que toda startup com potencial mínimo de sucesso já apresenta um business plan com fluxo de caixa de cinco anos, métricas financeiras e outros parâmetros estabelecidos, a governança fornece um olhar crítico e construtivo destes planos, sob a ótica da transparência das informações e capacitações dos investidores e idealizadores do negócio.
Longe do interesse de eliminar as narrativas românticas ou de engessar planos audaciosos e inovadores, a governança tem o mérito de permitir que se conheça a verdade dos fatos antes que seja tarde demais.
Sócio fundador da BR Rating, agência de classificação de risco de governança corporativa
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