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Opinião

- Publicada em 08 de Junho de 2021 às 03:00

As virtudes militares

Montserrat Martins
Lembro de um café com uma colega psicóloga, quando eu havia lançado o livro "Em busca da Alma do Brasil" e ela me perguntou: "Mas você acredita no Brasil?". Respondi com uma pergunta: "O que você acha mais difícil, flexibilizar uma rigidez ou organizar uma bagunça?".
Lembro de um café com uma colega psicóloga, quando eu havia lançado o livro "Em busca da Alma do Brasil" e ela me perguntou: "Mas você acredita no Brasil?". Respondi com uma pergunta: "O que você acha mais difícil, flexibilizar uma rigidez ou organizar uma bagunça?".
Sendo uma conversa entre psiquiatra e psicóloga, ambos sabíamos a dificuldade em atender famílias rígidas, onde algumas tradições podem oprimir as pessoas e dificultar seu caminho para a felicidade. Os leigos talvez não saibam, mas a capacidade de ser flexível é uma das mais importantes para que um ambiente familiar permita a felicidade individual de cada um.
Na cultura brasileira, em comparação com outros povos, não falta flexibilidade, mas o seu oposto. É visível na sociedade brasileira a falta de organização, de planejamento, ao contrário de culturas mais disciplinadas, como a germânica, a britânica, a oriental.
A relação ambivalente dos brasileiros com a organização e a autoridade, que deveria zelar pelo planejamento, foi diagnosticada por Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil", onde analisa que somos avessos a autoridade, a disciplina e organização, mas que quando chegamos a uma situação caótica cedemos a algum tirano para lhe delegar poderes excepcionais. Temos ciclos de governos autoritários, a própria República foi decretada num golpe militar, depois veio a Revolução de 30, o governo militar dos anos 1960.
É hora de entender a importância simbólica das virtudes militares para a população brasileira, pois no nosso "inconsciente coletivo" (como diria Jung) está presente a necessidade de organização, disciplina e planejamento que nós não temos.
Um dos paradoxos do Brasil atual é que, com a fantasia de elegermos um capitão, na verdade elegemos um político que, analisando friamente, não carrega em si e nem pratica as virtudes militares. Começando por sua história pessoal, onde foi reformado (ou seja, expulso) do Exército por indisciplina e com uma péssima ficha militar, avaliado como ambicioso no mau sentido da palavra. Na verdade, se trata de um político, não de um militar, que de modo esperto conseguiu captar os desejos de grande parte da população por um discurso forte e que valorizasse os militares.
Na grave crise da saúde e da economia que vivemos, com quase meio milhão de mortos, desemprego e fome, vemos um populista fazendo passeios de moto e aglomerações, enquanto só 20% dos brasileiros estão vacinados. Um ano e meio depois do início da pandemia, seguimos sem as virtudes militares, como o planejamento, cuja falta na vacinação está sendo exposta na CPI da Covid.
Médico psiquiatra 
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