2020 foi um ano que, em termos geopolíticos, testou a capacidade dos líderes internacionais em lidar com uma crise que praticamente simula uma guerra biológica, a do coronavírus, juntamente com outros desafios diversos que se acumulam na arena internacional. Nesse cenário, o Brasil, a partir de sua política externa, deverá transpor algumas questões prioritárias. A nosso ver, essas questões podem se dividir da seguinte forma: 1) entorno estratégico; 2) EUA; 3) Europa; 4) China; 5) reputação internacional.
Em seu entorno estratégico, o Brasil deverá lidar com três pautas relevantes: a Amazônia, o Mercosul e a Argentina. No ano que se inicia, a tendência é de maior pressão, principalmente pela Europa e o novo governo americano, nas questões ambientais. A Europa pressionará, em grande medida, para atender o lobby de seus produtores rurais. No âmbito do Mercosul, o Brasil deveria marcar posições mais firmes, principalmente pela reforma da Tarifa Externa Comum, a pedra angular para maior competitividade do bloco. A Argentina assumiu na última reunião de cúpula do Mercosul, a presidência rotativa do bloco. Na relação com a Argentina, o Brasil deveria buscar canais mais pragmáticos.
Em relação aos EUA, a questão chave será a continuidade (ou não) do apoio americano para o ingresso brasileiro na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Outra incógnita será a relação entre os países no que toca a questão ambiental.
O principal desafio brasileiro no contexto europeu será o avanço do acordo Mercosul/União Europeia. O acordo ainda precisa ser aprovado nos parlamentos. A pressão em relação ao meio ambiente crescerá, principalmente por uma questão concorrencial, uma vez que o Brasil é player relevante no fornecimento mundial de alimentos.
A China seguirá sendo o principal parceiro comercial do Brasil. No mesmo passo, a discussão sobre as frequências do 5G será uma pauta importante em 2021. O mundo se dividiu em dois ecossistemas tecnológicos. Muitos pesquisadores denominam o cenário como uma "Guerra Fria Tecnológica". Ao Brasil, restará tomar posição dentro dessa "guerra".
Muitos países já imunizam seus cidadãos, enquanto isso, apesar de o governo brasileiro ter apresentado o seu programa de vacinas, ainda restam indefinições de cronograma, que se permanecerem, mancharão a reputação internacional do País, no primeiro semestre do ano.
Consultor de Relações Internacionais