Tenho um amigo chamado Manuel. Nós dois tivemos a oportunidade de crescer em famílias trabalhadoras, com valores sólidos e que nos proporcionaram uma educação de qualidade. Quando pequenos, fomos ensinados que nossas conquistas não caíam do céu e não eram concedidas como caridade por ninguém, mas sim oriundas do árduo trabalho de nossos pais, após muitos anos fazendo economias para nos proporcionarem vidas mais dignas.
Eu e Manuel divergimos rispidamente sobre o resultado da última eleição para a prefeitura de Porto Alegre. Eu, feliz com a derrota do comunismo; ele, inconformado. Manuel teve, ao longo da vida, todos os meios disponíveis de acesso à informação para conhecer o perverso e desumano histórico das práticas comunistas e socialistas em todas as partes do mundo - mas ele prefere desfrutar das benesses do capitalismo sem abrir mão de sua militância, já que adora frequentar um bom restaurante, ter um smartphone novinho, utilizar o transporte via aplicativo e proferir discursos sórdidos nas redes sociais.
A candidatura comunista porto-alegrense teve o apoio de mais de 300 mil Manuéis que declararam, por meio de seus votos, que o comunismo seria a melhor opção. Dados e fatos reconhecidos de ideologias que impõem um tolhimento das liberdades individuais e o planejamento centralizado da sociedade, e que contabilizam a morte e a pobreza de dezenas de milhões de pessoas ao longo da história, parecem não ser suficientes para aqueles que veem a liberdade alheia como uma ameaça.
Um dos principais argumentos da esquerda é que a pobreza é uma virtude, e que o capitalismo exclui os mais miseráveis. Ora, não há dignidade alguma na miséria, e a superioridade do capitalismo sobre o socialismo é indiscutível: desde 1990, mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo foram retiradas da pobreza extrema por meio de sistemas de trocas voluntárias e livre comércio, em que as massas têm seus problemas solucionados pela livre-iniciativa de cidadãos criativos e por trabalhadores.
O ressentimento e o ódio que o comunismo e o socialismo injetam em Manuel, disfarçados de altruísmo ou autossacrifício, contra quem entende que a liberdade é o único meio de prosperarmos na vida, acabam se tornando um amargo veneno contra a sua independência intelectual e contra a busca da felicidade pelos seus próprios meios. Pelo bem da humanidade, esperamos que os Manuéis sejam sempre minoria.
Empreendedor, associado do IEE e diretor da ACPA