A volta dos homens de preto

Início do século passado. É noite na Porto Alegre antiga. Patalear de cavalos. Vultos saem das sombras. São homens de preto. Vão assistir uma reunião para lembrar as ideias do filósofo francês Auguste Comte. E que ideias! Elas sacudiam portões de ferro!

A reunião validava a recusa, pelo governo do Estado, para a implantação de projeto inglês objetivando à instalação de usinas hidrelétricas no Rio Camaquã. Também o governo negava para a implantação do projeto Ahrons (hidrelétrica no Rio Jacuí de 20 mil kW; na época um colosso!) - ensina o historiador Gunter Axt. Além do que, colocara obstáculos à expansão de usinas elétricas municipais de Pelotas, Rio Grande, Santa Maria, Santa Cruz, Caxias do Sul, São Leopoldo e da Fronteira Oeste. (O poder econômico e político, centralizado, não permitia sua dispersão.). Pois, esses investimentos foram contribuir para a industrialização de São Paulo.

Ademais, naquela época, o mesmo governo se opôs à instalação de um imenso projeto turístico (multinacional) em Tramandaí. Rejeitado, ele foi embora para um pequeno e desconhecido balneário uruguaio denominado Punta del Este - onde foi construir hotéis, deslumbrantes loteamentos e um cassino.

Depois, o governo deixa escapar projeto que previa médicos e enfermeiros para o atendimento de saúde, a domicílio, de trabalhadores, familiares do município de Guaíba e vizinhos - abrangendo cerca de 25 mil pessoas. Hospital de 80 leitos. Era o projeto "Amazon Care" - encomendado ao Hospital Moinhos de Vento pela montadora Ford - que projetara se instalar no município de Guaíba! (Uma nova Gravataí, próxima à região metropolitana; um novo sonhado Rio Grande.)

Pena que, por ser uma empresa multinacional, os dirigentes da montadora tenham levado humilhante "chá de banco" em audiência com o governador (de esquerda) da época. Foram embora. Deixaram sombras lembradas nos sonhos de desenvolvimento do Rio Grande do Sul.

2020. É noite em Porto Alegre atual. Patalear de cavalos. Vultos saem das sombras. Ah! São os homens de preto. (Os caranguejos de sempre.) De novo!