J.J. Sebreli (1930), ensaísta de mente eruditíssima e língua afiadíssima, afirma que as ideias políticas de J.L. Borges eram as mesmas de sua mãe, Dona Leonor de Acevedo nas conversas mantidas com suas amigas na hora do chá. Sebreli, Oscar Masotta e Carlos Correas, na década de 50 constituíam um grupo de intelectuais sartreanos que não tomavam conhecimento da literatura borgeana. Era difícil para esses jovens politicamente sectários, munidos de um sociologismo vulgar e que buscavam a verdade, o bem e o justo, aceitar quem subordinava esses valores à estética pura. Borges não acreditava na história, ignorava a sociologia e a psicologia, se enfastiava com a política (não lia jornais) e censurava o sexo.
Desprezava Proust, desconhecia Thomas Mann e Musil. As artes plásticas e a música pouco lhe interessavam. Ridicularizava as muitas superstições argentinas, no entanto respeitava outras como as glórias militares e as árvores genealógicas. Embora se declarasse antifascista não se opunha às ditaduras militares tradicionais. Condenava o antissemitismo, mas não o racismo e até achava que a escravidão negra não era de todo condenável. Na verdade, o fascismo foi uma tentação para Borges não somente pelos autores que lia, como pelas pessoas que frequentavam o círculo de Victoria Ocampo da revista Sur, um deles o conhecido fascista francês Drieu La Roochelle, o qual, diga-se, mui amigo de Victoria, se suicidou no dia em que os Aliados libertaram Paris. Dois dos autores que mais o influíram, Leopoldo Lugones e Maccedonio Fernández, aderiram ao fascismo.
Em sua maturidade renegou o culto dos heróis e anti-heróis do século XIX, os quais acabaram se transformando nos sangrentos ditadores militares do século XX. Sua figura literária preferida a "da espada" foi a mesma de Lugones, o qual dizia que, em 1930, com a ditadura do general Uriburu “chegara a hora da espada”. E em sua viagem ao Chile, em 1976, elogiou os generais Pinochet e Vidella e, ao receber homenagens na Universidade do Chile, disse “que meu país está saindo das trevas por obra das espadas (...) e o Chile, que é uma espada honrada, já emergiu das trevas”.
Não obstante suas contradições políticas, a única vez que vivenciou uma guerra de verdade, predominou nele seu lado racionalista sobre seu lado heroico, belicista, irracionalista, repudiou as tentativas de guerra com o Chile e a louca aventura das Malvinas, gestos que atenuaram outras atitudes abomináveis do seu passado.
Enfim, Sebreli, generosamente afirma não contrariar totalmente Borges ao dizer que “a diferença entre o ceticismo e uma atitude racional e crítica é que no ceticismo a dúvida é um ponto de chegada e no pensamento racional é o ponto de partida, somente um meio para refutar o erro”.
Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras